~ Capítulo 23

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Anthony Doyle

Acordo já sentindo minha cabeça latejar, e a luz que entra pela janela faz meus olhos doerem. Levanto com dificuldade sentindo uma necessidade crescente de colocar tudo pra fora, tudo parece estranho e por segundo esqueço onde estou, assim identifico o quarto outra duvida aparece, ‘’como cheguei aqui?’’.
Depois de vomitar tudo que consumi na noite anterior começo a tentar puxar na memória o que aconteceu na noite passada enquanto tomo um banho pra tentar amenizar a ressaca e tirar o cheiro de bebida.

Consigo me lembrar de tudo até a hora que Tali me ajudou a entrar no carro, o resto se perdeu na minha cabeça.

Saio do chuveiro e visto uma calça jeans escura e uma camisa preta de manga longa, ainda é cedo e decido descer pra tomar café e tentar me hidrata um pouco, sinto como se eu tivesse passado 40 dias no deserto sem água de tão seco.

Assim que entro no refeitório começo a buscar Tali com os olhos, a vejo sentada em uma mesa no meio do vasto refeitório, alguém deve ter chegado no nosso canto primeiro, então pego minha bandeja com o meu café da manha e vou andando em direção a ela. Ela estava distraída lendo algum livro, vestida com uma calça jeans clara e um moletom branco que já a tinha visto usar antes, os cabelos presos em uma trança lateral despojada que deixava alguns fios caírem em seu rosto.

Quando sento na sua frente chamando sua atenção, ela me olha, um olhar diferente, parece que seus olhos brilham um pouco mais, e suas bochechas ganham um leve rubor.

- Bom dia. – fala e desvia o olhar pro livro de volta.

- Bom dia, minha cabeça está me matando, tem alguma coisa pra eu tomar? – falo e ela larga o livro e empurra um pequeno recipiente com comprimidos que eu não havia reparado que estava na mesa o tempo todo.

- Achei que precisar, você bebeu muito. – ela diz sorrindo largando o livro de lado.

- O que está lendo? – falo e ela pega o livro e me entrega.

- Sydney Sheldon, gosto dos livros dele. – ela fala enquanto eu analiso o livro a devolvendo logo em seguida.

- Tony... – Tali começa a dizer, mas o garoto da recepção do outro dia a interrompe.

- Senhorita Tali, eu não sabia se a informação te interessaria, mas decidi vir dizer mesmo assim, o Senhor Roger foi embora hoje mais cedo. Um pouco repentino já que ele ainda estava bem dolorido, mas acredito que por hora a senhorita não precisa se preocupar com tal incomodo que ele trazia, e também quero dizer que se necessário testemunharei a seu favor. – o garoto fala, mal parando pra respirar, Tali sorri pra ele e pega em sua mão.

- Fique tranquilo, não vai chegar a esse ponto. E obrigada pela informação. – diz e então ele ele acena para nós indo embora logo em seguida.

Fico esperando que Tali termine de dizer o que começou, mas ela simplesmente pega o livro e volta a ler, e quando de uma só vez ela fecha o livro eu levo um susto.

- Anthony ontem a noite... – ela começa, mas para e parece refletir sobre suas palavras.

- Diga, eu realmente não me lembro de muito, eu fiz alguma coisa? – pergunto e sua face muda, ela me olha confusa, como se não entendesse nada do que eu disse.

- Você não se lembra de nada?

- A última coisa que me lembro foi de você me ajudando a entrar no carro, depois disso é um borrão, olha eu não costumo beber a esse ponto, e nem esquecer, realmente não sei o que aconteceu... – digo e ela olha pro próprio prato, depois solta um riso incrédulo.
- Você não lembra... – diz em um sussurro

- Tali o que aconteceu? – falo a pressionando pra falar.

- Nada Tony, você dizia muitas coisas desconexas, eu te levei pro quarto e acabou, se você esqueceu não importa não é? – fala juntando suas coisas e se levantando. Seu rosto estava neutro de uma forma que não me deixa decifrar.

- Não vai terminar de comer? – pergunto antes que ela fosse de vez.

- Sem fome.

Mas que merda, aconteceu alguma coisa e eu não consigo lembrar. Levanto e vou atrás dela, aquela cara que ela fazia não é boa.

- Tali, o que raios aconteceu? Você está estranha e eu não vou descansar até descobrir. – falo quando a alcanço já na recepção.

Ela para, mas não se vira, de novo posso ouvir sua mente trabalhando até que ela se vira nos calcanhares, ela parece diferente de novo, como a Tali de sempre.

- querido você está muito nervoso por nada, eu queria te poupar do constrangimento sabe... – fala inclinando a cabeça pro lado e em seus lábios um sorriso de lado.

Ela se aproxima um pouco, mais de perto eu posso ver, ela sorri e se porta como sempre, mas nos olhos não tem o brilho de divertimento que sempre a acompanha quando ela fala comigo assim.

- Bem, mas já que você quer tanto saber... Você praticamente disse que eu sou uma deusa sabe, muito linda e inteligente... Foi isso, mas como você não diz isso sóbrio achei que era seu segredinho e guardei. – fala, me dando uma piscadela. - não estou estranha, só... Quero ficar um pouco sozinha agora.

Um teste, ela não resiste a provocação.

- Não sei se foi isso, talvez você tenha confessado que gosta de mim. – falo e nada.

Ela me encara, depois olha pra algum ponto na minha roupa, solta um riso leve que mal forma um sorriso em seu rosto, e então volta a me encarar.

- Tenho certeza que você adoraria isso, sorte minha você não se lembrar então. – Tali diz e começa a se afastar, mas dessa vez não a sigo.

Não sei o quanto de verdade tem em suas palavras. Eu realmente disse aquilo? O que eu fiz pra ela, porque ela não é a mesma, e porque me incomodou tanto aquilo, ela me dando as costas...

Eu não conseguia pensar em outra coisa, todos os detalhes daquela manhã passavam como um filme na minha cabeça, aquela primeira conversa, a reação dela, nada fazia sentido, eu não conseguia parar de pensar nela indo, e em como seus olhos estavam apagados enquanto falava comigo.

- Nunca mais eu bebo. – mentira.

Voltei a pensar no que havia acontecido ontem. Eu cantei, e lá estava ela, por algum motivo era impossível não olhar pra ela, impossível não pensar a musica toda em como seria bom simplesmente descer daquele palco e beijar pra saber se aquele olhar realmente significava o que eu no fundo eu queria que fosse que ela queria aquilo tanto quanto eu. Depois conversamos, não sei por quanto tempo, mas era como se fossemos velhos amigos, e eu só conseguia pensar em como ela estava linda, estava tudo indo bem, ela falo dela, eu falei de mim...  É obvio que tem algo entre a gente.

Eu continuei nessa tortura silenciosa, pensando e tentando preencher as lacunas do que havia acontecido, e eu estava quase adormecendo quando o primeiro flash veio, ela me ajudando a andar até o elevador, depois as coisas que eu falei... Ela rindo de mim e procurando as chaves nos meus bolsos, e então eu a beijei. Tudo aquilo me atingiu como um soco no estômago, as lembranças, as sensações... Tudo voltando e ai tudo fez sentido, eu disse a ela que esqueci, enquanto ela se lembra perfeitamente.

- Eu preciso concertar isso. – digo falando comigo mesmo e levanto rapidamente a fim de procurar ela.

Assim que abro a porta e saio a vejo andando em minha direção pelo corredor falando com alguém no telefone, quando me vê seus passos oscilam um pouco, mas continua andar. Assim que chega até mim desliga o telefone.

- Tali eu...
- Agora não da pra conversar, um helicóptero vai buscar a gente depois do almoço, vá fazer suas malas porque vamos nos encontrar com Leon e partir pra Áustria. – fala me interrompendo.

Então ela entra em seu quarto mal me deixando falar, só me resta arrumar as malas e deixar pra conversar com ela na hora do almoço. Preciso dizer a ela que me lembro.

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Então... é isso.

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bjss, até só deus sabe, amanhã ou quarta.
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