Entre céticos e sensitivos

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O burburinho típico de uma pré palestra reverberava por todo o auditório, era baixo, mas audível o suficiente diante do imenso silêncio que se instalou naquela sala. Juliette se mantinha entretida em sua rede social favorita, imersa em um tédio tolerável, enquanto esperava a chegada da amiga, Giulianna Oliter. Quem deveria estar ali não era ela, mas sim a amiga. No entanto, como tinha o hábito fiel à pontualidade, a jovem se adiantou quinze minutos e escolheu bons lugares para a palestra que logo começaria. A semana de eventos na universidade não era novidade para os estudantes do quarto semestre, todos eram obrigados indiretamente a participarem de algum acontecimento durante os cincos dias, mas na situação presente, Juliette só estava ocupando um dos lugares do grande auditório a pedido da melhor amiga.

Uma permuta digna, Giulianna ressaltou. Acompanharia a amiga durante duas horas entediantes, e em troca, Giu conseguiria a entrevista com a chefe do estágio, acontecimento que Juliette tentava há algumas semanas exaustivas. Era como se nenhuma mulher no Rio de Janeiro quisesse ser vista como uma inspiração às outras mulheres. Mas com a troca justa que a amiga propôs, Juliette se desvencilhou do início de um surto que era não ter insumos para o seu trabalho acadêmico e se adiantou quinze minutos em uma tarde entediante cheia de palestrantes chatos.

— Desculpa o atraso.

A outra jovem se sentou ao lado de Juliette. Carregava uma bolsa e uma garrafa d'água, objeto que sempre levava em qualquer lugar, já que o hábito da vida saudável jamais a abandonava.

Giulianna era conhecida pela beleza inerente a sua existência. Os cabelos castanhos, mirando o loiro, eram naturais, e apesar de não se focar nos cuidados deles, sempre estavam impecáveis. Os olhos puxados havia herdado do pai, já a boca desenhada e desejada por metade do campus, foi obra da mãe.

Juliette não se achava feia, tinha uma autoestima alta, mas sabia que não tinha como competir com a melhor amiga. Giu era linda e gostosa, e além dos atributos físicos, carregava um carisma e personalidade admirados por quase todos que conhecia.

—  Não desculpo não, só tem engomadinho e patricinha aqui.

—  Como se no seu curso só tivesse gente bacana. —  Resmungou, se ajeitando na poltrona confortável. — Obrigada por ter vindo, e por ter escolhido esses lugares.

— Alguém tem que ser pontual nessa relação. Estava onde?

— Vim de carona, tive que esperar o abençoado.

— Por enquanto vou aceitar suas desculpas. Só me diz quem vai vir hoje.

— Acho que você vai gostar!

Um sorriso brilhante e cheio de dentes rompeu os lábios avermelhados de Giulianna, que se ajeitou melhor na poltrona, se inclinando á amiga.

— Eu te mostrei o banner, não mostrei?! Vai vir a diretora executiva daquela empreiteira, aquela famosa que tem vários...

Juliette não conseguiu evitar a cara de tédio com as poucas palavras de Giulianna. Era óbvio que aquele tipo de coisa não lhe chamava a mínima atenção, não conseguia entender como aquilo causava tanto amor à amiga.

— Poxa Juliette, pelos menos finja interesse!

— Desculpa, foi mal. Pode falar. Ela é uma executiva, e...

Giulianna respirou fundo e sem proferir uma palavra, deu de ombros e tomou um gole da água que carregava.

— Vai falar como o empoderamento feminino é importante em um meio machista e opressor que é o empresarial.

— Ou seja, veio dizer o óbvio.

— Ela ao menos é bonita.

Giulianna comentou, voltando os olhos para Juliette.

Fortuito - JunittaOnde histórias criam vida. Descubra agora