Capítulo 85

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Lucinda não conseguia acreditar naquelas palavras, havia esperado por muito para ouvi-las, porém sentia um nó se formar em sua garganta, ao se recordar de todo o tempo que passou com o vampiro, e durante todo este tempo nunca o viu demonstrar tant...

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Lucinda não conseguia acreditar naquelas palavras, havia esperado por muito para ouvi-las, porém sentia um nó se formar em sua garganta, ao se recordar de todo o tempo que passou com o vampiro, e durante todo este tempo nunca o viu demonstrar tanta seriedade, pelo menos não sobre um assunto que não fosse sua vingança, e aquele olhar a fez estremecer. Sem saber o que dizer deixou as palavras saírem deu seus lábios sem perceber.

— Não se trata apenas da minha liberdade. — cruzou os braços tentando esconder o tremor que começou a sentir.

Durante muitos séculos havia desejado sua liberdade, por vezes implorou para que fosse livre das correntes invisíveis, mas Uriel sempre negou este pedido, não dava detalhes ou explicava o motivo apenas dizia que não era o momento, e agora diante seus olhos sem qualquer aviso decide oferecer isso de bandeja? Algo estava errado e Lucinda podia sentir isso em cada fibra de seu corpo imortal.

O que ninguém sabia ou desconfiava era que a vampira pretendia pedir mais uma vez a sua liberdade, mas não esperava que tal coisa partisse de Ivanov. O desejo de sua liberdade não era para romper laços, muito menos desviar das consequências que poderiam recair sobre ela, mas sim por motivos pessoais e profundos que ainda pareciam mal resolvidos em seu interior, não tinha certeza se conseguiria expressa-las ao vampiro.

Sempre desejou que este momento chegasse, mas agora que havia finalmente acontecido Lucinda percebia que não estava preparada para o mesmo, nem para as palavras e nem as nuances dos motivos por trás disso, fugia de tudo que havia previsto para tal ocasião. Encarando os olhos de Uriel com frieza por um longo tempo, à medida que o quarto mergulhava em um silêncio fúnebre sendo quebrado pelos passos da vampira até Ivanov que estava sentado na cama.

Uriel não esperava ter que fazer aquilo, mesmo que suas palavras fossem sinceras, tinha medo de dar a liberdade que Lucinda tanto queria, pois se o fizesse talvez não conseguisse protegê-la, porém sabia que talvez sua jornada pudesse terminar sem um final feliz... E jamais se perdoaria se a vampira fosse arrastada para o submundo, pois sabia que se existisse um inferno era para lá que seria enviado.

Ivanov se levantou com a aproximação de Lucinda, seus olhos estavam quase na mesma altura, a vampira inclinou a cabeça para ver o rosto de Uriel, ele sorriu tocando seu rosto. Tudo passava como um filme na mente do vampiro, a resposta dela os vários encontros deles que nunca terminavam bem, Uriel sabia que não seria fácil encará-la nos olhos, o vampiro a viu questionar o porquê de tudo aquilo tão de repente, como se lesse sua mente Ivanov respondeu.

— Consigo ver em seus olhos que esta se perguntando por que estou fazendo isso agora, certo? A resposta é simples e não deve ser surpresa para você que vivi, ou melhor dizendo sobrevivi todo este tempo por causa de um único propósito... Um objetivo que consumiu toda minha humanidade restando apenas um pequeno fragmento que resistiu apenas por sua causa. — o tom de voz de Ivanov era suave e tranquilo como se lembrasse de um passado distante que poderia quase se confundir com um sonho.

Uriel se recordou de quando a transformou, o motivo que o levou a fazer aquilo, mesmo sabendo o que ela se tornaria depois disso... É teria que conviver com aquela decisão.

— Não é de hoje que percebi o quanto é perigoso você ficar ao meu lado, perigos que talvez não consiga protegê-la... Quando Maquiavel a pegou tudo que queria fazer naquele momento era avançar contra ele, mas tinha certeza que a usaria contra mim, isso me fez entender que mesmo imortais podem morrer e serem esquecidos. Acredito de verdade que sua historia está longe de terminar.

Deixou seus dedos seguirem para os cabelos ainda úmidos de Lucinda, queria memorizar cada traço e detalhe dela em sua mente, pois talvez nunca mais a teria tão perto e palpável como naquele instante. Seu pensamento voltou quando ela havia passado pela transição, os olhos não eram tão fortes, não tinha tanta confiança, Ivanov se perguntou se sempre foram assim, ou apenas estava tão cego que não havia percebido. O vampiro não tinha como responder ao seu questionamento.

— Minha vingança se encaminha para seu desfecho final, e a possibilidade de que saia vitorioso é pequena, mas tenho aumentando minhas chances ao longo do tempo, para conseguir o que desejo talvez tenha que arriscar tudo, por isso não quero que você faça parte disso, Azrael ficará de olho em vocês duas, mas conhecendo você creio que não vai aceitar calmamente, por isso se for fugir sugiro que se esconda bem... Mesmo ele dizendo que não foi muito com a sua cara tenho a sensação que você despertou alguma curiosidade nele o que não me surpreende nem um pouco. — deu mais um meio sorriso antes de assumir sua postura distante.

De fato aquilo estava parecendo um adeus, Lucinda conseguia perceber isso em cada palavra dita por Uriel, a vampira sabia que Ivanov estava disposto até mesmo perder sua vida imortal para conseguir sua vingança. Por esta razão não conseguia entender porque ele queria poupá-la e porque agora?

— Lucinda. Quando era humano há muito tempo atrás, o que agora não passa de uma vaga lembrança do passado tive uma noiva... Você me faz lembrar ela em alguns aspectos, sempre guardei isso apenas para mim, pois lembrar sempre me fez sofrer muito. Porém apesar de tudo isso queria que soubesse disso, que a perda dela me machucou mais do que qualquer prata, ou estaca em meu peito, e essa dor seria ainda maior se perdesse você também.

Cada uma daquelas palavras atingia Lucinda como pingos frios de uma chuva gélida que perfurava sua pele como espinhos, era uma explosão de muitos sentimentos sendo liberados de uma só vez, enquanto Uriel falava os pensamentos da vampira vagavam em sua mente. Estava claro que o vampiro estava falando serio sobre sua liberdade, não havia sarcasmos ou brincadeiras nas palavras de Ivanov e isso foi sentido por ela como uma fecha perfurando seu peito.

Era difícil para Lucinda descrever, ou definir o que estava sentindo naquele momento, apenas uma certeza era absoluta... Não havia felicidade em saber que teria sua liberdade, se o custo dela fosse à morte de Uriel um turbilhão de emoções inundava seu interior. Apenas Lucinda sabia melhor do que ninguém o que aquela vingança causara a Ivanov o quanto o consumia dia após dia nesta sua caçada frenética por seu criador, o carrasco de sua historia maldita.

Uriel talvez não soubesse, mas Lucinda entendia sem compreender os motivos por trás de suas ações, pois o vinculo que possuíam não era apenas de mestre é servo, havia uma cumplicidade que não era medida por palavras doces, ou obediência cega. Porém nunca em todos os séculos de existência imaginou que ouviria Ivanov dizer tudo aquilo. Um mal agouro inflamou o âmago da vampira, com as palavras finais de Uriel, sobre sua noiva, sobre a dor que sentia e a preocupação de perdê-la também.

Afastou-se do toque de Uriel dando as costas para ele.

— Acha que é tudo tão simples assim? — perguntou por um momento ficando em silêncio deixando aquela questão no ar.

— Acha que é tudo tão simples assim? — perguntou por um momento ficando em silêncio deixando aquela questão no ar

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