47. O chamado da AD

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A sra. Branstone aplicava um unguento verde de cheiro azedo nos ferimentos de Ben. Em seguida, com acenos de varinha, tentou fechar os profundos cortes em sua perna dilacerada. 

— Não tem feitiço que resolva — concluiu ela, fazendo surgir ataduras nas quais envolveu a coxa do garoto. — Nem se eu tentasse tudo o que sei; não há cura para mordidas de lobisomem. São ferimentos malditos, é muito provável que não cicatrizem totalmente.

— Obrigado — disse o garoto, recolhendo com dificuldade a perna atada; depois virou-se subitamente para a sra. Branstone e exclamou: — A senhora é uma curandeira!

— Não consegui ser. Eu me casei muito nova e não pude seguir uma carreira, fui me dedicar à casa e aos filhos. Depois que o meu marido morreu, comecei a trabalhar em casa como preparadora de poções por encomenda; assim podia ganhar alguns trocados sem abrir mão de cuidar das crianças.

— Pois deveria pensar sobre isso agora...

— E você deveria procurar o hospital — retorquiu a sra. Branstone. — Não sei como foi que conseguiu sobreviver com um ferimento tão grave! — Ela suspirou profundamente. — Quero que me escute: você não pode ficar aqui. Você foi atacado por um lobisomem em plena Lua Cheia, e aqui não tem espaço para mais um. Você tem que procurar a casa do seu pai ou outro lugar para ficar.

Ben assentiu sem se descontrolar. Em seguida, virou a cabeça para a sra. Branstone, trocando com ela um olhar silencioso que mantinha o que ela acabara de dizer.

— A senhora está certa — disse ele por fim. — Eu vou embora hoje mesmo; não quero mais causar problemas.

Ao anoitecer, Ben estava caminhando quase sem dificuldade até a saída da casa dos Branstone quando encontrou Gustavo sentado junto ao poço, os braços sobre os joelhos, os olhos apáticos contemplando o quintal fracamente iluminado. Pelo seu estado já devia estar ali por horas, e parecia que não iria querer sair tão cedo. O garoto largou a mochila no chão e se sentou ao lado dele. 

— Talvez não tenha sido uma ideia muito boa a gente ter feito essa viagem... — disse Ben.

Gustavo virou a cabeça. Desejou que fosse mentira o fato de ter causado tanto mal a tantas pessoas.

— O que pretende fazer agora? — foi a única coisa que ele conseguiu dizer.

— Acho que primeiro vou procurar o St. Mungus, depois eu decido para onde ir. A prioridade é resgatar o meu pai; eu só preciso de um lugar para descansar por hoje, e aqui não tem espaço para mim.

— Ah, pare com isso... — disse Gustavo; sentia a culpa por Ben estar naquela situação por causa dele e sabia que tinha obrigações para com o garoto; não podia simplesmente deixá-lo abandonado à própria sorte. — A minha mãe está acostumada com isso, imagina que ela vai...

— Foi ela quem me disse — interrompeu-o Ben calmamente.

Gustavo pôs a mão na testa e sacudiu a cabeça, bufando irritado.

— De qualquer forma, tenho que encontrar um lugar seguro para guardar o cristal — prosseguiu Ben. — Não posso ficar com isso no meu bolso até entender direito como ele funciona; eu já causei problemas demais. Acho que vou guardá-lo no meu cofre no Gringotes, bem longe de mim. Sabe de uma coisa? É isso mesmo o que eu vou fazer! — Ele tentou se levantar, mas sentiu a perna travar. — Será que você podia me dar uma ajuda?

Gustavo se levantou e estendeu-lhe a mão. Os dois se despediram e Ben partiu, levando consigo a varinha do Comensal da Morte que o rapaz conseguira desarmar. Gustavo se dirigiu ao porão; não iria se transformar naquela noite, mas, se pudesse, não sairia mais de lá por um bom tempo.

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