A perversidade de Anitta

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Era metade da manhã quando Jéssica estava sentada na sala de Anitta, com pilhas de papel em sua frente. A modelo encarava os papéis sem ter certeza do que fazer, não sabia se a executiva estava certa do que estava pedindo e não queria ajudá-la em algo que se arrependeria posteriormente. Jéssica estava indecisa.

Na noite anterior, Anitta tinha pensado com clareza e decidido algo que jamais passou pela sua cabeça anteriormente. Estava com medo, era claro que estava, mas com medo ou sem medo, precisava agir. E ela agiria, começando por Jéssica.

— Você tem certeza?

— Assina.

O tom de Anitta era sério e devido a falta de brincadeiras por parte da executiva, Jéssica imaginou que a mulher não estava blefando, nem mesmo em dúvidas do que estava fazendo. O que surpreendeu a modelo. Não imaginava, nem nos seus piores pesadelos, que Anitta fosse capaz de algo tão drástico. Ainda mais por conta de uma garota de vinte e dois anos.

— Isso é até ofensivo a minha pessoa, Ani. Mas eu assino.

Pegando a primeira pilha de papel, Jéssica passou a assinar os locais indicados por Anitta, sem ao menos ler o que estava escrito. Confiava na executiva de olhos fechados, não importava em que situação estivessem.

— Por que não a Hana ou a Vivi? Por que eu?

A pergunta era simples de responder, tão simples que até mesmo Jéssica era capaz de responder sem perguntar á Anitta. Sorrindo ao ver as assinaturas, a carioca deu de ombros, pensando na melhor forma de dizer sem ofender diretamente a modelo.

— É mais fácil explicar a um juiz que eu te comi do que explicar a amizade que eu tenho com as meninas. Qual você acha mais plausível? A mulher com quem tive um caso por dez anos ou duas mulheres que tiveram uma relação de amizade próxima e de trabalho? Se fosse uma das duas, era mais fácil me condenar.

— Você é perversa, Ani.

— Precavida. Sou precavida, Jéssica.

— Se fosse, não estaria precisando da minha ajuda pra livrar sua bunda gostosa de problemas.

Anitta riu, pois sabia que era verdade. Se fosse mais cuidadosa nas saídas com Juliette, não tinha pai justiceiro para dar conta, nem um bando de fofoqueiro para calar. Tinha cometido um erro. Um erro que custaria muito caro.

— Obrigada, Jéssica. Se não fosse por essas assinaturas, eu teria muitos problemas futuramente.

— Ainda acho que é uma má ideia.

— Você não é muito boa pensando em estratégias, então sua opinião não é tão valiosa.

Surpresa pela resposta maldosa, Jéssica se levantou e buscou um drink no mini bar da sala de Anitta. Se bem lembrava, o whisky estava intacto desde a última vez que tinha ido ali. Aquilo ativou uma curiosidade na modelo.

— Parou de beber? Seu whisky está intacto.

Anitta olhou a garrafa nas mãos da amiga, notando o alto nível do líquido âmbar. Fazia tanto tempo que não bebia no serviço, que até tinha se esquecido da existência do álcool na sala.

— Acho que diminui um pouco o consumo aqui no trabalho. Não é nada demais.

— Tem um cigarro?

— Tem uma carteira intacta na minha gaveta, pode levar. Estou parando com o cigarro.

Jéssica a encarou incrédula. Teria ouvido mesmo aquilo ou era sua imaginação?

— Você? Parando de fumar? Desde quando, Ani?

Anitta não sabia dizer exatamente. Quando tinha sido a última vez que fumou? Não fazia ideia. Talvez algumas semanas, ou alguns dias. Era um buraco na sua memória, que nem forçando o cérebro conseguia recordar com exatidão. Dando de ombros, a executiva pegou as pilhas de papéis, procurando a pasta que antes habitavam.

Fortuito - JunittaOnde histórias criam vida. Descubra agora