Chegamos no estádio praticamente todos juntos. O time feminino do Brasil ainda não estava em quadra, mas logo elas adentram, já prontas para o jogo e aproveitando o tempo ocioso para aquecerem mais um pouco. Minhas irmãs e Fernanda acenaram para Laura quando ela olhou para nosso lado.
Eu dei uma piscada para ela, que sorriu, mas eu sabia que ela estava nervosa não só por estar voltando da lesão, mas principalmente porque todos estavam a criticando depois que nossas fotos foram parar na internet.
A jogadora conversava com Zé e com a Garay antes de caminhar para a linha de fundo, um pouco assustada.
- Laura vai começar sacando! - meu pai disse ao meu lado, enquanto eu a observava.
- Ela manda bem no saque! - Lucarelli comentou e nós concordamos.
- Calma, meu anjo! - eu sussurrei, mesmo sabendo que Laura não poderia me escutar.
A jogadora quicava a bola e eu já a percebia mais concentrada, analisando bem o time dos Estados Unidos e naquele momento eu daria tudo para saber o que ela planejava. Quando a juíza autorizou, Laura sacou por cima, acertando a ponteira americana, que não teve como defender a bola.
- AÊ, LAURINHA!!!!! - Douglas, que estava sentado na fileira de cima, gritou - ACABA COM ELAS! - nós ali na arquibancada rimos.
Depois de comemorar com as meninas, ela voltou para o saque, quase num ace. Ouvi Laura xingar, correndo em direção à rede para fazer um bloqueio ao lado da Garay. Vitória sorria animada ao lado do meu pai, batendo palmas, o que me fez rir.
- Nossa, que treinador louco! - Lucarelli comentou depois que o técnico dos Estados Unidos pediu desafio - Até um jegue perceberia que tocou!
- Esse é o jogo deles, quebrar o ritmo do time adversário! - meu pai comentou para meu companheiro. Na verdade, eu só ouvia o que eles falavam porque o tempo todo eu ficava olhando para a Laura em quadra, todos os seus movimentos e expressões. Ela ficava muito linda concentrada.
O jogo fluía super bem, tanto que as meninas ganharam com ampla vantagem o primeiro set. Já o segundo, foi mais pegado. Um dos mais longos do torneio até agora, mas as meninas conseguiram vencer de 31x29. No início do terceiro, Laura foi para o banco, o que me fez ficar ficar super preocupado, considerando que ela voltava de lesão. Vi ela conversando com o Júlio e fiquei encarando, nas esperança que ela olhasse para mim e eu pudesse conferir se estava tudo certo ou não.
Assim que seus olhos foram de encontro ao meu, eu silabei um "Está tudo certo com o tornozelo?", mas ela não entendeu, o que nos fez rir. Ouvi a risada do Luca ao meu lado e o olhei, ele levantou o tornozelo e apontou para a Laura, que finalmente entendeu o que eu estava querendo saber.
Ela balançou a cabeça, indicando que não estava sentindo dor nem nada no tornozelo, o que deu um alívio. Fiquei a olhando, enquanto Laura voltava a prestar a atenção no jogo, me parecendo mais tensa a cada ponto que os EUA faziam.
- Bruno, por quê a Laura não tá jogando mais? - Vitória me perguntou, me fazendo tirar os olhos da jogadora e olhar para a minha irmã.
- Acho que ela deve estar cansada! - supus e minha irmã ficou um pouco chateada.
- Você acha que ela vai jogar mais hoje?
- Talvez sim, deixa ela respirar um pouco! - eu ri e minha irmã sorriu.
Voltei minha atenção para a quadra e os times voltavam para quadra depois de um pedido de tempo do Zé Roberto. As brasileiras estavam mais perdidas em quadra dessa vez e eu desejei muito que a Laura voltasse para jogar, porque corria o risco das americanas conseguirem até fechar o set. Parece que Deus ouviu minhas preces, porque logo o Zé chamou a oposta.
- Ela vai voltar, Vitória! - meu pai disse para minha irmã, que olhou diretamente para a jogadora, que conversava com o treinador e segurava uma plaquinha nas mãos.
- EBA! - Vitória comemorou e nós ali rimos da pequena.
- Perdeu sua irmã para a Laura! - Lucão, que estava ao lado do Douglas, comentou e eu sorri.
- Tô sabendo! Nem quando eu vou jogar, a Vitória fica tão animada assim!
- O dia que você fizer 21 pontos numa partida, quem sabe ela fica assim! - Douglas comentou e eu o olhei, pasmo.
- Ela já fez 21 pontos?
- Fez! - me mostrou a tela do celular, que tinha as estatísticas do jogo - E olha que nem acabou!
- Porra! - eu disse voltando a me ajeitar no meu lugar, percebendo que Laura já estava em quadra. Aos poucos ela ia auxiliando o time a voltar para os eixos e ao lado da Jaque e da Garay, elas conseguiram virar o jogo.
Faltava pouco para o jogo terminar quando um lance me surpreendeu para caramba. A disputa pela bola estava intensa, até que Macrís, a levantadora do time, teve que fazer uma defesa incrível e a bola sobrou para a Laura.
- Será que ela vai fazer o que eu tô pensando? - meu pai questionou um pouco antes da jogadora agir. Ela deu uma olhadinha para a quadra adversária e pensou rápido, fazendo um levantamento para a Jaque.
- PUTA QUE PARIU!!!!! - Douglas gritou e eu ri - LAURA É A MINHA RELIGIÃO! - eu sorri, observando a leveza com que a oposta jogava.
- Esse levantamento é típico de alguém, né Bruno? - Lucão comentou me dando leve tapas nas costas. Eu ri.
- Pois é! - meu pai comentou, me olhando. Eu sorri para a Laura, que me olhava, enquanto eu batia palmas não acreditando que ela ainda se lembrava do que eu tinha ensinado para ela.
Faltava apenas dois pontos para acabar o jogo. Depois de um lance um pouco duvidoso, Zé pediu desafio, o que resultou em mais um ponto para as brasileiras.
- MATCH POINT! VAMOS, MENINASSS!!!!!! - Douglas gritava. A bola novamente estava em disputa por um longo tempo. Laura já havia tentando matar a jogada, mas a líbero americana defendeu. As meninas trabalharam a bola novamente quando voltou ao campo delas. Ouvi Macrís gritar o nome da Laura, o que a fez reagir de maneira rápida, passando correndo e ficando de frente para a levantadora, pronta para receber a bola.
Ouvimos o estalo da bola se chocando em sua mão e indo em direção à quadra americana, tocando no bloqueio da Larson. Quando Laura pisou no chão, olhou imediatamente para a juíza, que apontava para a quadra delas. Eu comemorei a vitória do time feminino, mas eu estava muito mais orgulhoso dela, da minha Laura!

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Destino - B. Rezende
Fiksi PenggemarMal sabia ela que a primeira convocação para a Seleção Feminina de Vôlei traria muito mais mudanças além de sua carreira profissional.