2. Traumas

2.6K 183 111
                                    

    O último sinal bate, avisando a saída do campus.

São exatamente quatro e meia quando me retiro da sala, indo ao encontro de Hailey e Aidan que ficam sempre próximos à biblioteca.

Consigo distinguir os cabelos ruivos de Jenkins de longe e percebo seu olhar se encontrar com o meu, seguido de um sorriso.

    — O que foi? — Pergunto quando estou próxima o suficiente.

    — Aidan e eu vamos ao Hades hoje. — Começa, enquanto caminhamos para a saída. — Queríamos que fosse.

    — Pensei que fosse lá diariamente. Aliás, você trabalha lá, não é? — Me refiro ao bar onde a maioria dos universitários frequenta quase todos os fins de semana.

    — Sim, mas isso não significa que não posso beber com meus amigos.

    — No horário de trabalho? — Aidan questiona, visivelmente surpreso.

    — Meu chefe é um velho e nem se importa com o que acontece ou o que os funcionários fazem naquele lugar. — Dá de ombros.

    — Pode ser demitida a qualquer momento por isso. — O garoto alerta, segurando as alças de sua mochila com ambas as mãos.

    — Não, o Ross é um cara legal, não me demitiria por bobeira. Ainda mais sabendo que sou ótima no que faço. — Diz — Mas e aí... você vem? — Vira a cabeça para me olhar.

    — Não sei eu... não estou muito a fim. Estava pensando em ir no Cheers comer algo e ir logo para casa.

    Paramos no meio do estacionamento, onde alguns alunos retiram seus carros e transitam por ali.

    — Uau, Lizzie Conway quer ficar sóbria hoje? Quanta evolução. — Aindan implica, sorrindo brincalhão.

    — Cala boca. — Reviro os olhos, fazendo uma careta.

    — Tá bem se a alcoólatra aqui não quer se divertir conosco, devemos apoiá-la nessa decisão tão difícil. — Juntas as mãos uma na outra, tentando segurar o riso.

    — Odeio vocês.

    — Também te amamos. — Hailey manda um beijo no ar, enquanto se afasta de mim. — Vamos Aidan, não posso me atrasar.

    — Tá legal. Nos vemos amanhã. — Faz menção de me abraçar, mas me afasto de imediato, o que o conduz a recuar também, completamente sem jeito.

    Dou um sorriso amarelo.

    — Desculpa é... força do hábito. — Me justifico.

    Desde pequena eu havia sérios problemas com afeto devido às memórias que tento a todo custo bloquear da minha mente, mas que as mesmas insistem em fazer parte de mim. E desde então tenho dificuldade em deixar as pessoas me tocarem, nem que seja por poucos segundos.

    — Não tudo bem eu... esqueci que não gosta de abraços. Foi mal. — Sorri sem graça, coçando a nuca.

    — Anda logo Aidan! — Ouço a ruiva gritar pelo garoto, já dentro do carro.

    — É melhor você ir.

    — Ok, então... tchau. — Acena rapidamente, andando em passos rápidos em direção contrária e eu logo faço o mesmo, indo para a hamburgueria da cidade.

             ════════ ××× ════════

    A hamburgueria Cheers fora o primeiro lugar a qual visitei quando cheguei na cidade e desde então se tornara o meu lugar favorito.

GiverOnde histórias criam vida. Descubra agora