Isabella narrando.
Fiz minhas malas em tempo recorde, sem me preocupar muito se caso esquecesse alguma coisa, só precisva ir, sair dessa casa, desse cenário. Sentir ar puro contra o meu rosto, sentir areia entre meus dedos e o mar aos meus pés. Era só com isso que me preocupava. Depois das malas já feitas, tomei um banho rápido e tratei de me aprontar, não queria fazer o Roman desistir de ir ainda hoje. Enquanto terminava de passar um gloss, notei algo estranho encaixado no espelho. Era um volume ali encaixado contra a madeira, um envelope, o puxei o retirando dali e dando alguns passos pra trás pra me sentar na cama e o ler. Já comecei a tremer na primeira palavra.
"Filha,
Se um dia chegar a ler isso, então significa que eu realmente parti. Senti essa vontade de te escrever algo, caso o destino não me dê outra chance de te olhar e dizer isso olhando em seus doces olhos. Eu sinto muito, por cada mentira contada, por cada desculpa que inventei e por tudo aquilo que eu não fui para você... Um bom pai, entre todas, isso é o que mais me perturba. Porque a sua mãe era fantástica, te olhando nos últimos meses no Canadá eu só via a Mary, desde o cabelo alaranjado até o jeito de falar e sorrir, você é ela todinha. E quem me dera ser metade do ser humano que ela foi... E por minha culpa partiu precocemente. Eu sinto muito por isso, por isso e por outras mil coisas.
Saiba que eu sempre te amei muito, embora tenha te deixado com sua tia dessa forma e sumido por todos esses meses, sempre pensei em você e desejei que estivesse bem. E ainda desejo. Não sei onde está e o que planejam, mas espero que leia isso um dia e sinta a minha dor e arrependimento. Eu falhei com você, e eu lamento muito por isso!
Todos os meus poucos bens estão no seu nome a mais de um ano, sei que não sabe disso, mas sempre cuidei para que nada fosse para outra pessoa ou que isso se tornasse um problema pra você ter que lidar. As casas no Canadá, meus carros e a porcentagem que ainda tenho na Empire. Sei que vai administrar e zelar disso melhor do que eu... Espero que se forme em medicina e seja a médica que sempre sonhou, desde que era uma menininha.
Eu te amo infinitamente, e espero um dia te abraçar denovo. Com amor, do homem que te deu a vida e certamente a destruiu também.
Theodoro Ramírez"
Quando terminei de ler a carta já estava toda cheia de pingos de lágrimas, porque não conseguia evitar chorar ao ler aquilo. Sequei o rosto, controlando a respiração e tentando manter a calma, não ia surtar agora, não tinha tempo para isso, Roman estava me esperando.
– É claro que eu te perdoo – sussurrei, dobrando a carta novamente – Eu te amo pai, descansa em paz.
Essa foi a primeira vez que eu realmente lidei com sua morte, a alguns dias em seu velório e enterro eu ainda estava fora de mim. E mesmo vendo seu corpo ali, sobre aquele caixão, com todas as flores em volta e com toda a minha família chorando, eu ainda não acreditava. Mas agora a ficha caiu, e eu realmente senti o peso disso, ele não volta mais.
◇
Graças o horário já ser um dos últimos vôos, ele estava bem vazio e calmo. Eu nunca havia voado de noite, foi uma experiência nova e diferente que eu gostei. E com essa minha companhia não poderia ser melhor, ele sempre me fazia rir de algo e me distraia. Quando eu começava a ficar pra baixo ou quieta, Roman dizia alguma coisa idiota o bastante para me tirar um sorriso. Mais uma coisa das milhares que eu amo nele.– Acabei de agendar a nossa hospedagem.
Disse me virando a tela do notebook e mostrando o quarto que escolheu, tão lindo e com uma vista fantastica.
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Quase Um Pecado - CONCLUÍDA
RomanceA paixão não escolhe por etnia ou religião, cor ou sexualidade, quando ela vem, em grande peso, ela sempre vence as barreiras criadas pelo ser humano através dos anos.