Capítulo 60

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- Eu vou lá ajudar a sua tia, tá bem? - ele se abaixou e me deu um beijo na testa, mas ele era tão, tão, tão cuidadoso que eu quase nem sentia os lábios dele tocarem minha pele, mas só de sentir ele pertinho de mim, eu já estava feliz.

Eu fiquei deitado olhando para o teto, eu estava duro feito um manequim de loja. Foi inevitável não pensar em tudo o que tinha acontecido. Eu só me lembrava do Diego me levar para o terreno baldio, me esfaquear e bater. O resto eram somente fragmentos e falsas imagens que só existiam graças a Becca já que ninguém quis me contar nada, todos eram extremamente resistentes em me falar o que quer que fosse sobre o que aconteceu enquanto eu estava em coma. Todo mundo passou a me tratar como se eu fosse criança, como se eu fosse extremamente frágil...

- Cadu, - tia Joana entrou no quarto - a sua amiga Aline quer te fazer uma visita, tudo bem para você?

- Sim!

- Ela vem após o almoço, tá bem?

- Unrum!

Tia Joana e Edu fizeram todo o almoço e o Edu levou o meu lá no quarto mesmo. Era uma sopa batida, eu só me alimentava de líquidos porque minha boca ainda não abria completamente, eu não tinha como mastigar e eu também não podia comer nada sólido devido aos ferimentos internos. Eu realmente tinha levado duas facadas e eu só não morri por proteção divina. Foram várias as lesões internas e os médicos já tinham falado para minha família e amigos se prepararem para o pior, Becca me contou. Eu já estava com vontade de atirar aquele copo de sopa pela janela, mas o Edu me deu toda a sopa no canudinho, com todo o carinho. Toda a minha alimentação era pelo canudinho e eu não via a hora disso acabar.

Além de todos os tratamentos que eu já citei, eu ainda tive que ter um acompanhamento do nutricionista. Eu, literalmente, voltei a ser criança e tive que passar por um processo de reintrodução alimentar. A Nutricionista disse que seria tranquilo já que eu era vegetariano. O médico atribuiu também grande parte das minhas chances de recuperação ao vegetarianismo e meu estilo de vida que fizeram o meu corpo não ter tantas fragilidades e aguentar o tratamento intensivo na UTI.

Após o almoço, infelizmente o Edu teve que ir embora e eu só iria vê-lo no dia seguinte. Tia Joana ficava igual uma galinha envolta do pintinho. Ela estava sempre por perto e sempre atenta a qualquer gemido de dor. Acho que em toda a minha vida, eu nunca fui tão bem cuidado como eu era cuidado pela tia Joana, pela mãe que me escolheu como filho.

- Diego. - eu disse

- Nem fale o nome desse criminoso.

- O que aconteceu?

- Não se preocupe com isso, meu amor. Não vale a pena. O importante é que você está bem, é só isso que interessa.

- Carmem

- Ela está bem, não se preocupe com ela. Ela está com a irmã dela e sempre me liga para saber de você.

- Pensão

- Infelizmente, não existe mais a pensão. Os rapazes foram para outras pensões e dona Carmem mantém a casa fechada. A polícia orientou fazer isso já que o criminoso continua foragido.

- Caio?

- Ele está bem, liga todo dia para saber de você. Ele está tentando vir aqui, mas deu uma apertada lá nas aulas. Ah, tenho uma novidade para você. Ele não está mais com a Criaturinha, ele terminou assim que voltou pra lá. Não me disse como e nem o porquê.

- Feliz?

- Se eu estou feliz? - eu acenei com a cabeça - Com você nesse estado, é impossível eu estar feliz, mas eu fiquei orgulhosa dos meus filhos. Você foi guerreiro em passar por mais essa agressão brutal e o Caio de ter coragem em voltar a ser quem ele é.

Amor que nunca acabará - PARTE 1Onde histórias criam vida. Descubra agora