38. Descobertas

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    Paro em frente ao alpendre da casa de Aidan. Avalio a varanda de chão de madeira por longos segundos, como se tentasse, de alguma maneira, criar coragem para subir os degraus de entrada e bater na porta.

    Olho as horas no meu celular. Onze horas. Tinha exatamente uma hora para falar com o garoto antes de ir para o julgamento junto — é o que espero —, com ele.

    Subo os degraus e paro em frente a porta branca e bem cuidada. Aperto a campainha e bato três vezes a aldrava da porta, como se não fosse o suficiente o tilintar do sino. Aperto meus dedos, sentindo-os suados.

    Queria acreditar que Dylan estava errado sobre o Aidan. Deus, como eu queria.

    O mesmo me ligara hoje mais cedo para avisa que saíra do hospital e que estava indo a caminho do ferro-velho da cidade a procura do meu carro.

    "O que ele está fazendo é loucura" pensei, mas optei em não dizer isso a ele, afinal, concordei em deixá-lo provar sua teoria absurda.

    A porta se abre, revelando Aidan. O garoto usava calças de flanela e uma blusa de banda, seu cabelo loiro feito um ninho em sua cabeça e uma feição de surpresa no rosto.

    — Lizzie? O que... o que faz aqui?

    — Oi, Aidan. Posso entrar?

    Ele dá um passo à frente e olha para os dois lados da varanda, como se certificasse que ninguém estava nos vendo.

    — Ãhn... claro. Entra.

    Passo por ele assim que se afasta da entrada e adentro o cômodo. Tudo estava da mesma maneira que lembrava desde quando vim a última vez, no dia da festa. O sofá claro no canto da sala pequena, a TV do outro lado e o estreito corredor que dava vista da ilha da cozinha.

    — Então... aceita alguma coisa? Uma cerveja, talvez?

    — Estou sóbria esses dias.

    — Ah... — Solta o ar pela boca, como se não esperasse por essa resposta. Ainda mais vindo de mim. — Um café, então? Fui no Starbucks comprar. Talvez ainda esteja quente. — Vai em direção a cozinha e eu o sigo, olhando atentamente ao redor, com as mãos suando dentro da jaqueta que uso.

    — Ãhn... pode ser.

    — Certo. Aqui. — Estende um copo do Starbucks para mim.

    — Obrigada.

    — Pode sentar se quiser.

    Não digo nada, apenas me sento sobre o banco da ilha e bebo um pouco do meu café, esquentando minhas mãos no copo.

    — Nunca reparei que a sua casa era tão... aconchegante.

    Observo o armário planejado cor de caramelo em um canto e o balcão de mármore preto tomando duas paredes logo abaixo do móvel e que se embutia com a pia e o fogão elétrico.

    — É. Mas não acho que veio aqui para falar da minha casa. — Se senta no extremo da ilha, bebendo seu café e me observando pela borda do copo.

    Olho para minhas mãos, não sabendo bem como começar o assunto que queria.

    — Olha, — Aidan começa e fito seus olhos. — Eu... sinto muito pelo que falei aquele dia, na festa. Fui um completo babaca por falar toda aquela merda de você. Me desculpe.

    Não sei o que fazer ou falar. Apenas continuo a observar o garoto, que espera ansioso pela minha resposta inexistente.

Consigo constar a feição esperançosa se dispersar do seu rosto lentamente pelo meu silêncio. Logo ele suspira.

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