Capítulo 34. Vigorosas revelações.

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- Você tem noção do que minha filha fez esta madrugada? - disse John anunciando-se ao entrar na cozinha carregando a frase que poderia tendênciar a uma suposta inversão da culpa. - Você disse que ela começaria ontem o tal procedimento numa jaula que seu marido traria sei lá de onde!

- Bem, senhor William - falou-lhe enquanto acende o fogão a gás onde pousou o bule para aquecer a água do chá a ser feito -, antes de qualquer coisa, não aja como uma pessoa inconsequente, pois isso você não é; és conhecido e respeitado pelo caráter que tens. Só mais uma coisa para que não haja dúvidas: eu não estou aqui para mudar o vosso destino, desejo ou feitos. Cada indivíduo faz aquilo que achar certo, revelando ou acobertando verdades - a vidente virou-se e lhe o olhou profundamente nos olhos como se quizesse ver por detrás dos mesmos. - Sua última noite fora longa, certo? Seus ditos ao policial estão repletos de verdades, senhor William? - John mostrou-se impressionado pelo semblante exprimido em seu rosto. - Por mais incrível que lhe possa parecer, as coisas estão fluindo com a naturalidade que o futuro precisa para se fortalecer, senhor William.

- Naturalidade que o futuro precisa? - Montou-se numa face curiosa.

- Sim! O senhor conhece muito bem sua filha e sabe que se não fosse pelo ocorrido da noite passada, e, diga-se de passagem, por culpa de suas próprias ações, ela não ficaria aqui nesta casa, por livre e espontânea vontade, na qual ela estará longe de tudo aquilo no que sempre viveu cercada - voltou a se concentrar na preparação do chá. - Todos nós cansamos da mesmice, por mais que preciso seja, ela é torturante. Suzy precisava sentir raiva e medo de si própria.

John hesitou em comentar o óbvio. "Ela tem toda razão", pensou.

A fala o fez lembrar-se de certa vez que Suzy fora pega fumando maconha no pátrio da escola. A discussão que houve dentre ela e sua mãe fora ferrenha, até que John, de maneira viril, interviu e a levou para delegacia a prestar esclarecimentos e prometer nunca mais se misturar onde há drogas ou drogados. O cumprimento dessa promessa à fez enxergar melhor as pessoas que ela acreditava serem seus fiéis amigos; a partir desse dia, Suzy voltou a se aproximar de sua mãe retomando a forte amizade dentre elas antes do período da adolescência. Sua mãe desapareceu subitamente alguns meses depois.

A água do bule chegou ao ápice da ebulição e john assiste a Boyman abrir um dos armários da pequena cozinha e retirar um estiloso conjunto para chás em finas porcelanas. A riqueza nos detalhes de cada uma das peças esboça a delicadeza do material produzido unicamente.

A senhora pegou na chaleira notoriamente inspirada nos tempos da realeza, a encheu com a água esfumaçando e jogou algumas folhas de ervas aromatizadas que ela mesma havia colhido de seu jardim. Não tardou para um agradável aroma das diferentes essências das ervas mesclada na água quente, exalasse o cheiro que se confunde aos balsamos indianos e chineses. Arrumou a chaleira ao centro de uma bandeja junto com as cinco xícaras e olhou para John. "Faça-me às honras", expressou em seu olhar zen.

O homem pegou na bandeja e a seguiu adentrando na sala.

"Vamos" disse ela passando pelos ocupantes do cômodo: o casal apaixonado e seu marido.

Ao chegarem à aconchegante saleta, a mesma onde na manhã anterior Suzy conhecera Boyman.

É agradável o cheiro dos incensos e das velas aromatizadas acesos em diferentes pontos do lugar.

Há quatro cadeiras arrumadas uma de frente para outra, cercando uma baixa mesa no centro do local. Todos se acomodaram e serviram-se com a bebida quente pousada à mesinha.

Boyman sentou-se na poltrona mais confortável e pediu que Harry sentasse a esquerda um pouco mais adiante. De frente a ele, instalou-se John e a frente de Boyman sentou-se Suzy formando um "C" tendo Boyman entre as pontas da letra fechando o quase circulo imaginário.

Ciclo do Lobisomem. 《Concluído》Onde histórias criam vida. Descubra agora