Talvez em outra vida

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Isabella narrando.

Sempre quis ser alguém mais paciente, que sabe esperar, sem que a mente crie mil e uma teorias da conspiração contra a pessoa que aguardo. Mas Roman havia me dito a exatos 37 minutos que subiria logo atrás de mim, para gente dormir junto, como tem sido desde que viemos da nossa viagem, mas ele simplesmente não chega. Já havia feito todo o meu ritual de antes de me deitar, estava deitada, já tinha mandado algumas mensagens para ele que nem foram vistas. E estava caindo de sono, o meu dia tinha sido tão cheio... Lutava para manter os olhos abertos, deitada de lado com uma mão embaixo do rosto, encarando a porta. Esperando ela ser aberta. Mas não foi. E em algum momento eu apaguei.

Meu corpo estremeceu por inteiro pelo som alto e agudo que veio lá debaixo, me sentei automaticamente na cama, sentindo meu coração acelerado pelo susto. Devia ter acabado de cochilar, e de repente, aquele barulho ensurdecedor. Se assemelhava a uma porta de vidro sendo derrubada, o que me deixou com medo do que pudesse ter acontecido lá embaixo. E as teorias voltaram, uma mais assombrosa do que a outra. Não pensei a respeito, apenas me levantei, colocando as pantufas nos pés e deixando meu quarto, seguindo rumo ao andar abaixo. Ouvia vozes de uma conversa, ou melhor, uma discussão.

Cheguei na sala de jantar, reconhecendo o que ocasionou aquele barulho que me acordou, o que um dia foi a mesa de vidro de seis lugares da minha tia, agora eram cacos de vidro espalhados por todo o cômodo, em alguns lugares o vidro parecia areia já em outros imensos pedaços. Continuei seguindo as vozes, até a cozinha, onde Roman mantinha uma das mãos debaixo da água da pia e minha tia do lado de cá do balcão em desespero.

— Precisa de pontos!

— O que tá acontecendo? — perguntei, ainda perdida com tudo aquilo — Porque a mesa tá quebrada?

Aí percebi a cor que a água descia da mão do meu primo, vermelho vivo, como se não houvesse água e apenas sangue jorrando da sua mão. Aquilo me esfriou o sangue, parei do eu lado, segurando seu pulso e erguendo sua mão. A parte superior dela, logo acima dos dedos, havia um corte de mais de cinco centímetros, o machucado era espesso, e me fez conseguir ver toda a ferida aberta, num corte que me permitia ver a carne rosada da sua mão minando sangue.

— Mas que droga Roman — falei, aflita.

Me afastei, abrindo uma das gavetas do armário embutido e tirei um pano de prato grande. Voltando até ele, os dois permaneciam em silêncio, e depois de enrolar seu ferimento para tentar conter o sangramento olhei direto em seus olhos. Distantes e marcados por olheiras que indicavam um choro de pouco tempo. Ele não olhou de volta nos meus.

— O que foi? — perguntei, tocando seu rosto — O que aconteceu?

Negou com a cabeça, se afastando e deixando minha mão pender no ar. Me virei para seguir olhando pra ele, e minha tia continuava ali, parecendo que havia visto um fantasma, estava mais pálida que o comum e olhava aflita para a mão do Roman "enfaixada".

— Gente, o que foi? — questionei mais alto agora — Porque quebrou a mesa?

— Nada — Roman disse, encarando o pano enrolado na sua mão — Me descontrolei e quando vi já tinha feito.

— E quase arrancou sua mão no processo, seu idiota!

— Não achei que fosse cortar — um meio sorriso, mas ele não me olhava — Vou ao hospital, acho que leva pontos.

Ele acha? Eu pude ver os nervos da sua mão através do corte, era fundo, fundo o bastante para poder ter estourado alguma veia ou pior. O encarava admirada com a falta dele olhar pra mim, era como se eu não estivesse ali. Porque ele estava me evitando?

Quase Um Pecado - CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora