A Força Mais Poderosa

41. A Lua de sangue

— Será que nós dois ainda seríamos da mesma Casa se estudássemos em Ilvermorny? — questionou Ben para Alexia dias depois, quando ainda estavam sobrevoando pelo sul dos Estados Unidos em direção ao México; ele não conseguia falar sobre outra coisa depois de ter conhecido a Escola de Magia e Bruxaria Norte-Americana. — Algo me diz que eu seria escolhido para a Serpente Chifruda.

— Impossível — retorquiu a garota. — A Serpente Chifruda é a Casa dos inteligentes.

— Engraçadíssimo — respondeu Ben. — Você é realmente engraçadíssima. Aliás, não sei como foi que nós dois fomos parar na Corvinal; com esse seu senso de humor, é óbvio que o Chapéu Seletor deveria ter colocado você na Sonserina!

— Não gosto de cobras. Quando cheguei a Hogwarts, a primeira coisa que eu disse para o Chapéu Seletor foi: se me colocar na Sonserina, eu te rasgo. 

— Pensando bem, agora eu sei qual seria sua Casa em Ilvermorny — disse Ben, apoiando o pé sobre o assento da carruagem. — A dos pukwudgies resmungões. 

— Para a sua informação — revidou Alexia —, a Casa Pukwudgie é considerada a representação do coração de um bruxo ou bruxa. Também é dito que a Pukwudgie favorece os curandeiros.

— Será que alguém já pensou em usar a flecha do pukwudgie para fabricar uma varinha? — Ben se animou repentinamente; ele puxou a mochila e começou a procurar pela flecha que havia guardado. — Acho que seria uma boa ideia.

— Essa é uma ideia horrorosa! Você devia jogar esse negócio fora; é até perigoso você guardar isso. Os pukwudgies possuem uma poderosa magia própria, as flechas deles são venenosas e letais; você viu o que aconteceu com aquele esconde-esconde. Os bruxos em Ilvermorny costumam usar outros núcleos, tipo cabelos de pumaruna, cordas de snallygaster, chifres de jackalope, essas coisas. Para onde estamos indo? — questionou a garota incomodada, ao observar o horizonte. 

— Vamos arrumar um lugar para pousar — anunciou Gustavo. — Precisamos de um quarto para passar a noite.

— No meio dessas nuvens aí à frente? Eu não quero entrar em nuvens de novo! 

De uma hora para a outra, eles estavam cercados por uma névoa branca tão espessa que tinham perdido completamente a visão da paisagem ao redor; Gustavo ainda tentou observar alguma coisa pelo lunascópio, mas até as montanhas pareciam ter ficado mais distantes, cobertas pela bruma até o topo.

— É a neblina — ele constatou preocupado. — Devemos estar próximos do litoral.

— Por quê? — Alexia se dirigiu à janela, irritada. — Não devíamos estar seguindo na direção contrária?

Aos poucos, eles foram recuperando a vista e, quando menos esperavam, perceberam que estavam fazendo justamente o que Gustavo mais temia: sobrevoando o alto-mar, num cenário onde só havia o Sol, o mar e o céu azul.

— Não dá para ver nada pelo lunascópio — informou o rapaz. — O Tenebrus mudou o curso; acho que ele está sendo atraído para a rota do Triângulo das Bermudas!

— Não podemos deixar! — desesperou-se Ben. — Nós vamos desaparecer!

Em pouco tempo, os três estavam na popa da carruagem gritando desesperadamente com o testrálio para que ele retomasse o caminho em direção à fronteira com o México, enquanto o animal insistia em seguir em frente e em linha reta, sobrevoando o oceano.

— TENEBRUS! Volte para o México! Vamos para as pirâmides!

Mas nada do que os três falavam ou faziam era capaz de fazer o testrálio retomar o trajeto pelo continente, até que Gustavo puxou a varinha do bolso traseiro e começou a golpear os varais. O testrálio tornou a subir; gradualmente foi ganhando altitude até ficar alguns metros acima das nuvens, partindo em busca do encontro entre a terra e o mar. Quando o Sol estava começando a descida para o poente, eles finalmente conseguiram distinguir a paisagem sobre a qual sobrevoavam conforme a imagem das cidades abaixo iam desaparecendo de vista.