12. De volta a Londres

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Gustavo Branstone acordou preocupado na manhã de seu aniversário de vinte e dois anos. Fazia dois dias que ele havia regressado a Londres, mas ainda não tinha conseguido reunir coragem para falar com o seu chefe, Barnabás Cuffe, o editor do jornal Profeta Diário, para o qual trabalhava como fotógrafo havia quase um ano.

O motivo da sua preocupação tinha um nome: prestação de contas. Cuffe tinha lhe concedido, em outubro do ano anterior, uma oportunidade única na carreira: fazer a cobertura do Torneio Tribruxo, uma competição que já não se realizava havia séculos entre as principais escolas de magia da Europa. Gustavo, embora tivesse ficado praticamente todo o ano letivo encastelado numa hospedaria em Hogsmeade, sabia que o seu desempenho não havia sido, nem de longe, satisfatório. Meia dúzia de fotos na abertura do torneio, uma e outra durante as tarefas, e nada mais.

Na verdade, a experiência de Gustavo nesse torneio foi tão ruim que ele já tinha inclusive planos para mudar de emprego. No decorrer das tarefas ele conheceu Ludo Bagman, o chefe do Departamento dos Jogos e Esportes Mágicos no Ministério da Magia, e era com ele que Gustavo conversaria assim que resolvesse as suas pendências com o Profeta Diário.

Mas era justamente este o momento que não podia mais ser adiado. O trabalho durante o torneio não havia lhe rendido lucro e nem prejuízo; os míseros galeões que lhe restaram, fruto de suas fotos publicadas, foram suficientes apenas para cobrir a estadia de um dia no Caldeirão Furado, o bar e hospedaria onde costumava morar quando estava em Londres. Ele não tinha mais dinheiro nem para se alimentar pelo resto da semana e agora teria que recomeçar do zero. Por esse motivo não podia mais esperar para falar com Cuffe, por mais que quisesse pular este episódio de sua vida.

Àquela altura, ele já havia repassado mentalmente várias vezes o que iria explicar ao chefe: não havia eventos no torneio todos os dias, e o espaço de tempo entre uma tarefa e outra era muito grande. Além disso, houve contratempos, e a equipe do Profeta Diário foi proibida de entrar nos limites do castelo de Hogwarts. O que ele não sabia era se Cuffe aceitaria essas explicações; enquanto ele ficava comportado no seu canto aguardando as tarefas do torneio, Rita Skeeter, a repórter que estava com ele em Hogsmeade, dava muito lucro ao jornal publicando fofocas mentirosas quase diariamente ao seu próprio estilo.

Ele sentiu o coração falhar uma batida logo que chegou à porta do escritório do Profeta Diário, quando viu Penélope Clearwater, a bruxa-recepcionista, que recebia os recém-chegados com um radiante sorriso que lhe rendiam simpáticas covinhas nas bochechas. Seus longos cabelos lhe caíam em forma de cachos largos sobre o busto, ornamentando perfeitamente com um belo arranjo de flores que havia sido colocado atrás do balcão de recepção.

No todo, Gustavo achava que era muita beleza reunida numa imagem só. De fato, ele se sentiu tão insignificante diante dela que, naquele momento, gostaria de poder passar despercebido. Mas Penélope, ao vê-lo chegar, saiu imediatamente de trás do balcão e foi recebê-lo pessoalmente com um carinhoso abraço.

— Gustavo, que bom ver você!

Às vezes, custava a ele acreditar que Penélope era a sua namorada.

Ele mal retribuiu o abraço e já olhou preocupado para a jovem que, com um quase imperceptível tom de desapontamento, respondeu à pergunta que estava estampada em sua testa.

— O chefe está na sala dele; você pode ir vê-lo agora.

— Claro, eh, eu vou — o rapaz disse encabulado e saiu rumo à sala do editor.

Sua sensação de imbecilidade não melhorou em nada o seu ânimo para conversar com Cuffe. Assim que entrou na sala, foi recebido com um olhar tão ameaçador que ele se sentiu como se tivesse acabado de entrar numa sala de execução.

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