Capítulo 22. O Subsolo.

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Antes das portas voltarem a se unirem, Thompson, portando a maleta misteriosa, saiu do elevador.
Ele é ciente que o elevador para desnivelado em relação ao solo do andar, porém, o desinformado John, não se apercebeu que a "caixa transportadora" está a uns dez centímetros a cima do chão e ao sair, sentiu, por um lapso de momento, o peso da gravidade quando deu o passo para adentrar no corredor. A marcha aprofundada deu-lhe um solavanco no corpo desiquilibrando o homem de quase um metro e oitenta e cinco de altura.
"Shit" ouviu Thompson que se virou para trás a ver o que causou o palavrão lançado.

John está olhando para o bocado de café empoçado no chão que lhe escapuliu da caneca em sua mão em virtude do cambaleio levado pelo solavanco.

- Desculpe, me esqueci de te prevenir sobre o elevador - disse Thompson. - Não se preocupe, deixe isso aí.

John obedeceu ao dito e passou por cima da pequena poça de café e ambos caminharam dentre o "paredal" retangular que não caberia três pessoas a andar uma ao lado da outra, rumo à única porta no fim do estreito corredor claustrofóbico.

Chegando à imponente porta cinza escuro de ferro maciço, Thompson retirou um molhe de chaves de seu bolso e teve dificuldade em achar aquela que se encaixa na fechadura, mostrando que não é de seu hábito abrir aquela porta.

John sentiu-se como um criminoso sendo conduzido à cela da sentença após algum ato delinquente. Por um instante imaginou como seria a sensação de estar ali consciente que em alguns dias seria transferido para algum presídio após julgamento.

O barulho forte feito quando Thompson girou a chave abrindo a tranca, tirou John de seus pensamentos.

Entraram.

O recinto que se apresenta ao passarem pela porta, é um local carcereiro onde no lado direito tem uma parede lisa na qual a porta de ferro se calcou ao ser escancarada, e, ao lado esquerdo, estão quatro celas separadas por paredes entre elas. Um exaustor, dentre duas luminárias no teto, se pôs a trabalhar girando a ventoinha fazendo o ar circular naquele lugar completamente fechado no subsolo do prédio.

Thompson abriu a primeira cela e arrastou para fora uma cadeira lá de dentro e voltou a trancar a porta engradeada.
Foi até à terceira cela e repetiu o mesmo procedimento.

John observa o homem calado se movimentando numa visível preparação de alguma coisa, ou cena.

Thompson abriu a segunda cela e deu espaço dando a entender que ele entrasse.

John lhe encarou profundamente nos olhos por uns poucos segundos e então adentrou calmamente na cela que foi trancada logo em seguida.

John assistiu o chefe arrastar uma das cadeiras e posicioná-la de rente à grade da cela onde ele está; trouxe a segunda cadeira e colocou de frente à outra, sentou nessa; pegou na maleta e a pousou na cadeira rente à grade que se mostrou como uma mesa. Abriu a maleta que revelou uma forma estofada nas quais dezenas de peças de xadrez estão ali guardadas delicadamente. As peças parecem terem sido, detalhadamente, feitas à mão. "O cavalo", por exemplo, é um cavaleiro vestido com armadura da idade média a galopar em seu cavalo que tem suas patas dianteiras levantadas, tão bem quanto "a torre" que é uma replicar bem feita de uma torre quadrada de uma antiga fortaleza.

- Foi um presente de meu avô -disse Thompson retirando, cuidadosamente, o estofado com as peças e por baixo há o clássico tabuleiro quadriculado onde as peças medievais serão posicionadas.

- Sabe jogar?

John consentiu.

A sensação era inusitada na mente de John. Ele que sempre fora um homem digno, nunca se imaginou trancafiado numa cela de polícia. No entanto, os motivos fortes são o que o mantém calmo e sereno em passar pelo momento "revoltante": Suzy vai começar seu "tratamento" esta noite.

John olhou para trás e deu uma vista de olhos no quadrado a sua volta. Duas camas beliche bem arrumadas com lençóis limpos e um travesseiro. Na outra extremidade, um vaso sanitário e um lavabo, tudo em perfeito estado de limpeza.

Não há o que fazer, então John olhou para o chefe a armar as peças, puxou a única cadeira da cela e a posicionou de frente a ele. John passou a mão pela grade e começou a arrumar as peças de base branca em seu lado do jogo.

...

- Eu só não quero perder meu emprego, Suzy - disse Paul concentrado na estrada a sua frente.

- Meu pai te demitir?! - ironizou Suzy. - Nunca! Você é seu braço direito, aliás, você é da família!

- Isso é você quem está dizendo - repudiou Paul com um semblante não muito amigável.

...

Jennifer está chocada com a agressividade de Jonathan por saber do relacionamento do filho com a William.

Noah levantou-se da cadeira onde ouviu atentamente os relatos de sua filha emocionada e deu uns passos até a cerca que separa a varando do jardim detrás da casa. Voltou a acender seu cachimbo e sem vira-se para trás disse:

- Você fica aqui. Ninguém volta para aquela casa hoje. Caso ele ligue...

- Ele não vai ligar, pai! - interrompeu Evelyn.

- Caso - disse Noah voltando a olhar para ela -, minha filha, caso ele ligue, você me passe o telefone.

Voltou a olhar o céu que cobre Inverness e baforou seu prazeroso tabaco.

- Vão preparar o jantar, daqui a pouco são sete horas - disse ele numa notória demonstração de quem quer estar sozinho.

Mãe e filha entraram na cozinha o deixando só.

...

- Chefe Thompson! - disse a voz distorcida pelo rádio quando o chefe fazia um movimento estratégico com o cavalo.

Thompson lançou um olhar interrogativo para John dentro da cela.

- Chefe!!! - Persistiu a voz.

- Sim - respondeu -, na escuta, câmbio.

- Você poderia vir até à portaria? Câmbio.

- Para o quê? Estou ocupado. Câmbio.

- Acho que seria melhor o senhor vir. Tem um casal aqui e está querendo falar com você. Câmbio.

- O que eles querem? Câmbio.

- Não querem me dizer, mas disseram que só sairão daqui depois de te ver. Câmbio.

Thompson voltou a olhar para John e após uns segundos decidiu aderir ao pedido.

- Okay. Estou subindo. Câmbio.

- Vou lá ver o que se passa. Já volto.

Ciclo do Lobisomem. 《Concluído》Onde histórias criam vida. Descubra agora