Capítulo 15. A desconfiança favorável.

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As indagações feitas por Thompson não deixaram dúvidas que havia um interrogatório policial dentro do escritório de John William. Entretanto, os dois homens são munidos pela esperteza das mais de cinco décadas de vida onde experiências das mais variadas lhes renderam "escudos e armas" eficazes na condução de assuntos peculiares.

John está com uma sensação de que, aquela "reunião" não está para findar agradavelmente.

- O que você veio fazer em minha casa, Thompson?

O policial pôs-se a pensar por uns poucos segundos.

- Como eu já lhe disse, senhor William, eu estive a pesquisar sobre a tal criatura desde que ouvi seus relatos e o da vítima que foi hospitalizada após ser atacada na noite passada, aqui, em sua vizinhança - enfatizou Thompson. - Pelo o que li em artigos, que mais se parecem com coisa de cinema, foi que quando o bicho morde uma pessoa, aquela pessoa também... - buscou um adjetivo para classificar o que ainda lhe é fantasioso - ... vai se transformar na tal fera; e é que o senhor me entende. Mais uma coisa: eu posso-lhe afirmar que aquele homem não sofreu nenhum tipo de ferimento depois de ser atacado. Por isso, como eu te disse antes - John notou que, enquanto Thompson fala, seu olhar está sempre a espiar sua cicatriz no braço esquerdo -, o senhor pode ter se esquecido de me contar algo daquela noite com George Mills.

Thompson calou por alguns instantes, no entanto, não quer deixar o silêncio quebrar sua narrativa com um grande teor acusatório. Volta a falar.

- Imagino que o momento fora tenso e você pode ter se esquecido de me dizer algo que possa ter acontecido. Algo que talvez eu ache relevante!

A cena que John presenciou quando entrara no quarto de Suzy, na noite do ataque, lhe invadiu sua mente como um flash de fotografia. "O lobisomem George Mills em cima de sua filha abocanhando sua perna".

John viu, na desconfiança de Thompson sobre sua cicatriz, uma eficaz distração na qual ele irá usá-la como um desvio a quem verdadeiramente é a pessoa por trás do lobisomem que atacou nos Smiths à noite anterior.

Não explicar de imediato, como ele arrumou a tal marca em sua pele, começou a fazer parte do contexto que está causando em Thompson um sentimento de tensão positiva, entretanto, o chefe da polícia de Inverness não desconfia que seu senso de detetive esteja sendo ludibriado pela mente astuta de seu interrogado.

- Eu não me esqueci de dizer-lhe nada! Fui claro, pois precisava de sua colaboração para encontrar minha filha...

- Se me permite - cortou Thompson. - Como o senhor encontrou sua filha?

- Estava na casa de um amigo.

- Estranho! - indagou Thompson.

John não se conectou ao que seria anormal e lhe lançou uma face questionadora enquanto baforou um golpe de vento esfumaçado exalando ainda mais o cheiro do tabaco queimado pelo ar de seu escritório.

- Difícil acreditar que uma jovem, que há poucos completou vinte anos, esquece o telefone e não voltou para buscar!

- Bom, meu caro, minha filha não é o foco de nossa conversa, porém, posso lhe dizer que é exatamente por esse motivo que ela deixou o telefone em casa. É uma jovem na casa de um "amigo" e não queria ser encontrada. Mas isso é problema familiar que já será resolvido.

Thompson voltou a olhar a cicatriz.

- Bom, sobre isso - mostrou-lhe a protagonista da atenção de Thompson -, foi um incidente numa das máquinas daqui do sítio há alguns anos; e ontem eu estive em casa durante a noite toda.

O policial deixou seu olhar sobre John e não tentou esconder que estava refletindo fortemente ao que lhe foi explicado.
Soou-lhe como uma desculpa de um adolescente que está certo que seus pais acreditarão numa notória farsa.

Ciclo do Lobisomem. 《Concluído》Onde histórias criam vida. Descubra agora