33. A coruja acaçapada - Parte 2

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Mas Ben sabia que não precisava de ajuda. Trocou-se rapidamente e, quando deixou o vestiário, percebeu que a multidão já estava deixando as arquibancadas para comemorar — ou lamentar — nas salas comunais.

Ele hesitou à porta do Salão Principal lotado, e descobriu que não estava com um pingo de vontade de decifrar o enigma da águia e encarar um bando de gente que mal conseguiria olhar na cara do “panaca que levou trinta gols” ou sabe-se lá que nome usariam. A única vontade que tinha era a de fugir de tudo; quando dessem pela sua falta, ele já estaria longe...

Alguma coisa dentro dele urrava de fúria, e ele resolveu sair sem rumo pelos jardins. Foi só ele colocar os pés para fora do castelo, viu uma coruja branca voar em direção à Floresta Proibida. Decidiu segui-la; não era a primeira vez que uma coruja branca aparecia nos lugares mais inoportunos. Seguiu então em direção à Floresta e descobriu que Filch se esquecera de trancar a porta de entrada do castelo. Escancarou-a e inspirou o cheiro de ar puro e grama por um momento, antes de descer as escadas e sair para o gramado ensolarado.

Foi quando chegou ao último degrau que viu novamente a coruja branca empoleirada num galho de uma velha árvore na orla da Floresta Proibida. Aproximou-se dela; a coruja voou por entre as árvores floresta adentro, mas Ben ainda podia distingui-la entre a penumbra esverdeada. O garoto levantou o braço em arco por cima da cabeça à medida que se aprofundava na Floresta, até que se aproximou da clareira onde Hagrid criava os testrálios e a coruja finalmente planou à sua frente. Em seguida, pousou farfalhando as asas rapidamente até que se transformassem numa longa capa, ao passo que a ave se erguia e se endireitava até assumir o tamanho e a aparência humana.

O olhar do garoto lentamente se ergueu e se deparou com uma mulher de cabelos longos e olhos excepcionalmente azuis como os da coruja. Por alguns segundos eles se encararam, então a mulher deu um passo à frente, enquanto Ben recuou; tinha visto aquela mulher uma única vez em toda a sua vida...

— Eu não acredito! — berrou ele. — Você!

E ele levou a mão às vestes à procura da varinha.

— Pare — pediu Roxana. — Não tenha medo. Eu só quero conversar. Eu finalmente consegui concluir os rituais para me tornar um animago, você tem ideia do quanto eu me sacrifiquei para isso? São procedimentos extremamente complexos; a pessoa tem que estar em desespero, e eu só consegui concluir o processo porque eu preciso muito falar com você. Por favor, não vá embora.

Ben a encarou receoso. Sabia que aquela mulher era uma assassina e não tinha certeza se devia ouvi-la, mesmo que ela tivesse passado trinta dias com uma folha de mandrágora na boca só para conseguir falar com ele.

— Eu não vou lhe fazer mal — insistiu Roxana. — Esperei por isso durante dezessete anos; só quero que escute o que eu tenho a dizer.

Ofegante, o garoto balançou a cabeça e se sentou no tronco de uma árvore caída; Roxana fez o mesmo.

— Ben... Posso te chamar de Ben?

— Você é quem sabe. O meu pai nunca me chama assim.

— Aquele inútil...

O garoto virou-se para a bruxa, surpreso; sem dúvida, a conversa estava ficando cada vez mais interessante.

— Como assim? — perguntou ele. — Não foi você quem o envenenou com uma Poção do Amor e depois matou a esposa dele?

A expressão de Roxana não se alterou; por um longo momento, ela apenas esfregou as mãos cabisbaixa, sem nada dizer.

— Eu vou lhe explicar tudo — falou ela por fim. — Eu nunca quis fazer mal a você nem a ninguém; o seu amigo goleiro vai ficar bem.

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