Capítulo 37. A caverna.

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Suzy seguiu a risca o caminho descrito pela senhora Boyman até que avistou uma fenda ovalada de pouco menos de dois metros de altura, camuflada dentre a vegetação que à cerca.
Animou-se.
Corroborando com alguns ditos da vidente em dizer que seu corpo vai mudar a cada dia, Suzy não se deu conta, mas, por mais íngreme e cheio de obstáculos que fora o longo trecho até chegar ali, ela não apresenta cansaço.
Sua respiração não está ofegante e nem muito menos fatigada. De alguma forma, o gene da criatura está se mesclando ao dela deixando-a insistentemente vigorosa.

Ela arrancou algumas das vegetações que impediam à passagem. Tentou avistar algo dentro do lugar que mais se parece um buraco horizontal, porém nada pode ser visto para mais além de onde a luz do dia consegue invadir: o lugar é tenebrosamente escuro!
Pegou seu celular e sentiu alivio quando viu que à bateria está há 68%. Acendeu a lanterna do aparelho e entrou cuidadosamente pela estreita anomalia da natureza.

O corredor que se apresenta é bastante humedecido e cercado de rochas desniveladas e pontiagudas em alguns pontos. Águas a minarem escorrem nas laterais do passadiço deixando rastros enverdecidos de lodo em outros pontos. Enquanto Suzy se distância da luz do dia, a cada passo que dá, sente um frio da natureza escondida lhe atingir a pele. Seus ouvidos vão se distanciando dos sons da natureza externa dando lugar ao silêncio que ecoa no espaço obscuro.

Finalmente, após alguns segundos que se passaram lentos como se minutos fossem, a luz de seu telefone se alastra denotando uma área maior alcançada.
Ela parou a checar tudo onde seus olhos podem enxergar: É uma cavidade com pouco mais de vinte metros² e, tem pelo menos três vezes a altura de dela.
Meticulosamente, tal como um animal cautelando um ataque, Suzy dá uns passos adentrando na câmara. Todos os seus sentidos estão à flor da pele, no entanto, nenhum está tão alerta quanto à audição a esmiuçar o mínimo ruído que seja, ao ponto de quase ouvir seu coração pulsando à vida dentro de si.
Constatou que no lado esquerdo, há um robusto pedaço de pau enfincado numa das fendas dentre as rochas que formam à parede da caverna, na ponta exposta, tem uma espécie de tecido enrolado artesanalmente formando uma pelota do tamanho de uma bola de futsal: uma tocha apagada.
Avistou mais ao fundo algo que lhe surpreendeu drasticamente: Uma inexorável chapa de ferro, retangular como uma bandeja, está aparafusada à parede rochosa do fundo. Solidada firmemente ao centro dessa chapa, ocupando quase como um todo o seu núcleo, está uma espeça barra de ferro. Acintosamente torcida para fora, a barra forma uma espécie de braço no qual estão presas cinco resistentes correntes formada em argolas tão grossas como os dedos da mão. Findando as pontas opostas à chapa, em cada das correntes há um bracelete, sendo quatro deles em tamanho de um pires e uma argola maior como um prato de sopa.
Ao se aproximar do canteiro carcereiro, Suzy reparou umas consideráveis porções de pelos amontoados em alguns pontos abeirando-se as correntes. Ver aquilo lhe golpeou a memória trazendo a imagem de seu próprio rastro animal nas vezes em que ela mesma já acordou em cima de montes iguais a esses que seus olhos vêm.
Sua mente lhe traiu conjectando a imagem de sua mãe voltando à normalidade após uma noite acorrentada dentro daquele lugar. Sentiu dó dela e ao mesmo tempo de si própria pelos tenebrosos momentos vividos ali, os mesmos que ela, propriamente, ei de suportar.
A reflexão lhe afetou à consciência e fomentou a devastadora realidade que lhe aguarda.

Uma cena lamentável começa a tomar força: Afrontada pela fobia de passar por tudo aquilo durante tanto tempo, a obstinação de Suzy entra numa decadência desanimadora elevando o desespero e o pânico. Seu coração iniciou uma frenética sessão de batimentos enquanto seus sentidos se embaralham por suas entranhas; a respiração vai ao colapso descontrodo como se estivesse debandando sem rumo; os olhos tateiam todos os locais onde sua tremula mão direciona a luz de seu telefone até que uma sensação claustrofóbica lhe arrepiou todo o corpo.
Desesperada, ela busca a saída daquele lugar e enquanto as lágrimas e as ações desgovernadas expõem seu lapso de insanidade, Suzy invade aquele corredor almejando à luz do dia como nunca antes.
Às protuberâncias rochosas das deficiências perfeitas da natureza que formaram o corredor sinuoso lhe ferem partes de seu corpo quando, acidentalmente, ela rela nas pontas afiadas em alguns trechos à medida que passa desenfreada pelo claustrofóbico passadiço.
Suzy chegou ofegante ao lado de fora a esboçar um choro expressivo, dramático e desesperador.
Foi então que num ato explosivo ela lança um grito fino que ecoa há quilômetros dali.
Mete-se a correr adentrando no caminho que a levou até ali se distanciando da caverna que seu subconsciente desdenha, mas sabe que é a prisão que manterá Inverness a salva da monstra que deva ser persistentemente enclausurada em seu interior.

Ciclo do Lobisomem. 《Concluído》Onde histórias criam vida. Descubra agora