𝗺𝗶 𝗮𝗺𝗼𝗿, 𝖵𝖨𝖭𝖭𝖨𝖤 𝖧𝖠𝖢𝖪𝖤𝖱

𝖭𝗂𝗇𝖾

𝗠𝗜𝗔 𝗚𝗥𝗔𝗬

A casa estava silenciosa demais quando empurrei a porta.

— Cheguei. — anuncio, embora a resposta fosse óbvia.

Ninguém. Nenhuma voz, nenhum passo, nenhum caos.
Pela primeira vez no dia, respiro aliviada. Me jogo no sofá como quem se rende a um abraço, e ligo a TV apenas para ouvir um som que não fosse o das minhas próprias preocupações.

Duas da tarde.
A manhã inteira tinha sido engolida pela rotina frenética da casa dos Hacker — café, conversas, almoço, risos... e, claro, o inevitável Vinnie pairando na minha mente como um problema que eu fingia não ver.

O calor me abraçava de um jeito quase agressivo. Lá fora, a piscina brilhava como se tivesse sido feita justamente para me provocar.

Tanto faz.
Um mergulho não mataria ninguém.

Caminho até o quarto. Entro no closet e escolho um biquíni azul-claro. O tecido desliza pela pele, mas no banheiro sou interrompida pelo reflexo: uma marca vermelha no meu braço, exatamente onde Samantha me apertou.

Aperto os lábios.

Não doía mais.
Mas queimava — como lembrança.

Pego meus óculos, a toalha e uma revista da Dior. Na área da piscina, me deito na espreguiçadeira, tentando absorver o sol como se ele pudesse derreter tudo que eu não queria sentir.

Pensamentos demais.
Faculdade, futuro, expectativas, fracasso.
Era como ter um milhão de perguntas e nenhum lugar para escondê-las.

Até que uma sombra se posiciona diante de mim, bloqueando o sol.

Abro um olho.

Vinnie.
Claro.

— Sabe onde está o Blake? — ele pergunta, mas seu olhar escorrega pelo meu corpo como um toque que eu não pedi.

Puxo a toalha e cubro tudo, quase como um reflexo de defesa.

— Não. Quando cheguei, ele já não estava aqui. — respondo.

Ele apenas assente e se afasta, mas a sensação de ter sido analisada continua grudada na minha pele, quente e desconfortável.

⸻

Mais tarde, Blake entra no meu quarto como um vendaval desengonçado, se atira na minha cama e cobre o rosto com as mãos.

— Ela terminou. — sua voz sai abafada, partida.

Viro o corpo para ele.

— Oi? Como assim?

— A Amélie. — ele sussurra, e meus olhos se arregalam.

— Eu pensei que vocês iam casar... — digo, sentando ao seu lado. O cheiro de álcool o envolve como um perfume triste.

— Eu também. — ele responde, com um sorriso quebrado.

Eu nunca soube consolar.
Nunca.

— Não fica assim... — tento, desajeitada.

— Ela vai fazer intercâmbio. — ele completa. — Disse que namoro à distância não funciona.

Seus olhos ficam perdidos por um instante, e dói ver alguém tão grande encolher daquele jeito.

⸻

No início da noite, um som alto invade a casa, vibrando nas paredes como um soco. Eu podia jurar que o piso tremeu.

Respiro fundo, irritada, e desço as escadas. Lá embaixo, Vinnie, Bryce e Blake riam como se o mundo fosse deles.

— Dá para baixar esse som?! — pergunto. Não recebo resposta.

Blake apenas se vira para mim com aquela cara de quem tomou a pior decisão possível e está orgulhoso disso.

— Tenho que te avisar uma coisa. — ele anuncia. — Vou dar uma festa. Vai trocar de roupa, porque os meninos já estão chegando.

— Quem te deu permissão? — pergunto, em choque.

Ele dá de ombros.
Claro que dá.

Reprimo um grito e subo para o meu quarto. As meninas precisam saber da confusão que vai começar aqui em quinze minutos.

⸻

— Como eu odeio o seu irmão. — Amy entra reclamando, já revirando os olhos. — A Amélie fugiu na hora certa, isso sim.

— O que ele fez agora? — pergunto, embora tema a resposta.

— Chegueeei! — Megan entra animada demais para o caos que estamos prestes a enfrentar. — E vocês não vão acreditar: o Blake, que ontem estava destruído, já está se pegando com uma menina na sala.

Reviro os olhos tão forte que quase vejo o passado, o presente e o futuro ao mesmo tempo.

A noite mal começou.
E já promete ser um desastre.

Mi Amor está em 3 lugar, no ranking de vicenthacker.