38. Ligações

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O dia não tinha amanhecido quando minha mãe ligou, acordei com um susto. Me ergui rápido da cama assim que vi sua foto no visor, atendi entre cochichos e desci as escadas no maior silêncio possível. Quando cheguei no início da plantação de uvas me sentei na pequena mureta para ouvir o que minha mãe tinha a dizer, com certeza era algo sério e importante já que ela não pôde esperar eu acordar.

Eu sabia que não era com ela ou com meu pai porque ela havia dito que eles estavam bem, então o que poderia ser? Pensei em tantas coisas tantas possibilidades mas, nenhuma delas estava nem perto do que ouvi minha dizer. Eu demorei algum tempo para conseguir reagir, algum tempo para me recuperar tamanha surpresa, surpresa talvez nem seja a palavra certa, acho que foi um grande choque.

_Ele está preso...? Mãe! Ele bateu nela? Nossa! Estou tão... Assustada! - digo olhando para a porta de entrada de onde um Gregório confuso sai.

_Ele não bateu na menina só que quebrou o telefone dela, a garota ficou com medo e se trancou no banheiro com um outro celular. Kaio ficou ainda mais nervoso achando que ela estava escondendo alguma coisa e chutou a porta, bateu. Ela tinha ligado para uma irmã que é delegada e para o irmão que é da polícia federal, parece que toda a família dela pertence a polícia ou exército o resultado foi ele saindo do apartamento algemado. O dia nem amanheceu e ela tinha uma medida protetiva contra o Kaio. Ele vai voltar. Colocou o apartamento a venda.

_Mãe! Eu nem sei o que dizer...

_Não diga nada. Acho que a Kate precisa de apoio, ela é a que está mais abalada com tudo.

_E ele? Como ele está?

_Não sei... Seu pai disse que Kaio está muito triste, abatido. Ele admitiu que tem problemas e que essas crises dele estão o levando para o buraco.

_Tomara que agora ele decida se tratar. Ele precisa disso, precisa se tratar e ser feliz.

Gregui buscou um cobertor e veio se abraçar a mim, sorrio para ele agradecida por ele estar comigo, por vim me aquecer.

_Vai dormir agora minha filha. Vai descansar seu noivo vai ficar preocupado se acordar e não te encontrar.

_Ele está aqui, veio me abraçar com um cobertor quentinho.

_ Ele é tão carinhoso! Gosto dele, estou feliz por vocês. Agora vão dormir!

_ Boa noite mãe.

_Boa noite minha filha. - desligo o telefone e abraço meu noivo buscando algum conforto, me sinto estranha e confusa com meus próprios sentimentos.

_O que aconteceu? - ele me pergunta enquanto caminhamos para dentro da casa.

_O filho de um amigo da família foi preso.

_ Que chato! Por que?

_Ele tem alguns probleminhas para controlar o ciúmes... - não sei porque me sinto tão estranha para contar qual o real motivo.

_Ele bateu em alguma mulher? - balanço a cabeça em negativo. - Ele matou!?

_Não! Não é tão grave assim, ele quebrou o celular da namorada que tem pessoas na polícia e ele foi preso.

_Não deixa de ser sério.

_É... - digo enquanto abrimos porta do nosso quarto.

_Você ficou triste. - ele se quer perguntou, me jogou logo uma tremenda afirmação dessas.

_Eramos grandes amigos desde crianças... Agora, parece que eu não o conheço.

_Parece bem complicado. - meu noivo diz se deitando e me abraçando.

Ele dorme em seguida e eu vejo o dia nascer.

...

Desligo o telefone me sentindo nervosa e ansiosa, Kate nunca tinha chorado tanto, ela sempre foi a mais forte de nós e ouvir ela falando com tanta dor do irmão que era seu herói... Isso doeu em mim também.

_Ele bateu nela Sam, eu sei. Todos disseram que não mas... Ela me contou sobre uma briga em que ele pegou o braço dela com força. Como o meu irmão se transformou nessa pessoa?

Eu queria dizer que era tudo culpa da Andréia, que ela tinha sido uma vaca mas, não tinha certeza até que ponto ela tinha realmente culpa de tudo, ou até que ponto era realmente culpa dela. Por isso eu respondi com a verdade, a minha pelo menos.

_Eu não sei... Sinto muito!

Eu realmente sentia muito, muita tristeza, muito desapontamento, muita preocupação, muito medo, muito... Muito de tudo!

Depois que Kate desligou o telefone foi a vez de Tati me ligar e ficar conversando por quarenta minutos! Gregório estava me cercando quando desliguei e eu sabia que teria que contar e me pabrir sobre essa parte da minha vida.

Contei que eu Kaio namoramos que vivemos juntos na casa dos pais deles por um tempo. Contei do ciúmes idiota dele e por fim como foi o nosso trágico término. Meu noivo é um homem maduro e seguro de si, ele também não tem muitos motivos para não ser.

PKaio estava me ligando no meio da minha viagem, quando eu havia aceitado um pedido de casamento e ele havia se mostrado violento. Agora que todos me davam razão.

Eu não atendi de primeira, fiquei olhando tela acessa e seu nome refletido nela enquanto meu telefone não parava de vibrar. Não tinha certeza se queria e menos ainda se deveria atender.

Será que ele ao menos sabia que eu estava em outro país e que estava noiva agora? Se ele sabia será que ligaria? Será que ainda me amava?

Eu queria as respostas para essas perguntas? Não. Eu era covarde de mais para atender, covarde de mais para contar. Por isso coloquei o celular sobre a cama e sai do quarto sem olhar para trás.

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