A Força Mais Poderosa

28. A pretendente

A ventania violenta do fim de semana havia cessado, dando lugar novamente à estranha névoa que persistia desde o verão. Mas isso não afetou nem um pouco o humor de Edu no decorrer da semana; ele estava absolutamente feliz por ter conseguido finalmente se entender com Lauren, por quem tinha uma queda desde a primeira vez que a vira, aos onze anos de idade. Ben pôde se dar conta disso um dia, depois do café da manhã, quando, ao se levantar, o garoto lhe deu uma palmadinha nas costas e disse em voz baixa:

— Não sei o que você fez para distrair a Alexia no sábado, mas valeu.

— Pode chamar de sorte — respondeu Ben, mas Edu já tinha se adiantado até a namorada, pôs a mão em seu ombro e seguiu caminhando com ela em direção às masmorras.

Ben, que antes estava preocupado com o que aconteceria com o Fictícia caso Edu e Lauren terminassem o namoro, agora via-se diante da real possibilidade da banda emplacar de vez no mercado fonográfico bruxo. E isso não era uma coisa que ele podia deixar passar despercebida; era o seu futuro que estava em jogo.

Há dois anos, quando receberam a tarefa de tocar na abertura do Baile de Inverno, nenhum dos cinco amigos sequer sonhava com essa possibilidade. A experiência foi tão positiva que até a RRB se mostrou interessada pela banda por conta de uma matéria publicada no Pasquim, e a partir daí as coisas simplesmente começaram a acontecer e foram fugindo do controle. As suas músicas já eram executadas na rádio há um ano, e desde então eles tinham se tornado bastante populares em Hogwarts. Passaram até a ser convidados para as festinhas do professor Slughorn, que simplesmente babava em cima deles ao vê-los tocar.

O único impasse que havia agora era Kevin: o garoto tinha mais um ano pela frente em Hogwarts enquanto todos os demais integrantes estavam se formando este ano, e isso poderia, sim, ser um problema para a decolagem do Fictícia.

Nenhum dos outros colegas de Ben, porém, se mostrou ao menos preocupado com isso nas semanas que se seguiram, quando a neve começou a cair sobre os gramados do castelo com a aproximação do Natal. Edu e Lauren passavam muito mais tempo juntos agora; a única parte ruim disso foi que Ben passou a contar cada vez menos com a ajuda do colega para decifrar os enigmas da aldraba em forma de águia e, dessa forma, entrar na sala comunal da Corvinal tinha se tornado muito mais difícil. Kevin e Alexia simplesmente estavam mais interessados no bilhete misterioso que a coruja tinha deixado com Ben no dia do passeio a Hogsmeade.

— Por que será que ela entregou a carta em Hogsmeade? — perguntou Kevin, numa noite em que estavam reunidos na Sala Precisa ensaiando para tocar na festa de Natal de Slughorn, onde eles apresentariam uma música totalmente inédita somada às outras do próprio repertório. — Quero dizer, por que ela não levou a correspondência no Salão Principal, como fazem todas as outras corujas?

— Deve ser muito mais difícil entregar uma carta anônima em Hogwarts, agora que todas as corujas estão sendo verificadas — respondeu Ben, afinando um bandolim. — Sem contar que o Filch está fazendo varreduras em todo o mundo que entra e que sai do castelo para garantir que ninguém traga nada suspeito.

— Eu teria ido, se fosse você — opinou Alexia sentada em uma poltrona, examinando a ponta de sua varinha.

— De que jeito? — questionou Edu, as mãos ainda segurando as baquetas, sem parar de lançar olhares sorrateiros para Lauren. — Pelo que eu vi, o aviso não tinha data e nem horário, só o local. Muito vago, muito estranho. Além do que, as corujas das neves geralmente têm olhos âmbar, e essa vocês disseram que tinha olhos azuis.

— Corujas das neves têm olhos âmbar — repetiu Alexia com desprezo. — Que diferença faz? O que importa é descobrir quem está querendo se encontrar com o Ben.