Capítulo 33. Suzy, John e ele.

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    A inesperada aparição de John naquele lugar fora para ambos um golpe em diferentes aspectos.

O casal desagarrou-se como se estivessem sido flagrados a fazer algo de ilícito, e se mantiveram a um passo de distância um do outro, num ato desconcertado.

Suzy felicitou-se em vê-lo, não somente por isso, mas sim pelo o que essa aparição representa: ele foi libertado. Por outro lado, para Harry, estar com John William face a face no mesmo cômodo teria que, no mínimo, ser planejado o encontro em uma preparação para seu psicológico numa programação que diminuiria a tensão do momento.

Está gritante no semblante de John que a cena presenciada por ele esteve longe de lhe agradar. No entanto, Suzy tenta criar um clima amigável numa recepção mais que calorosa elevando a desfaçatez cinicamente.

- Pai!!! Que bom que você está aqui!!! - expressou esboçando um forçado sorrido.

John tirou o foco de seu olhar do de Harry e numa marcha firme, direta e intimidadora, avançou até Suzy e estacionou há um passo dela. Viu a respiração de sua filha sair ligeiramente do controle e quando ela se preparou para abraça-lo, numa recepção calorosa, John, sem a mínima piedade, lançou-lhe a mão no rosto esbofeteando a severamente. O feito foi de tão total espanto, que Suzy ficou completamente inerte sem reação algum.

- Tens noção do que você fez na noite de ontem? - falou o pai cerrando os dentes num ódio fulminante.

Dezenas de deduções, ao que possa ter ocorrido, preenchem a mente de Harry. Certamente fora grave, pois John chegou ao extremo de agredir sua filha daquela forma nunca feita antes. A imagem do momento em que ele a encontrou completamente nua a beira do rio fez-se presente e o amontoado de pelos da lobismulher, escondida nela, lhe deu uma fisgada na realidade. O amor que ele sente por Suzy havia lhe ofuscado o que ela é por dentro, e os resultados catastróficos daquela monstra que ele mesmo a viu se transformar diante de seus olhos, são imensuráveis.
Por outro lado, a mente de Suzy, lhe martiriza com golpes de alguns dos feitos desenfreados da besta. Os flashes aterrorizam-lhe fortemente o senso de empatia e o pranto tomou conta de si num choro expressivo de desespero.

- Você acha que adianta chorar? - esbravejou o pai.

Por mais enfurecido que John William esteja, ele tem seu telefone descarregado e desconhece a existência de dois vídeos que circulam à internet mundo a fora, no qual revelam o lobisomem que assoita Inverness.

Depois que Thompson lhe deixara em algum lugar no centro, John pegou um táxi até sua casa e sem dar uma palavra a quem o viu, pegou a chave de seu carro e veio em busca de respostas à casa na colina.

Ele cravou firmemente suas mãos nos ombros de sua filha e a sacudiu freneticamente para frente e para trás num ato de raiva acumulada pelos feitos impensáveis dela.

- Tenha calma, senhor William - disse Harry aproximando-se da cena.

John virou-se para ele sem largar sua filha de suas severas e violentas mãos e lhe atingiu com um olhar ameaçador.

- Não se meta nisso, rapaz! Com você, minha conversa será outra.

Harry parou sem reação e ficou sem saber o que fazer para acalmar aquele homem que têm todas as razões pela fúria "vomitada" sobre a filha .

John voltou a encarar Suzy. Ela chora persistentemente num pranto lamentável. E eis que a imagem dramática de sua filha lhe tocou em seu senso paterno. Ele a soltou e caminhou até próximo à lareira ao fundo da sala.
Harry levou Suzy até o sofá e a sentou tentando acalmá-la.

Na lareira há um mármore acinzentado que serve como uma espécie de prateleira que divide a fornalha da então chaminé que segue por um tudo atijolado até o teto onde expelirá o fumo produzido pelas madeiras em épocas de frio. Um cristal bruto decora o espaço, e, encostado a esta pedramm, há um pendente de colar com o símbolo da Flor da Vida.

Os olhos de John se mantiveram a acompanhar os sete aros entrelaçados dentre si formando uma única figura geométrica circular, característica do amoleto egípcio que representa os sete dias que Deus precisou para criar o mundo.
Seu subconsciente tenta fugir das inúmeras reviravoltas dos últimos dias lhe fazendo se impressionar com a perfeição do simbolo.

Entretanto, sua consciência tem a noção de que o estresse não ajudaria em nenhum sentido ao momento que requer calma e cautela.
Passou uns poucos segundo a olhar o amoleto em suas mãos até que John disse a sua filha:

- Você sabe que eu passei a noite numa cela da polícia do estado para desfocar os olhos da lei de cima de você!

Desta vez, devido a voz mais branda lançada por John, a noção de Suzy foi atingida em cheio sobre a realidade do que seus feitos, sem pensar, podem atingir pessoas inocentes, ou, até mesmo as pessoas que ela ama.

- Eu só queria tirar o senhor dali de dentro, pai!

John se fechou por mais uns instantes dentro de si.

- Suzy - voltou a falar-lhe -, as horas que passei dentro daquela cela, eu tive tempo de trabalhar muito a aceitação do que você é hoje, e às dificuldades que esse tempo necessário, em que você vai passar longe de tudo, trará para nossas vidas. E - John voltou-se para ela - você também precisa aceitar a sua nova realidade! - Finalizou a frase amargurado pela cela que seus olhos veem: Harry Smith acalmando sua filha acariciando sua cabeça atenciosamente.

John percebeu que sua fala não fora unicamenete a ela e sim, amargamente, para si também.

- Mas, pai, a culpa não é minha de ser o que sou.

John caminhou até eles e num movimento de cabeça e olhos mandantes, "disse" a Harry para sentar-se na poltrona de assento único, ao lado.

Harry obedeceu.

- Tens razão - disse sentando-se rente a ela e lhe acariciando a face entristecida -, a culpa não é sua de você ser o que é hoje, porém, quantas vezes eu já lhe disse que o que somos não é o mais importante e sim, o que fazemos com o que somos. Sendo assim, tudo o que você fizer com o que você é, sim, será sempre responsabilidade sua.

A emoção voltou a se fortalecer dentro de Suzy ao recorda-se que esta frase sempre fora dita por sua mãe, a ela e a sua irmã. Ouvir o dito a levou rapidamente ao passado no qual viviam em tempos naquela que fora sua família feliz.

- Sábias palavras, senhor William. - ecoou uma voz branda e zen no lugar.

John, Harry e Suzy foram surpreendidos pela presença da senhora Boyman adentrando no recinto, acompanhada de seu esposo.

- Bom dia! - disse ela quebrando o silêncio que se fez após sua aparição.

Suzy e Harry retribuíram verbalmente a saudação ao casal, por outro lado, John se ateou a um leve movimento de cabeça como resposta.

- Este deve ser o benevolente Harry - aproximou-se do rapaz.

Ele levantou-se.

- Olá senhora Boyman, sim, eu sou o Harry.

- Sim, eu sei meu jovem rapaz! Temos muito que conversar, aliás - virou-se aos outros dois presentes - todos nós temos muito que falar e compreender. Vou preparar um chá para nós - disse indo para a cozinha - enquanto isso, Kevin vai preparar a sala onde vamos falar.

Curiosidade, ansiedade e muitas perguntas fizeram presença na cabeça dos três, porém, o que há de mais forte na mente desses protagonistas, é o desejo de retornar à normalidade de suas vidas o mais rápido possível e aquela senhora é a provável ponte de conexão da atualidade ao que possa ser feito para esse retorno tão querido.

Uma pergunta emergiu dentro deles: O que Boyman ainda tem para falar?

John não se manteve paciente e foi até à cozinha em busca da senhora com suas verdades misteriosas.

Ciclo do Lobisomem. 《Concluído》Onde histórias criam vida. Descubra agora