Mais um para a conta

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Em silêncio as mulheres desceram juntas até o estacionamento do edifício. Juliette ainda estava receosa do que aconteceria dali para frente, sua mente trabalhava a todo vapor, mas não achava uma boa resposta para entender as motivações de Anitta em não surtar. Sendo sincera consigo mesma, sabia que as condições não estavam favoráveis para o seu lado, e entendia até se Anitta gritasse e desse um sermão de horas, mas a mulher não o fez.

Era um fato que não a conhecia tão bem, mesmo tendo passado as mãos por cada centímetro do corpo sinuoso. Mas sexo não significava nada, as poucas coisas que sabia sobre Anitta deixavam Juliette ainda mais confusa com a atitude da mulher. Ela seria tão fria ao ponto de fingir estar bem para levar Juliette a um lugar isolado e ameaçá-la? Não, a estudante não sabia dizer o porquê, mas acreditava que a mulher não faria aquilo.

— Meu carro está logo ali, espero que não se importe em dividir um carro comigo, como você já tinha pontuado há um tempo atrás.

O sorriso irônico ostentado no rosto cansado causou efeito contrário na universitária. Não tinha prestado atenção na aparência desgastada de Anitta até aquele momento. A mulher estava um verdadeiro caco. Os olhos possuíam olheiras profundas, a expressão cansada dominava o rosto bonito. Nunca a tinha visto daquela forma. Anitta não estava no seu melhor dia.

— Você vai dirigir?

— Vou. Se não se importa.

— E o Raul, onde está?

— Eu o dispensei.

A mulher deu de ombros, focando toda a atenção na bolsa que carregava no ombro. Ao ouvir o que Anitta disse, Juliette ligou o alerta novamente. Então Raul havia contado das suas perguntas e perdido o emprego? Ele era um senhor tão educado e gentil, Juliette não conseguiria lidar com o peso de uma demissão nas costas, ainda mais de alguém que a tratou tão bem e não tinha culpa alguma da sua curiosidade.

 — Você demitiu o Raul?

 — Demitir? O quê?! Não! Claro que não, Juliette. Eu dei uma semana de folga para ele, a filha teve um bebê e ele estava muito empolgado. Foi só isso. Você acha que eu sou uma vadia sem coração, mas estou bem longe de ser.

Anitta finalmente achou o que tanto procurava, tirando da bolsa cara a chave do carro esportivo que estava estacionado na vaga exclusiva. Diferente do carro em que pegou carona, aquele estacionado era um esportivo de dois lugares, tão caro quanto o outro. Anitta era mesmo uma mulher ostensiva.

Durante o trajeto, Juliette acabou direcionando alguns olhares discretos a mulher que dirigia em silêncio. As mangas da camisa social estavam arregaçadas até os cotovelos, naquela altura o tecido já se encontrava amarrotado. E mesmo estando com o semblante cansado e com olheiras terríveis, Anitta continuava linda. Sua beleza era de tirar o fôlego. A boca desenhada, os olhos intensos, as maçãs do rosto pareciam ter sido feitas por deuses. Uma mulher espetacular. Linda e uma grande idiota, mas uma idiota que transava muito bem.

Se Juliette se esforçasse, conseguia se lembrar do beijo que trocaram naquela tarde. As mãos de Anitta tinham um aperto firme, chegando até mesmo a deixar algumas marcas leves na pele da estudante. Ela estaria mentindo se dissesse que não foi delicioso ter aquelas mãos lhe puxando, da boca descendo pelo pescoço com beijos perigosos. Era bem vivido na memória da universitária, para sua infelicidade. Sabendo de tudo que Anitta possuía, de tudo que podia ter, Juliette se achava uma idiota por cogitar que a mulher pudesse sentir como ela sentia. Aquela altura, Anitta já devia ter dormido com outras pessoas, e que mal teria isso?

Também saiu com outras pessoas e teria saído até mesmo com Felipe se ele não fosse mandado para outro estado e voltado todo esquisito. Havia sido literalmente uma única vez e não significava nada para se importar se Anitta já tinha saído ou não com alguém, além do marido. A executiva era tão distante do homem, que às vezes Juliette desconfiava daquele casamento. Eles seriam tão reservados ao ponto de nem se verem no trabalho? Era esquisito, mas não um pecado condenável. Juliette sentia que devia parar de fazer tantas suposições sobre Anitta, quando a mulher não era nada sua.

Fortuito - JunittaOnde histórias criam vida. Descubra agora