Capítulo 62

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Ajeitei minhas tornozeleiras e calcei meus tênis da Adidas, fazendo um laço bem firme escutando as meninas falaram, cantarem e rirem, tudo ao mesmo tempo. Eu estava quieta, pensando na última vez que estive ali no vestiário e me trazia péssimas lembranças.

- Tá bem? - Roberta me perguntou, se sentando ao meu lado.

- Acho que sim! - comentei, acertando minhas joelheiras, que estavam tortas.

- Não fica pensando em nada além do jogo, aí tu consegue! - sorri, assentindo - Vai marcar quantos pontos hoje? - me questionou rindo e eu acabei soltando uma risada também.

- A meta é sempre se superar! - ela gargalhou.

- Exatamente, vou levantar todas para você então! - ri.

- Tudo bem, obrigada!

- Bora ganhar mais uma? - se levantou e estendeu a mão para mim, que firmemente a segurei, me levantando também.

- Bora!

Fizemos nossa rodinha e Zé junto com o resto do pessoal da comissão técnica adentraram no vestiário para as últimas instruções e também para fazermos nossas orações. Nos dirigimos em fila para a quadra, que estava bem mais cheia do que meia hora atrás quando estávamos nos aquecendo.

A seleção da Sérvia já aproveitava o tempo ocioso para treinar mais um pouco do saque e eu aproveitei Garay foi fazer a divisão de quadra com a capitã do time adversário, para procurar Bruno com o olhar. O avistei, rindo de algo com Théo em seu colo, ao lado de  dona Vera, que acenou para mim, e de Luiza, além de Bia, Lucão e alguns rapazes do time. Acenei de volta para a minha sogra (agora oficialmente) e percebi que a atenção do meu namorado já estava em mim. Ele sorriu para mim e silabou algo, ri, fingindo que tinha entendido, mas na verdade Bruno fazia isso de propósito porque sabia que eu não entendia nadica de nada de leitura labial.

- Laura? - ouvi Zé me chamar e então desviei a atenção para o técnico - Tá pronta mesmo para fazer isso, né? Você estava pensativa hoje mais cedo no ônibus que fiquei preocupado!

- Eu tô pronta! 

- Tudo bem, acredito e confio em você! - assenti - Garay começa no saque hoje, mas queria que você ficasse atenta no bloqueio porque sabemos que a 13 deles é bem conhecida por explorar muito bem a defesa!

- É, eu sei bem! Ela joga no Brasil, já enfrentei ela uns tempos atrás! - comentei e Zé assentiu - Mas te digo que às vezes, ela não se posiciona tão bem quanto deveria e isso deixa bastante espaço!

- Isso é uma boa observação! Olha, entra lá e a gente vai vendo o que podemos ir mudando ao longo do jogo e como você observa bem a partida, pode me sugerir algo também! - concordei.

- Tá bom! - sorri e me tomei meu lugar de quadra depois de cumprimentar minhas companheiras.

Fernanda sacou após a autorização do juiz e a bola foi bem recepcionada pelas sérvias, que logo voltaram a bola para o nosso lado com muita força, quase dificultando a defesa da Brait, que caiu mas fez o passe para Roberta que estava de titular hoje.

A levantadora ajeitou a bola durante seu toque, em minha direção. Enquanto subia para alcançar a bola, olhei para a quadra adversária e tentei procurar uma brecha, mas não tinha porque estavam todas bem posicionadas. Senti a bola tocar em minha mão direita, não me restando muita escolha a não ser tentar jogar em cima da jogadora que pudesse estar mais desatenta. 

A central camisa número 5 foi meu alvo, que tentou receber a bola de manchete, mas o objeto não seguiu a direção que ela queria e foi parar na arquibancada. Comemorei com as meninas o nosso primeiro ponto da partida! Ri comigo mesma, enquanto voltava para a minha posição.

Nossa, como eu amava jogar vôlei!

A seleção da Sérvia era uma das melhores do mundo e por isso o jogo todo foi pegado. Não havia espaço para erros, mas eu e zé estávamos atentos à qualquer espaço que elas davam e por isso conseguimos ganhar a partida mais importante para nós dos últimos dias, nos assegurando 100% nas próximas olímpiadas e ainda garantindo a nossa liderança no Torneio, o que também era muito importante para o Ranking FIVB.

Cumprimentei minhas colegas de time e também nossas adversárias, que foram duras na queda. Foram 3 sets muito suados para conquistar a vitória. Olhei para o camarote e não vi Bruno mais, provavelmente ele já estava a caminho dali. Ri e fui caminhando em direção ao vestiário, mas fui chamada para uma rápida entrevista, segundo a jornalista.

- Laurinha, gostaríamos de saber como fica a preparação para o último jogo do torneio, já que hoje vocês já garantiram a vaga para a Olimpíadas e também a liderança do grupo?

- Acredito que apesar dos resultados bons e das conquistas, vamos estar concentradas para a partida, até porque a República Dominicana está com vindo com uma ótima seleção e é claro que queremos fechar com chave de ouro, assim como começamos! - sorri.

- Laura, se me permite perguntar sobre um assunto um pouco delicado, mas gostaríamos de saber como você está, depois de tudo que aconteceu há alguns dias?

- Bom... - eu suspirei - Foi um momento difícil, não superei 100%, mas todos os dias eu tento não pensar muito e prosseguir, afinal eu tinha duas escolhas: ou eu deixava tudo o que aconteceu tomar conta da minha vida, me impedindo de ir atrás dos meus sonhos ou eu me levantava e tentava seguir em frente! Ainda bem que escolhi a segunda opção! - eu ri - Mas só consegui isso por conta dos meus amigos, da minha família e também do pessoal da comissão técnica que me deram todo o suporte e tiveram toda a paciência do mundo comigo nesse momento! E ah, à todos que também me deram apoio pelas redes sociais, foi muito importante e queria aproveitar para dizer a todas que passam por isso e têm medo de falar algo, de denunciar, que não deixem o medo superar a razão! 

- Eu posso te dar um abraço? - a repórter perguntou, com os olhos cheios de lágrimas e eu assenti, abrindo meus braços em sua direção - Você é uma mulher muito forte e eu, assim como milhares de mulheres ao redor do mundo, ficamos muito felizes em te ver hoje em quadra e fazer aquilo que você mais ama! - sorri, também emocionada.

- Obrigada!

- Eu e toda a equipe do SporTV te desejamos muita sorte na Itália, nessa nossa fase! - sorri, a abraçando novamente.

- Agradeço, de verdade! - sorri.

- Então é isso, Luís! - a repórter riu, ainda emocionada. O cinegrafista fez um sinal, indicando que já haviam saído do ar - Muito obrigada pelo seu tempo, Laura!

- Imagina! - sorrimos e nos abraçamos mais um vez. Me afastei deles, me despedindo e procurei Bruno com os olhos e o achando facilmente, já que ele estava apoiado na parede próximo à entrada do vestiário, sorrindo para mim. Caminhei em sua direção e fui recebida com um beijo.

- Líderes, hum? - ri.

- Pra você ver o quanto estamos boas! - foi a vez dele rir.

- Tô muito orgulhoso de você, de verdade! - sorri e o abracei, ficando com meu rosto no seu pescoço, sentindo o cheiro do seu perfume.

- Amor?

- Oi!

- Obrigada por ser tão bom para mim! Quer dizer, sempre que eu precisei você esteve lá, me dando suporte e eu nem sei como eu posso retribuir tudo que você faz por mim! - disse, me afastando dele somente o suficiente para manter nossos olhares se encontrando.

- Você já me retribui isso tudo todos os dias, com seus sorrisos, seus abraços, seus beijos, seu amor e isso para mim é o suficiente! - sorri e o beijei.

- Eu te amo muito, Bruno!

- E eu te amo mil vezes mais, Laura!

Destino - B. RezendeOnde histórias criam vida. Descubra agora