Capítulo 8. O estrago macabro de um plano arriscado.

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O momento afável não durou muito. Harry recebeu uma mensagem de sua mãe.

"Vá ao meu quarto e pegue roupas para Suzy. Fiquem fechados no seu quarto. Seu pai ligou para a polícia. Encontramos pelos de animal na divisão dos Williams. Não se preocupem, eles não precisarão entrar em nossa casa. Quando chegar eu te conto melhor".

...

Depois de elaborarem uma estratégia para tirar Harry de casa e fazê-lo reaparecer como se estivesse a chegar de algum lugar, Evelyn teve que aceitar que não havia alternativas a não ser arriscar tirar Suzy do sítio na calada noite e leva-la para casa.

Harry já havia ligado para senhora Becker e após lhe resumir o que sabia, ainda a esconder o lobisomem, afirmou que Suzy voltará, às escondidas, esta noite.

Tudo está marcado para as duas horas da madrugada.

O dia escorreu tensamente nas duas famílias. Numa, está à raiva por Jonathan "ter a certeza" que os vizinhos estão atacando seus animais numa tentativa de sabotar suas produções e, na outra, a busca por Suzy desaparecida em meio ao risco de prisão de John William.

Eram pouco mais das nove da noite quando John se trancou em seu escritório. Após uma boa dose de uísque num copo, ele buscou em sua agenda telefônica "Senhora Boyman".

- Tenha calma senhor William - disse a envelhecida voz numa surpreendente premunição ao motivo de ligação.

- Senhora Boyman - refutou John num tom direto de impaciência. - Minha filha nunca passou um dia se quer fora de minha casa sem que eu soubesse onde ela está!

- Senhor William! - Um barulho estranho chamou atenção de John, era como se um bocado de pedras tivesses caído próximo à senhora, mas, antes mesmo que ele questionasse o que havia sido aquilo, ela voltou a falar-lhe. - O destino não pode ser alterado e as famílias serão afetadas com o rumo que a vida deles terá pela frente.

As palavras soaram para John como se alguém lhe tivesse falado num idioma desconhecido.

- Destino deles?!

A Boyman ficou calada.

- De quais famílias a senhora está se referindo?

A mulher se manteve calada e o barulho estranho voltou a soar.

- Suzy vai aparecer senhor William, muito em breve, e se o senhor quiser salvar a vida dela, traga a moça até a mim. E não se esqueça da importância de manter sigilo ao que se passa.

John desligou sem se despedir.

John e Suzy eram as únicas pessoas que realmente viram a criatura gigantesca naquela madrugada que, por mais surreal que fora, aconteceu. Mesmo assim, o surrealismo está a martelar em sua cabeça persistentemente: um lobisomem quase lhe tirou a vida! Contudo, aquela madrugada mudou e desnorteou tudo o que John classificava como realidade, foi então que ele decidiu procurar informações na internet. Acho um site onde conseguiu o e-mail de alguém que afirmava ter vivido esse mal, há décadas.

Depois de alguns e-mails detalhando a madrugada sinistra, Agatha Boyman, finalmente, passou lhe um número telefônico.

A ligação fora longa e de todos ditos nas falas daquela senhora, os que mais surpreenderam a John, foram as afirmações da mudança de comportamento de Rufus perante a pessoa ferida pelo lobisomem "os olhos dos animais não nos veem por fora", disse ela. E, também, a rapidez impressionante que o ferimento havia se fechar, à medida em que se aproximasse da sétima noite pós-acontecimentos. Não eram apenas falas, eram fatos.

Voltou a dosar uísque em seu copo e levou sua atenção para o porta-retratos em sua mesa, este que expõe ele com suas duas filhas e sua esposa. Fora a última fotografia em família. Instintivamente, acompanhou, em seu rosto, o sorriso angelical que Michele esboça na foto. Pegou na peça e acariciou o rosto dela com um de seus dedos. Sentiu a solidão lhe invadir a consciência. "O que aconteceu com você?" Perguntou a imagem da foto. Deixou a falsa sensação de companhia se fazer presente, pegou num de seus charutos, acendeu e levou o porta-retratos consigo até a ventana. Pousou sua família no mármore. Encarou Michele e voltou a perguntar: o que aconteceu com você? Sentiu o gosto madeirado da bebida descer garganta a baixo antes de baforar, para fora do lugar, a fumaça de seu psicólogo mais fiel. Olhou para o horizonte enquanto a tristeza se fortifica, sem piedade, em suas entranhas. John vê as imagens embaciarem, aos poucos, diante de suas olhos. 


Após jantarem, Evelyn levou comida, dissimuladamente, para Suzy. Então que a rotina das noites fluiu como de costume, no sítio dos Smiths. Ela se recolheu em seu quarto, ao lado de seu esposo. Mesmo sabendo que não há outra solução para seu silêncio, Evelyn convive com o incômodo de omitir a ele sobre o relacionamento de seu filho com Suzy. Jonathan não vai aceitar. Acima de tudo, a tenção nesta noite está em seu estopim: Suzy nunca havia entrado na propriedade dos Smiths, muito menos passar a noite dentro da casa de Jonathan. Evelyn deu-lhe um beijo, meteu-se de contas e ficou a espera do horário das ações sorrateiras a seguirem logo mais.

...

21h17min.


Harry está na janela de seu quarto a encarar a abundante lua cheia que aparenta estar a tocar o horizonte ao longe, entre as montanhas e árvores prateadas pela iluminação da mesma. É belo o "quadro" à sua frente, porém, está impossível para ele não assimilar o sombrio que passou a existir ao ver o astro. Todos conhecem a ligação da lua à lenda animália que sua namorada lhe enfiou na realidade. "Isso não vai acontecer novamente!" Pensou. Olhou para Suzy deitada em sua cama. A moça está com seu foco no vago, olhando para cima. Pensa em sua mãe e no que a senhora Becker havia revelado: seu pai está sendo acusado de assassinar o maquinista. Sentiu raiva de si, do maquinista e do destino. De repente, ela começou a sentir o calor se intensificar rapidamente dentro de si. Levantou-se freneticamente da cama. O feito chamou atenção de Harry.

- O que foi? - disse-lhe aproximando-se.

Suzy entra em desespero a respirar desordenadamente, quando sua mente lhe trás recordações da noite anterior. Volta a  sentir a fervura de seu sangue lhe aquecer o interior.

Harry lhe abraça "Calma meu amor". Ele sente a pele dela extremamente aquecida como numa febre de cinquenta graus.

- O que você está sentindo? - indagou.

Suzy, num ato repentino e feroz, o empurrou lançando-o contra a parede próxima à janela.

Harry está para presenciar a mais extraordinária cena que jamais imaginou!

Ciclo do Lobisomem. 《Concluído》Onde histórias criam vida. Descubra agora