Eram pouco mais das sete da manhã quando o chefe Thompson meteu a chave na fechadura e abriu a cela para John sair.
- Então - disse John -, o que houve?
- Parece que o tal lobisomem que atacou sua propriedade, naquela noite, deixou alguma vítima - arriscou Thompson caminhando até o elevador. - E essa tal vítima, deve estar se transformando, atacando pessoas em Inverness e deixando mortos num ciclo que pode se transformar numa bola de neve - apertou o botão e a porta do transporte se abriu. - Menos mal que a vítima morreu, senão, só Deus sabe onde isso poderia parar.
Desta vez, John não conseguiu ser cauteloso e deixou escapar uma face de raiva, ou até mesmo de indignação, ao invés de, no mínimo, surpreender-se com o que era para ser uma novidade inesperada.
- E o tal urso - disfarçou John -, foi encontrado? Não seria ele?
- Todo o Reino Unido, senão o mundo, já deve ter assistindo um vídeo que alguém fez e já viralizou na internet.
A face de John está pasma, porém apegada num cinismo camuflador a preocupação que se forma dentro dele.
O que Suzy fez!!! Pensou.
John lastimou seu telefone estar sem bateria.
Chegaram ao andar que leva a saída.
- Bom - disse Thompson -, minha esposa deve estar a minha espera para o café da manhã. Vou te levar em casa e depois encarar a fera - deixou o ar de riso lhe infestar o semblante.
- Não precisa - afirmou John. - me deixe no centro e eu pego um táxi.
- Nada disso! Eu faço questão.
- Não, eu tenho que resolver umas coisas aqui no centro, hoje! Aproveitar que estou aqui e que já são quase oito da manhã.
Thompson aceitou. Foram até seu carro.
- Sinto muito pela noite passada - falou Thompson ao sentar-se no lado do motorista -, mas eu precisava...
- Não há do que se desculpar - contou John em tom objetivo - você fez o que tinha que ser feito.
Saíram em direção do centro.
...
Uma segunda-feira que haveria de começar como quaisquer outra, não se fala em outra coisa senão o monstro no centro do estado. A polícia, repórteres e os moradores estão todos eufóricos em busca de respostas. Teorias e histórias das mais absurdas vão surgindo e seguem sendo distorcidas e aumentadas à medida em que se comentam sobre o que viram e o que suponham em todo o estado escocês.
O vídeo do lobisomem assassino circula o mundo tendo a internet como uma estrada eficaz de alta na velocidade que os tempos atuais normalizaram: tudo é visto por todos num curto período de tempo.
O mundo atentou seus olhos para Inverness naquela manhã. Entretanto, cercados pelo silêncio da natureza exuberante em torno da casa camuflada, Suzy e Harry não imaginam que o mundo civilizado se contorce numa confusão generalizada de informações numa realidade que ainda parece fictícia.A decisão desgovernada de Suzy, na noite anterior em tardar o início de seu "tratamento" por mais um dia, deu conteúdo às manchetes de todo o planeta: Um lobisomem ataca na Escócia.
A janela da sala, revestida por uma escura tela de tecido tule fazendo barreira aos insetos, está aberta e o sol invade o cômodo onde o casal analisa o que se há de fazer
Harry admirou-se quando entrou naquela habitável casa cheia de conforto escondida no meio do nada.
Suzy pincelou sobre o que sabia da casa, da senhora Boyman e seu marido, no entanto, o que mais devastou Harry Smith, foi saber que os quatro anos de buscas incansáveis pela mãe de Suzy, desaparecida misteriosamente, nunca teria um fim se ela não tivesse sido atacada pelo lobisomem na madrugada da "inserção animália". Todo o ocorrido daquela noite levou-a conhecer Boyman e chegarem onde estão agora.
- Sua mãe, uma lobisomem! Isso tudo é muito surreal - disse Harry caminhando de um lado para o outro na sala. - Então, a senhora Mills tinha razão quando disse que o marido dela estava lhe traindo.
- Como você sabe disso?
- Eu fui à casa do maquinista ver se conseguia algum tipo de informação que pudesse nos ajudar e ela me disse que sabia que ele tinha um caso com alguém - revelou enquanto encaixava os fatos em sua autoanálise. - Me disse que o padre poderia me ajudar, mas... - Harry parou e refletiu por alguns segundos.
- O que houve?! - Preocupou-se Suzy.
- Algo me diz que aquele padre sabe mais do que disse não saber.
Harry lançou à Suzy algumas das questões que tramitaram em sua cabeça após a revelação surpreendente, não obstante, ela também está repleta de dúvidas, pois o curto tempo que passou com Boyman não fora o suficiente para serem esclarecidas. Suzy tinha muito mais a saber do que ele.
Harry sentiu-se faminto. Foi até a cozinha e viu que não há comida na dispensa, ou até mesmo que não há o que comer em toda a casa.
- Vou ter que ir buscar comida - disse ele. - Também tenho que ir até minha casa buscar meu carro, espero que meu pai não esteja por lá! Mamãe deve precisar do carro hoje, além de eu ter a certeza que ela está preocupada. Eu saí cedo e não disse nada a ninguém!
- É estranho saber que esta casa foi o lar de minha mãe nos seus últimos anos de sua vida - disse Suzy numa voz melancólica.
Harry voltou para sala e a viu chorando novamente. Ele a levantou do sofá e lhe abraçou carinhosamente como se quisesse arrancar a dor do coração dela e a sentir em seu lugar. Ela ouviu o batimento do coração dele quando encostou o rosto em seu peito; nesse momento, ouve-se o rugido da porta da sala se abrindo e eis que John William entra e se depara com sua filha abraçada com Harry Smith.
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Ciclo do Lobisomem. 《Concluído》
Lobisomem🏅Esta obra foi selecionada, pela plataforma, para participar do Prêmio Watt 2022 na categoria MISTÉRIO/SUSPENSE.🏅 ✨️AGRADEÇO A PLATAFORMA POR ESTA OPORTUNIDADE. ◇ A família William ainda vive perturbada em busca do p...