42. A revelação

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Uma das coisas mais difíceis de estar num país estrangeiro e desconhecido não foi a barreira com a língua ou a localização, como Gustavo tinha imaginado a princípio. O maior problema que encontraram, sem dúvida, foi tentar achar uma coisa da qual eles não faziam ideia do que se tratava. Afinal, “intento” e “fonte” eram palavras muito vagas e abstratas para quem tinha um país inteiro para vasculhar — aliás, nenhum deles fazia ideia de quão grande era o México e, conforme o tempo ia passando, eles se viam obrigados a cada vez mais se virar com o pouco de dinheiro que ainda restava, hospedando-se em pousadas cada vez mais baratas e se alimentando com pães cada vez mais secos, além de comer os abacates que colhiam pelo caminho.

Eles passaram meses vasculhando, sem sucesso, todas as pirâmides de Chichén Itzá — uma cidade arqueológica que fica no Estado de Iucatã e que foi a antiga capital da civilização maia —, onde podiam ter acesso a várias estruturas do México antigo.

— Se nada der certo, vou arrumar um emprego de varredor de pirâmide — disse Ben no último dia do mês de janeiro, exausto depois de ter ficado o dia inteiro procurando por algo suspeito na pirâmide de Kukulkán. Àquela altura, eles já tinham revirado todo o Templo de Chac Mool, a Praça das Mil Colunas e o Campo de Jogos dos Prisioneiros.

— Chichén Itzá não é a única cidade onde podemos ver as ruínas da civilização maia — disse Alexia. — Ainda podemos visitar Tulum, Teotihuacán ou ainda as ruínas de El Caracol, no Belize...

— Quantas pirâmides existem no México, afinal? — reclamou Ben. 

— O Belize é outro país! — replicou Alexia. — Caramba, vocês não sabem nada mesmo sobre o México...

— O que eu quis dizer foi: para que esses maias construíram tantas pirâmides?

— Para servir como templos para os sacrifícios, prisões e até mesmo como calendários... Se você reparar na lateral das escadarias, a pirâmide tem uns detalhes triangulares que a cada equinócio fazem com que as sombras lançadas pelo Sol criem a ilusão de uma serpente gigante rastejando pelos degraus. Vocês realmente não pesquisam nada antes de vir?

— Que droga! — exclamou Gustavo de repente, após olhar o lunascópio por uma das janelinhas do interior da pirâmide, fazendo os dois se calarem de susto. — Está escurecendo e a pousada fica a quilômetros daqui! Se ainda tivéssemos a carruagem...

— Esqueça a carruagem; podemos aparatar! — resmungou Alexia. — A missão do testrálio era nos trazer ao México; ninguém avisou que ele precisaria nos levar de volta. Se ao menos vocês não fossem tão burros...

Ben e Gustavo se entreolharam; eles sacudiram as cabeças, viraram-se e os três começaram a descer, frustrados, os degraus de pedra rumo à saída. Tinham chegado ao lado de fora quando Ben fixou o olhar num ponto atrás da parede da pirâmide, no lugar onde havia a escultura da cabeça de uma serpente; ele se apressou até o local e disse:

— Gustavo, você poderia vir até aqui? Acho que encontrei uma coisa...

O rapaz se dirigiu até onde ele estava, mas não demorou muito para perceber que o garoto não tinha encontrado nada especial; ele apenas queria desabafar sobre Alexia.

— Já está na hora de dizer que eu avisei? — murmurou.

— Eu não tenho tempo para isso agora — Gustavo sussurrou inquieto. — Vê se dá um jeito de ir para a pousada sem mim; eu não posso voltar com vocês. Para ajudar, hoje teremos uma Lua azul; não significa nada especial, é só porque é a segunda Lua cheia do mês, e por isso eu terei que passar a noite fora. De novo.

— E então, qual vai ser a desculpa? Só para nós dois falarmos a mesma língua. Da última vez, eu falei pra ela que você ia passar a noite vasculhando, mas aqui não tem mais nada para procurar.

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