18. Visto e imprevisto

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As nuvens logo encobriram o Sol depois da sua rápida aparição ao amanhecer, mas nem o tempo indefinido e nem a queda de temperatura foram capazes de abalar a felicidade de Penny nos dias que se seguiram. Cada segundo que se passava era ansiosamente contado como menos um momento de espera para reencontrar Gustavo, e ela mal podia esperar para vê-lo a cada vez que terminava o expediente na redação do Profeta Diário.

As semanas seguintes vieram acompanhadas de uma chuvinha constante, fria e nevoenta, que fazia com que os contornos das pessoas paradas em grupos pelo Beco Diagonal parecessem esfumados. Ao fim da tarde de uma quinta-feira, Penny desceu a pequena escadaria de pedras para esperar Gustavo como de costume, mas, ao se encolher num canto isolado sob uma sacada que pingava abundantemente, reparou num rapaz ruivo que vinha em sua direção, virando para cima a gola das vestes para se proteger do ar gelado de dezembro. Quando o rapaz finalmente a alcançou, Penny se assustou ao dar de cara com ninguém menos que o seu ex-namorado Percy Weasley.

— Eu preciso falar com você — ele disse apressado.

— Mas eu não quero falar com você! — retrucou ela.

— Penny, me escute, por favor — insistiu o rapaz. — Eu preciso alertar você sobre algo que você não sabe. É sobre aquele fotógrafo...

— Fala na cara, Percy — disse Gustavo, que aparecera de repente; Percy virou-se para ele, assustado. — Anda, pode falar!

Percy ficou muito pálido de repente; ele sentia o corpo tremer, e não era só por causa do frio.

— Não confie nele — disse, com a voz trêmula. — Ele sempre se ausenta nas noites de Lua cheia e anda com um frasco da Poção do Acônito na mochila... ele é um lobisomem!

Gustavo permaneceu imóvel. Depois, com esforço, virou-se para Penny, que perguntou:

— Foi você quem andou revirando a mochila dele?

— Isso não vem ao caso — retorquiu Percy. — Ele é extremamente perigoso; estou salvando a sua vida!

Gustavo forçou uma risada.

— Você está certo, Percy — ele disse com tranquilidade. — Aliás, eu teria mais cuidado comigo, se fosse você.

Fique longe de mim! — Percy deu um passo para trás, os olhos arregalados para Gustavo, e saiu tropeçando nos próprios pés pelo Beco Diagonal.

Penny olhou para o namorado, parecendo preocupada.

— Você não devia ter feito isso — ela disse. — Não devia ter admitido isso para ele...

— Ele já tinha descoberto, não é? — contestou Gustavo. — Eu não tinha muito o que fazer. A minha única opção agora é sair do Caldeirão Furado.

— Quê!? — assustou-se Penny. — Ele não vai contar para o pessoal da hospedaria — ela disse com convicção, mas depois olhou para Gustavo, preocupada. — Ou vai?

— Não temos como ter certeza. Mas é melhor que eu saia antes que mais alguém descubra; se começarem a correr boatos, o Tom vai querer saber, e ele não pode colocar em risco a vida dos outros hóspedes. Terei que arrumar outro lugar para ficar.

— Mas onde, Gustavo?

— Ainda não sei — o rapaz suspirou pesadamente. — Talvez Hogsmeade; é longe, mas lá tem a Casa dos Gritos onde eu posso me esconder. Se nada der certo, o máximo que pode acontecer é eu ter que voltar para a casa da minha mãe.

— Mas assim nós vamos acabar nos separando de novo, e é exatamente isso o que ele quer!

— Eu sei, mas é o único jeito — Gustavo disse com amargura. — Se descobrirem sobre mim, vão me demitir do Profeta Diário, o Ministério da Magia há tempos parece que não quer manter uma boa relação com semi-humanos; há uns dois anos, aprovaram um projeto de lei contra lobisomens que torna quase impossível para alguém como eu arranjar um emprego.

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