Capítulo 20. A ligação; A inexperiência.

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- Bom, sabe de uma coisa - havia dito Thompson a John momentos atrás, quando entraram em sua sala no último andar do departamento de polícia, no centro de Inverness -, eu nunca entendi direito esse ódio que vocês têm um do outro.

Não havia muito que se falar ou conversar durante a noite que ainda estava para começar e que, talvez, seria uma daquelas, senão, a mais longa das vidas daqueles dois homens.

John aceitou a pertinência da pergunta e decidiu entrar no clima que a curiosidade de Thompson trouxe.

- Na verdade, eu não sei se tenho ódio por àquela gente. Eu apenas cuido do que é meu ao que um dia será das minhas filhas.

John aconfortou-se no sofá no canto direito da sala.

- Eu me lembro, na época de infância, das coisas que se falavam dos Smiths dentro de nossa casa, meu pai odiava ouvir esse nome dentre nós, então todos nós evitavamos. Para mim, nada passava de palavras de ódio soltas. Mas, - John enfatizou o tom -, certa vez, eu entendi que eles não eram associáveis a nós e eu entendi o quanto eram inconsequentes. Houve uma cena marcante para mim numa taberna em Cawdor. Eu vi que o pai de Jonathan não era um homem digno, pois ele e meu pai...

John relatou o ocorrido que marcou-lhe para sempre desde então.

- Quer outro café? - perguntou Thompson caminhando até a máquina pousada à mesa próxima a janela que dá de frente para a avenida.

- Não. - respondeu John.

- O café me ajuda a me manter desperto e enérgico quando tenho que ficar acordado. Mais tarde vou pedir uma pizza para nós.

John se manteve calado sentado no sofá na parede oposta de onde Thompson enchia sua caneca com a bebida negra a exalar o aroma agradável dos grãos moídos.

Thompson olhou através da janela e constatou que o céu está começando a perder sua força diurnal. Foi então que sua consciência lhe despertou sobre o verdadeiro motivo de estar no início da noite de domingo em seu escritório com John William ao invés de estar com sua família: aquele homem é o suspeito de ser um lobisomem assassino, e, a noite pode ser como o cheiro que desperta a fome no estômago vazio da fera que pode estar camuflada dentro de John.

- Bom, não vamos ficar aqui em minha sala quando a noite escurecer - disse Thompson desviando o tom de sua voz de amigável para a de o homem da lei.

John ficou o encarando mas não deixou o silêncio se expandir.

- E o que você pretende fazer? Vou passar o noite preso numa cela?!

Thompson ficou calado e deixou a expressão de sua face certificar a John que ele está certo em seu palpite carregado de ironia.

John cerrou os olhos e expôs uma face intrigante ao chefe que está ao longe com a caneca na mão.

A consciência de John não lhe deixou esquecer o que esta noite martirizante representará para Suzy e o quanto o desfoco da polícia em si, lhe era favorável. Mas, se manteve calado a olhar nos olhos do chefe de polícia.

- Não se preocupe - disse Thompson voltando para sua mesa -, as celas estão vazias! Inverness é calma - sentou-se na poltrona. - Quando temos algum presoal, não passa de um bêbados baderneiros ou algum imigrante que ainda não está adaptado a nós, nada que passe de infrações simples a encarcerá-los um ou dois dias por aqui.

- Faça o que tem que ser feito. - indagou John a demonstrar que o assunto era irrelevante quando o ato seria inevitável.

John assistiu Thompson levantando-se, ir até um armário próximo a uma porta e tirar uma espécie de pasta executiva de um dos compartimentos, foi até sua poltrona, vestiu seu blazer e seguir até à porta carregado sua caneca de café e a pasta.

Ciclo do Lobisomem. 《Concluído》Onde histórias criam vida. Descubra agora