Observo o prédio diante de mim.
Nunca me pareceu tão difícil entrar em um lugar como está sendo agora. Eu não devia estar aqui.
Tudo o que mais queria era ir para qualquer outro lugar do mundo que não seja um hospital psiquiátrico onde passei a maior parte da minha infância e adolescência frequentando.
Isso apenas para tentar ter uma vida um pouco normal e menos traumática quando se tornasse uma adulta.
O que não adiantou muito, já que parei de vir há mais de um mês e tudo o que lutei para superar durante todos esses anos vieram como uma onda grotesca de frustrações, me levando à estaca zero.
Respiro profundamente e tomo coragem para entrar no prédio que contém poucas pessoas conversando ou apenas aguardando alguém do lado de fora.
Preston havia se voluntariado para vir comigo, mas eu neguei. Apesar de ser ótimo ter sempre sua companhia nas consultas desde quando eu era criança, precisava começar a vir e lidar com essa situação sozinha.
— Oi, em que posso ajudar? — A moça de óculos de grau e coque apertado no balcão de atendimento interroga.
— A doutora Kouris me ligou, disse que quer me ver.
— Ah você é a... — Abaixa os olhos para uma pilha de papéis. — Lizzie? Lizzie Conway?
— Isso, sou eu.
—Ah ótimo, Kouris avisou que viria. Disse que poderia subir até a sala dela assim que chegasse.
— Sério?
— Sim, ela está te esperando. Sabe onde fica?
— Sim, sim, claro. Obrigada. — Agradeço e logo me direciono para um dos inúmeros corredores da psiquiatria.
Durante o percurso, encontro alguns pacientes vestidos com camisolas hospitalares sendo conduzido por enfermeiras e que ao me verem passar por eles, me seguem com um olhar de seriedade e frieza, com seus rostos na maioria magros e com olheiras profundas devidos aos fortes medicamentos que tomam diariamente.
Evito encará-los de volta e sigo meu caminho para o elevador mais próximo, subindo para o décimo quinto andar.
Me sinto estranhamente nervosa, como se fosse a primeira vez que estou vindo ver minha psiquiatra.
Minhas mãos suam e eu as seco em minha minissaia, torcendo os dedos um no outro tentando me manter calma.
As portas de inox se abrem, revelando um corredor longo, largo e bem iluminado.
Fico ainda alguns segundos parada no elevador, apenas encarando o extenso saguão que obtém diversas portas de madeira branca idênticas uma à outra a cada lado, pensando em apertar o botão de térreo e simplesmente ir embora.
Vamos lá Lizzie, é só uma consulta com sua psiquiatra nada demais. Você já fez isso antes.
Digo para mim mesma em pensamento e me apresso em segurar as portas do elevador que estão prestes a fechar, saindo dele e caminhando em passos lentos e cautelosos até a penúltima porta do meu lado esquerdo.
A pequena placa prateada reluz o nome "Dr. Kouris — Psiquiatra" e a observo por poucos instantes, antes de tomar coragem e bater três vezes de leve na madeira.
Consigo ouvir um certo movimento do lado de dentro e em minutos a porta se abre, revelando uma mulher alta de pele escura e feição dócil. Nos encaramos por um momento, antes dela me lançar um sorriso fechado e carismático.
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Giver
RomanceAtenção: Esse livro contém spoilers de "Mais de Você". A leitura de MDV não é obrigatória, mas saibam que terá algumas referências e personagens dele aqui nesse livro. Após um trauma de infância que a assombra diariamente, Lizzie Conway preci...