A Força Mais Poderosa

48. O portal para a vida

À sombra dos pinheiros e ciprestes que cercavam o jardim, seguindo em direção à colina de Chapultepec, era possível contemplar o palácio de verão do Imperador, para onde cinco sacerdotes seguiam em procissão em direção ao templo, observados por uma multidão. No centro do cortejo, como figura principal, caminhava um belo adolescente de feições perfeitas e formas impecáveis que, diferentemente dos demais habitantes da região, tinha cabelos dourados como o Sol, e seus olhos eram da cor do céu.

Suas mãos estavam cruzadas contra o peito; numa delas, trazia um espelho cristalino e fumegante onde se refletiam o mundo e as criaturas, e, na outra, uma flauta. Personificava a figura do próprio deus Tezcatlipoca, o poderosíssimo e belo deus da Eterna Juventude, do céu noturno, da Lua e das estrelas; senhor do fogo e da morte. Representava, naquele momento, a beleza que nunca se apaga e a juventude que jamais se acaba, de modo que todos ali o invejavam.

O cortejo se aproximava da parte mais alta do templo. O adolescente começou a subir as escadas; ao chegar ao topo da pirâmide, quatro dos sacerdotes o ergueram no ar e o colocaram sobre a pedra dos sacrifícios. Uma vez deitado, começou a sentir o ar ficar cada vez mais rarefeito, e passou a observar o quinto sacerdote erguer a faca de obsidiana.

A multidão de repente se calou, e um grande silêncio que parecia descer das montanhas cobriu o vale inteiro; o único som que se ouvia era uma nota grave que emanava da flauta, embora ninguém a estivesse tocando. Num gesto rápido, o carrasco golpeou o peito do moço; no momento em que a faca o tocou, o cristal espelhado e fosco emanou uma luz intensa que o envolveu, cegando momentaneamente todos ao redor. Quando menos perceberam, a faca tinha se chocado contra a pedra, e a multidão, num delírio místico, rompeu a protestar e a gritar, enquanto o jovem acordava assustado e ofegante na enfermaria de um castelo, num lugar muito longe dali.

No mesmo instante, no pacato vilarejo em Ballycastle, a sra. Branstone acabava de desfazer o Feitiço Fidelius que protegia a casa, o que permitiu o reaparecimento do sr. Clearwater momentos mais tarde. Ele foi recebido pela filha com um abraço choroso e apertado.

— Calma — disse ele, afagando-lhe os cabelos. — Está tudo bem. Não foi tão ruim em Azkaban. Nem havia dementadores; a maioria deles se juntou a, bom, você sabe, estavam lutando ao lado dele. Além do mais, eu só fiquei uma noite e dividi a cela com Xenofílio Lovegood; o homem é uma figura, queria me ensinar tudo sobre zonzóbulos, narguilés e... Espere, — Ele olhou para os lados — cadê o Benjamin?

Gustavo abaixou a cabeça com pesar, incapaz de responder; as lágrimas voltaram a queimar os seus olhos.

— Foi atingido... na Batalha de Hogwarts - falou por fim. — Ele quis lutar... Queria trazer o senhor de volta...

O sr. Clearwater esfregou o rosto com as mãos com força e sacudiu a cabeça; seus olhos foram inundados pelas lágrimas. Era como se uma ferida incurável e dolorosa tivesse acabado de se abrir.

— Eu agi tão errado com ele... — disse Penny, chorando com remorso. — Eu nem o deixei conhecer a Adhara...

— Adhara? — O sr. Clearwater olhou para a filha e depois para Gustavo.

— Foi a sra. Branstone quem escolheu o nome — disse Penny, enxugando os olhos. — Ela cuidou de mim como se eu fosse uma filha.

A bruxa a abraçou. Em seguida, conduziu-os para o seu quarto, onde uma bebê envolvida num cueiro tinha acabado de acordar. Todos se abaixaram ao seu redor, observando-a; sem saber o que seria da sua vida dali em diante e como teria condições de dar uma vida digna a Penny e à filha, Gustavo sacudiu a cabeça e respirou profundamente.

— Penny, eu... sinto muito — disse ele. — Eu não devia ter deixado você sozinha; eu devia ter cuidado de você, devia ter cuidado do Ben. Eu prometi que iria lhe proteger, e quebrei a minha promessa...