Última vez

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Anitta estava totalmente imersa no trabalho. As coisas com Ohana não estavam nos melhores dias, uma vez que as discussões não ficaram somente na situação do flat. A executiva precisava manter segredo sobre seu plano, e por isso implorou pelo silêncio de Viviane, que mesmo contra o pedido, aceitou.

Após a discussão com Juliette, Anitta não fazia ideia de como a estudante poderia estar. A única informação que soube após aquela situação catastrófica, foi quando chegou uma notificação do banco, falando sobre uma compra no cartão que tinha dado a Giulianna. A executiva não fazia ideia do que a estudante tinha comprado, mas também não se importava. Tinha pedido para Giulianna usar sempre que fosse necessário, então deveria ter sido.

Mesmo com a equipe de segurança dia e noite protegendo o bem estar da jovem, Anitta achou melhor não saber muita coisa sobre Juliette. Ela estando segura e bem já era o suficiente para a executiva não se afundar em uma tristeza profunda. Por outro lado, os vícios em nicotina e o álcool tinham voltado com tudo.

Quando não passava mais de oito horas líquidas trabalhando no escritório da empresa, estava enchendo a cara em casa até perder a consciência e acordar com Michael lhe dando analgésico e dizendo que já estava na hora de irem trabalhar.

Se em uma semana estava daquela forma, Anitta se sentia desesperada em pensar numa vida inteira pela frente sem Juliette. Aquilo era sofrimento demais. Anitta sentia que não dava conta, pensava até mesmo em recuar com o seu plano. Se desse certo no final, o que faria se não tinha mais a estudante para lhe dar apoio.

— Eu tô morta de saudade, Ju.

Olhando o Rio de Janeiro da janela do escritório, Anitta bebia mais uma dose de whisky. O coração estava totalmente quebrado, sem chances para reparo. Precisava achar alguma forma de contornar aquilo, apesar de achar que precisava deixar Juliette viver a vida em paz, com alguém que não lhe causasse dor, como ela tinha causado.

(...)

Juliette fingia muito bem que a vida não estava uma bagunça, mas aquele fingimento passava despercebido por todo mundo, menos a melhor amiga. Para os colegas de faculdade, a antiga Juliette estava de volta, a Ju das festas, do barzinho depois das aulas, a que paquerava os colegas só por diversão. O que aquelas pessoas não sabiam, era que a paraibana dormia toda noite usando a jaqueta que Anitta tinha esquecido no apartamento, quando passaram a primeira noite juntas, depois da estudante saber sobre o casamento falso.

Seu coração estava dilacerado. Estava com saudade de Anitta, tinha pedido para Deborah mentir ao pai sobre as descobertas feitas pela jornalista e ainda tinha que lidar com o estágio. Depois de faltar ao trabalho por quatro dias consecutivos, Juliette decidiu ir até a empresa para pedir demissão. Não trabalharia no mesmo lugar que Anitta, e até temia por um encontro com a executiva enquanto estivesse lá para conversar com a administração.

Inventando uma desculpa qualquer para a responsável do RH, Juliette se desvinculou totalmente da Chetrit-Machado. Era estranho, e até mesmo angustiante saber que não voltaria àquele prédio nunca mais. Já estava tão acostumada com aquela rotina, sentiria falta de trabalhar ali. Sentiria falta de tudo que Anitta representava.

Entrando no elevador e esperando as portas metálicas se fecharem, ela encarou o painel com os botões dos andares, levando o indicador até o térreo, pronta para ir embora, no entanto, algo em seu coração gritava para ir até a carioca.

A verdade é que a forma como falou com a mulher na última vez que se encontraram, machucava a paraibana profundamente. Sabia que tinha se exaltado, falado coisas demais, coisas que se arrependia diariamente. Talvez ela e Anitta merecessem uma conversa melhor, um adeus melhor. Seu coração precisava de paz, e se para ter essa paz fosse preciso ir falar com a executiva, então ela iria.

Fortuito - JunittaOnde histórias criam vida. Descubra agora