Família Rocha

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Anitta chegou no prédio espelhado às quatro em ponto. Na mão carregava a pasta recheada de uma boa quantia de dólares e nos olhos uma fúria de deixar qualquer um tremendo. Entrou no saguão atraindo diversos olhares, afinal, não era todo dia que Anitta Machado aparecia para visitar alguém. Sem grandes problemas, a executiva subiu até o andar que desejava, andando a passos largos e firmes até a porta com uma placa de metal ridícula com o nome que procurava.

— Boa tarde, senhora, o que deseja....

Ignorando totalmente o rapaz que julgava ser assistente do homem que estava atrás da porta, a executiva invadiu a sala, odiando ter que ver aquela cena deprimente de Ronan se agarrando com uma mulher. Com o barulho dos saltos de Anitta, o casal se separou, assustados com a intromissão.

— Senhor, me desculpe, essa mulher chegou entrando e eu não consegui parar ela e...

— Faça o favor de dispensar esses dois imprestáveis dessa sala, Rocha. Agora.

O tom de voz de Anitta assustou o homem, que temendo o que era aquilo, pediu para que o assistente e a mulher com quem estava saírem. Tentando se arrumar do jeito que dava, o homem indicou a cadeira em frente a mesa, esperando que Anitta sentasse, mas ela não sentou.

— O que devo a honra, senhorita? Não sabia que andava fazendo visitas a nós, meros mortais.

— Sem gracinhas, seu infeliz do caralho.

— E por que o mau humor? Achei que estava bem feliz, já que o que corre por aí é que você arranjou uma nova... Diversão. Acho que posso chamar assim.

O tom irônico do jovem rapaz só fez com que Anitta se irritasse ainda mais, e para evitar cometer um homicídio ali mesmo, a mulher caminhou até ficar a um passo de distância. Os olhos castanhos cintilavam ódio e ao ver a mulher tão perto com aquele olhar fulminante, Ronan engoliu em seco com medo. Anitta notou e sorriu com aquilo.

— Vou te dizer algumas coisas, zero três.

O apelido famoso do rapaz saiu lentamente dos lábios da mulher. Não estava ali para brincadeiras, tampouco para blefar.

— Quem foi o dedo duro. O nome, agora!

— Não sei do que você está falando, Anitta.

— Sabe sim, eu sei que sabe, e se você tem amor ao seu dinheiro, me responda agora.

Engolindo em seco ao ser pressionado contra a parede, literalmente, Ronan assentiu com a cabeça decidindo dar a Anitta o que ela queria.

— Não foi muito difícil, sabe, você visitou a UFRJ mais vezes que os próprios estudantes. Não foi mais às reuniões, alugou um helicóptero só pra ir para Jampa, e quando estava naquela casa noturna, coincidência ou não, eu estava lá. Não sei o que a garota tem, mas deve ser muito bom pra fazer você ficar tão exposta a qualquer fofoqueiro de plantão. Na verdade, você foi muito sortuda por ter sido eu vendo aquilo e não um jornalista. Já pensou na merda que seria?

— E aí você sentiu a liberdade de dar com as línguas nos dentes pras pessoas. Acho que entendi.

— Não dei com a língua nos dentes, só comentei despretensiosamente com algumas pessoas.

— Algumas?

Aquilo saiu como um rosnado, assustando o rapaz. Talvez tivesse sido uma péssima ideia afrontar Anitta daquela forma.

— Nada que ninguém não suspeitasse. Quem é a garota?

— Eu vou ter que dizer algumas coisas desagradáveis, Rocha, algumas coisas que eu não queria estar dizendo. Você me conhece, sabe que sou uma mulher muito diplomática, mas quando estou irritada deixo a conversa de lado. Você não quer me ver irritada, quer?

Fortuito - JunittaOnde histórias criam vida. Descubra agora