𝗺𝗶 𝗮𝗺𝗼𝗿, 𝖵𝖨𝖭𝖭𝖨𝖤 𝖧𝖠𝖢𝖪𝖤𝖱

𝖭𝗂𝗇𝖾𝗍𝖾𝖾𝗇

Sinto minhas pálpebras arderem como se fossem feitas de papel fino. Cada tentativa de abrir os olhos parece um esforço gigante. Levo a mão até o rosto, tentando bloquear a luz branca que invade o quarto com uma violência quase pessoal. Aperto os olhos algumas vezes, respirando fundo, até finalmente conseguir abri-los por completo.

Demoro alguns segundos para entender onde estou.
As paredes não são as da minha casa.
Nem as do quarto da Megan.

O perfume suave de amaciante, misturado com algo masculino — amadeirado, quente — me acerta antes mesmo da lembrança.

Estou no quarto do Vinnie.

Meu coração dispara num pânico imediato e impossível de disfarçar.

Como eu vim parar aqui?
O que aconteceu ontem?

Antes que eu consiga processar melhor, a porta se abre devagar.
E é ele que aparece.

Vinnie entra com o cabelo bagunçado, os olhos levemente inchados, como se tivesse dormido pouco. E mesmo assim... ele sorri. Um sorriso preguiçoso, caloroso, que — só Deus sabe como — faz meu estômago virar do avesso.

— Acordou, Bela Adormecida? — pergunta, e o jeito como ele fala "Bela" me deixa sem ar por um segundo. — Tem remédio pra ressaca naquele pacote aí do lado. — aponta com o queixo para a cômoda.

— Obrigada... — respondo, ainda tateando o chão da realidade.

— Eu já estava saindo. Só vim pegar uma roupa. — ele diz, indo até o closet.

Eu tento me levantar.
E é então que percebo o detalhe que muda tudo:

Estou usando uma blusa dele.
Só a blusa dele.

Meu corpo congela.
Meu rosto pega fogo.

Puxo a barra para baixo, sento de novo na cama e cubro as pernas com o lençol, tentando recuperar alguma dignidade.

Meu Deus... será que ele me viu de calcinha?
Vinnie. Me viu. De calcinha.

A alma quase sai do meu corpo.

— Foi a Megan que te trocou. — ele diz do nada, como se tivesse lido meus pensamentos mais desesperados. — Eu não vi nada, relaxa. Ela entrou aqui, te trocou e foi pro quarto com o Antony.

O alívio me acerta como um suspiro quente.

— Acho melhor eu ir indo. — digo, levantando outra vez. — Eu... posso devolver sua blusa depois?

— Claro que pode. — ele responde, aparecendo de novo na porta.

Ele me olha.
Dos pés à cabeça.
Devagar.
Como se estudasse cada detalhe.

E algo muda na sala.

O ar fica mais denso.
Meu coração bate mais alto.
E eu sei que ele percebe isso — porque seus olhos desviam rápido, como se tivesse sido pego em flagrante.

— Desculpa. — murmura, coçando a nuca.

Eu não respondo.
Só saio antes que minhas pernas percam a força.

⸻

Uma semana depois...

— Hoje é quinta. Podemos dormir até meia-noite. — Megan comenta, animada.

— Não podemos. — digo. — Amanhã temos treino.

Ela arregala os olhos, lembrando.

— Boa sorte pra vocês. — Amy diz. — Se eu não responder no grupo, é porque estou na casa da tia Vic. — Ela acena distraída. — Tchau!

— Tchau... — digo quando ela já desapareceu do corredor.

— Vamos. Tenho uma coisa pra te mostrar. — Megan diz, me puxando pela mão.

Seguimos pelo caminho de sempre, mas algo em mim não está igual.
Talvez seja o peso da semana.
Talvez seja a blusa do Vinnie, ainda dobrada na minha escrivaninha.
Talvez seja o fato de que, desde aquela manhã, eu sinto os olhos dele sobre mim mesmo quando ele não está olhando.

Caminhamos e, no meio das fofocas sobre o baile, percebo:

O momento no quarto dele não saiu da minha cabeça.
E, pelo olhar dele naquela manhã...
Talvez não tenha saído da dele também.

Não revisado.

Bjssss Mab❤️