Capítulo 28. Um ato desgovernado.

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A criatura corre tão rápido quanto a um puma sem a mínima dificuldade entre as árvores e toda a vegetação que compõe a floresta a sua frente iluminada pela luz prateada da lua cheia.

Como havia dito a senhora Boyman, Suzy está, gradativamente, progredindo um tipo de conexão com a mente da criatura a cada transformação. No entanto, a besta não está sendo controlada por ela. A lobismulher sente o desejo frenético e forte cravado no subconsciente de Suzy em ver seu pai livre, e é ali, neste subconsciente, fomentado pela imaturidade dela, que a besta se conecta com a mente daquele corpo que habita. A criatura sabe o que ela quer.

Enquanto a criatura corre desesperadamente, a consciência de Suzy ouvi tudo a sua volta, sente o cheiro e às sensações que o corpo do animal sente, porém, há a ausência da visão, que está como se ela estivesse num lugar em total breu a conduzir um carro sem freios numa descida desgovernado, entretanto alguns flashes como relâmpagos dão uns clarões que a faz captar algumas imagens.

Após quase meia hora contínua em sua incansável debandada pela mata, a criatura decidiu subir um baixo monte que avistou, e quando chegou ao topo, viu do outro lado do rio, a cidade de Inverness ao longe.

Sem hesitar tomou rumo em direção do amontoado de prédios, casas e edifícios iluminados pelos postes que reluzem a claridade feita pelo homem.

Pela noite que se finda a dando entrada à madrugada que está para se iniciar, são poucos os carros que circulam nas ruas do centro da cidade nessas últimas horas do final do fim de semana: o domingo está nos seus minguados minutos do fim.

Não muito longe da ponte Kessock Bridge, esta que conecta o norte de Inverness ao sul, um casal discute dentro do solitário carro a trafegar na estrada A82 em direção ao centro.

- Não me interessa o quanto você esteja com raiva - esbravejou o homem à sua esposa -, não te dou o direito que falar alto com minha mãe, ainda por cima, na própria casa dela!

- Ela gosta de me provocar - disse a esposa sem perder o tom calcado por sua razão -, parece que gosta de ver a gente brigando. Enquanto sua mãe não separar a gente, ela não vai sossegar...

A discussão está aquecida quando chegaram à rotatória que cruza com a estrada A82 à A9, a mesma onde está à ponte.

De repente, o bate-boca foi travado por um solavanco que chacoalhou o carro fazendo o motorista perder o controle do veículo no momento em que estava circulando dentro do ponto redondo. O susto foi pavoroso!

Quando o carro se estabilizou, os dois viram, já ao longe, uma espécie de animal correndo em quatro patas numa velocidade incrível após destruir o capô quando lançou seu corpo por sobre o carro que estava em seu caminho. A cena fora rápida e desnorteante.

- What a fuck?! - espantou-se a mulher. - Você viu aquilo?!

- Vi - disse o marido estupefato -, mas o que pôha é aquilo?

A mulher está boquiaberta com seus olhos arregalados numa expressão perplexa. Ficou sem resposta enquanto assistiu a criatura desaparecer quando virou na avenida que leva ao lado oeste do centro da cidade.

A lobismulher segue sem freios pelo meio das ruas evitando os obstáculos das calçadas. Deixa um rastro amarrotado quando por ventura um desafortunado veículo cruza o seu caminho. Por mais rápida que esteja a debandada; também pela hora que é e pelo vazio que o fim de domingo está acostumado a despojar, alguns olhos estão assustados e incertos daquilo que veem ou que acham que viram correr nas ruas.

Alguns a fumarem em janelas de suas varandas e apartamentos, e outros que caminham nas calçadas, quando, de repente, veem uma espécie de animal passar velozmente no meio da rua. Esses não têm noção da sorte que lhes acompanha em estarem despercebidos aos olhos da criatura, porém, numa silenciosa ruela estreita mais a frente, num Pub muito bem equipado com abafadores de som, duas amigas decidiram sair para fumar e ao saírem, os segundos que aquela porta se manteve aberta, deixou escapar o som do Blues de Gare Clack Jr que toca nos aparelhos ambientando o lugar.
O barulho destroçou o silêncio e chamou a atenção do monstro a solta.
Parou! Suas orelhas pontiagudas identificaram a direção e ela voltou a correr em busca.
São poucos os metros que separavam o caçador de sua caça.

Ciclo do Lobisomem. 《Concluído》Onde histórias criam vida. Descubra agora