50. O reencontro

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Quem passasse ao pé das montanhas escassamente povoadas da região das nascentes do Rio Amazonas provavelmente não veria nada além de uma floresta tropical completamente tomada pela vasta vegetação nativa, repleta de mosquitos e muitas árvores frondosas, além de uma grande infestação de víboras. A não ser, é claro, que você fosse um bruxo.

Isso porque cerca de cinco séculos atrás, temendo a chegada dos colonizadores espanhóis, o poderoso imperador da tribo que ficava no alto das montanhas andinas ordenou aos pajés que protegessem a cidade com os feitiços de ocultamento mais poderosos da época. Sendo assim, tudo o que restou aos aventureiros europeus foi a lenda do reino perdido de El Dorado, uma cidade toda feita de ouro puro e maciço que jamais foi encontrada. E que hoje, para alegria dos bruxos e bruxas do mundo todo ali presentes, recebia a quadricentésima vigésima sexta Copa Mundial de Quadribol.

Foi para o meio das ruínas de pedra da cidade perdida dos incas que Penélope e Gustavo Branstone, apesar de não serem torcedores nem do Egito e nem do Haiti, aparataram depois de longas horas de viagem.

— Não deve ter sido tão difícil para o Comitê de Quadribol acomodar toda essa gente — comentou Gustavo ao olhar ao redor, vendo milhares de famílias bruxas vindas de todos os lugares do mundo confortavelmente instaladas nas ruínas da antiga cidade, que tinham sido provisoriamente reconstruídas com magia e que agora apresentavam extraordinárias proporções internas, dada a incapacidade da grande maioria dos bruxos de conseguir deixar de se exibir quando se reúne.

Penélope passou a mão pelos cabelos, parecendo preocupada.

— Eu queria tanto entender por que ele sumiu desse jeito... — respondeu ela, que parecia cansada e apreensiva ao caminhar pela zona urbana da antiga metrópole, sem dar atenção à cidade que parecia reviver os seus dias de glória: no meio das montanhas, os templos, casas e parques estavam distribuídos de maneira organizada, abrindo ruas e aproveitando o espaço nas escadarias. Suas praças e mausoléus reais também estavam repletos de gente.

— Ele está magoado, Penny. Eu não esperaria que fosse diferente, depois de tudo o que ele passou...

— Eu sei — assentiu a bruxa. — Só espero que ele esteja disposto a nos escutar.

Os dois seguiram caminhando até atingirem o vão da floresta, onde foi montado o campo para a partida. Nenhum deles tinha ingressos para o jogo, mas isso pouco faria diferença. O único motivo que os levou até ali foi o fato de poderem acompanhar a saída dos integrantes da banda da cantora adolescente canadense Melissa Vandella, que se apresentaria num dos intervalos da partida.

Pararam diante das imensas paredes douradas que cercavam o campo e foram engolfados pela multidão de bruxos que passava em direção à entrada.

— É proibido aparatar e desaparatar dentro do estádio. Os campos geralmente têm duas entradas, uma para o público e outra para funcionários — explicou Gustavo. — Eu tenho experiência em ficar esperando do lado de fora, desde quando trabalhei como fotógrafo no Profeta Diário.

— Certo — concordou Penny. — Então acho que devemos procurar a outra entrada.

Eles foram caminhando ao redor das paredes do gigantesco estádio até encontrarem uma entrada discreta que, ao que tudo indicava, era a que eles estavam procurando, porque em pouco tempo alguns fotógrafos e jornalistas começaram a se amontoar por ali também.

Sentaram-se encostados na parede dourada e ficaram aguardando. Do lado de fora, apenas ouvia-se o som dos grilos e das cigarras gritando ao anoitecer, como se absolutamente nada estivesse acontecendo dentro daquelas imensas paredes, que eram obviamente enfeitiçadas para não deixar transpassar os sons.

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