Tóxico

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Isabella narrando.

 
Notei que Roman demorava a descer depois do almoço, era rotina ele subir para tomar banho antes de irmos a empresa pela parte da tarde, mas já estava mais de vinte minutos atrasado e isso começou a me preocupar. Esperei Drake sair para ir até o quarto dele, bati duas vezes na porta, sem resposta, então abri a mesma que por sorte estava destrancada.

 
– Roman?! – chamei, o vendo deitado de costas para a porta – Está atrasado!

 
Mas ele não respondeu, me aproximei e percebi que ele dormia, pesadamente pelo jeito, aquilo me deixou num misto de preocupada com triste, levei a mão no seu rosto, acariciando as maçãs do mesmo lentamente.

 
Idiota – sussurrei só pra mim, o olhando tão entregue ao sono – Vou ficar aqui com você...

 
E subi na cama, me deitando do seu lado e respirando fundo. As vezes me perguntava porque Roman sempre tendia a fazer coisas assim, estúpidas e horríveis, assim que o pai dele morreu quando ele só tinha dezessete anos ele teve um surto que quase o destruiu por completo, levou mais de nove meses para se livrar do vício nesse maldito analgésico, e agora, voltava com isso sem razão nenhuma! Ele se moveu enquanto dormia, se virando pra mim. Fiquei ali durante minutos, apenas imersa em pensamentos enquanto o observava. Tão lindo, numa tranquilidade em sua expressão que chegava a relaxar. Foi quando acabei pegando no sono também.

Roman narrando.

 
Acordei assustado, meu peito estava um pouco acelerado e as mãos dormentes, abri os olhos e a primeira coisa que vi foi fios laranjas espalhados pelo meu travesseiro. Me sentei na cama, olhando pro lado e vendo Isabella dormindo ali, suspirei fundo, olhando no meu despertador e vendo que já se passava das três da tarde. Droga, só me deitei por cinco minutos antes do horário de voltar a empresa e acabei apagando.

 
Me levantei dali, indo até o banheiro do quarto e tirando toda a minha roupa pra entrar debaixo da ducha fria, conhecia bem o que estava sentindo naquele momento, aquela depressão, a moleza, aquilo que te faz procurar por mais. Entrei debaixo do chuveiro, sentindo aquela água gelada acordar cada músculo do meu corpo, não repetiria a merda que aconteceu nessa manha, foi só um jeito de lidar com o que descobri, com o que o filho da puta do meu tio Theodoro estava influenciando meu irmão a fazer.
 

Não queria voltar ao passado, não queria ter tido que recorrer a isso, mas minha ansiedade voltou redobrada nessa manhã, apenas de pensar por um milésimo de segundo que Isabella corria risco de vida, fez toda a merda voltar, e pra aliviar as crises eu sempre tive a droga comigo, bom, sempre não, começou depois que meu pai morreu e eu tive um belo choque de realidade. Depois de perder ele, eu buscava encontrar sentido em outras coisas, nem sempre fui tão mulherengo, tudo se intensificou grandemente com a perda que sofri, e junto das noites de bagunça, eu acabei conhecendo aquele analgésico que me ajudou muito a superar, no começo. Não demorou duas semanas para que o que era só um alívio se tornar uma dependência, e o tratamento pra me limpar foi pior do que o inferno. A minha querida prima tinha razão em dizer pra eu me matar ao invés de me entregar a isso outra vez, eu sabia como era.

 
– Ei – Isabella disse baixinho, chegando ali com o cabelo todo bagunçado – Tá tudo bem?

 
Meus pensamentos sumiram, e me virei na direção dela na porta, o vidro não me deixava a ver perfeitamente, mas ela havia parado próxima a pia, e se olhava no espelho.

Quase Um Pecado - CONCLUÍDA Onde histórias criam vida. Descubra agora