Nem em mil anos

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Isabella narrando.

Os corredores pareciam infinitos, eu já estava cansada de tanto correr atrás da maca onde ele era levado, haviam quatro ou cinco enfermeiras em volta dele que permanecia desacordado desde o momento em que saímos daquele lugar. Me pararam assim que chegamos no centro cirúrgico, uma senhora me segurou me impedindo de entrar. E assim nos separando pela primeira vez desde que nos encontramos de novo. Ali dentro era bem mais gélido que os corredores anteriores, e tinha uma energia pesada.

– Não pode passar daqui, querida – informou, com uma tranquilidade tão grande na voz que me irritou – Você está bem?

Eu obviamente não estava bem, estava nervosa e irritara. Estava apavorada, o ver sangrar daquela forma, o assistir perder a consciência, eu sentia o risco e ele ser levado direto para esse lugar me preocupava ainda mais. Passei a mão pelo rosto, precisei respirar fundo e tentar controlar o impulso de passar por ela e invadir aquela sala. Notei minhas mãos sujas do seu sangue, então meu coração voltou a acelerar.

– Tá se sentindo bem? – me perguntou novamente.

– Eu tô! – respondi de forma rude, depois em arrependi – Eu só não posso perder ele... Não mesmo.

Ela sorriu de canto, acariciando meu braço.

– Vou lá dar uma olhada pra você.

Concordei com a cabeça, da onde eu estava só via a sombra da cama onde ele estava e de todos aquelas pessoas em volta. O médico que havia entrado pouco depois de me pararem aqui, e três enfermeiras. Quatro com a que acabou de entrar. Toquei o vidro que me separava dele, queria tanto estar ali dentro segurando a sua mão, mas sem dúvida não ajudaria em nada. Conseguia ouvir perfeitamente o aparelho cardíaco ligado a seu corpo, pulsando seus batimentos, me tranquilizando saber que ele estava aguentando firme a tudo aquilo.

– Meu amor, a cirurgia vai ser bem extensa... Se quiser ligar para alguém, ou me acompanhar para a sala de espera.

– Não, não – respondi a ela, balançando a cabeça em negação  – qual a gravidade?

– Vamos tomar uma água, precisa se hidratar!

– Me responde! – Tirei sua mão de mim, a encarando com todo o meu desespero visível – Ele vai ficar bem?

Então uma movimentação estranha dentro da sala, e os batimentos dele mudando de intensidade enquanto os enfermeiros pegavam outras aparelhagens. Meu coração praticamente parou de bater, e eu voltei a olhar para naquela direção, ignorando a senhora que colocou uma espécie de jaleco sobre minhas costas. Eu não sentia frio, eu não sentia nada! Agora só ouvia um apito vindo de lá de dentro, e já havia visto filmes o bastante pra saber do que era aquele som...

Hora da morte – a voz firme do médico falou, um tanto quanto decepcionado – 00:33.


Despertei num susto que tremeu meu corpo inteiro, até o se Tom assustou, me olhando preocupado. Graças a Deus tinha sido só um sonho, um maldito sonho ruim. Olhei em volta, a sala de espera continuava bem vazia, só estávamos nós dois e mais uma mulher. Ele me puxou pra deitar a cabeça em seu ombro novamente, eu cochilava assim a algum tempo, graças às mais de trinta horas acordada. Neguei com a cabeça, me levantando e indo nas enfermeiras da recepção.

– Alguma notícia do Roman? – perguntei, olhando no relógio e vendo o mesmo horário dito no sonho.

Nem conseguia considerar aquela hipótese, só a ideia me doía em partes de mim que nem eu sabia que existiam. O tipo de dor que eu só senti uma vez nessa vida, e não queria a provar novamente, nem em mil anos.

Quase Um Pecado - CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora