Quarta de tarde, Bernadinho convocou os jogadores que fariam parte das eliminatórias para as olímpiadas e tinha alguns jogadores que não estavam nos últimos jogos da seleção, como o Douglas, que era muito amigo dos meninos há um tempo e já tinha participado das olímpiadas no Rio mas que por conta de uma lesão, estava retornando à seleção agora.
Hoje eles retornariam para o Centro de Treinamento hoje para avaliações físicas e começarem as preparações para o próximo desafio, que começaria daqui 15 dias em Nova York. O time masculino iria antes para os Estados Unidos e o feminino tinha planos para ir na semana seguinte à viajem deles e eu estava com muito medo de ser cortado porque, apesar da fisioterapia há quase dez dias, eu não sentia que estava progredindo em nada. Alexandre me ajudava na medida que conseguia e tentava me motivar para prosseguir mas eu acaba sempre chorando todos os dias e cada vez mais eu estava mais desanimada para aquilo.
Eu já estava em tratamento quando Bruno me mandou mensagem falando que já tinha chegado no CT mas como eu já estava ocupada, só nos veríamos na hora do almoço. A minha rotina era sempre a mesma na fisioterapia: Ale fazia uma massagem, depois a gente trabalhava com o elástico, que por conta do meu tratamento com analgésico tem sido bem menos dolorido e às vezes a gente fazia um outro tratamento para ajudar a fortalecer o tornozelo de novo.
- O que acha da gente tentar andar hoje? - Ale perguntou depois eu tirar o elástico dos meus pés.
- Você tá falando sério? - eu perguntei animada, pensando que talvez ele tivesse sugerido isso porque acreditava que eu conseguia voltar a pisar no chão com meus dois pés.
- Sim, mas é um processo, ok? Você pode não conseguir logo! O seu pé esquerdo tem que ir aos poucos se acostumando com o peso do seu corpo novamente! - assenti.
Me levantei da maca, com as muletas, Ale me ajudou a chegar em duas barras paralelas, que serviam para apoio. Me levantei e fui seguindo as instruções do fisioterapeuta: se apoiar nas barras e ir apoiando o pé no chão aos poucos, sem forçar muito
Nas primeiras tentativas, eu quase tomei alguns tombos mas Alexandre me segurava e quando eu finalmente conseguia me manter de pé, não ia muito longe porque começava a doer por conta de todo esforço. Ficamos quase que a manhã toda naquilo.
- Por agora está bom, Laura! - Ale disse depois que eu me sentei no chão - Vamos para o refeitório?
- Eu vou depois, quero tentar novamente! - eu disse me levantando e me apoiando nas barras.
- Você tem certeza? - eu assenti - Eu fico aqui com você!
- Não precisa! Pode ir comer, tá na sua hora! Eu quero ficar mais pouco só - eu sorri para ele, que retribuiu.
- Tudo bem então! - ele tirou o seu jaleco - Cuidado e não fica se cobrando tanto, Laura! Depois do almoço a gente vai tentar de novo, juntos!
- Pode deixar! - ele sorriu e saiu, fechando a porta.
Suspirei fundo, me posicionando entre as duas barras e devagar fui colocando meu pé esquerdo no chão e aos poucos eu ia deixando o peso do meu corpo se ajustar nos dois pés mas novamente chegava um ponto em que aquilo doía mais do que eu ainda podia suportar.
Resolvi que realmente era a hora de eu desistir. Me sentei no chão novamente e coloquei aquela bota ridícula no meu pé. Apesar de ir querer encontrar com o pessoal, uma parte de mim apenas queria ficar ali chorando.
- Ei! - ouvi a voz do Bruno mas não me virei, tentei secar minhas lágrimas para ele não perceber - Você não vem almoçar?
- Daqui a pouco! - tentei disfarçar a voz de choro mas acabou saindo embargada. Ouvi a porta sendo fechada e alguns passos vindo na minha direção. Bruno se sentou ao meu lado e me olhou. Ficamos um tempo em silêncio - Eu acho que eu não vou conseguir ir para Nova York! - eu comentei em meio ao meu choro e Bruno me abraçou.
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Destino - B. Rezende
Fiksi PenggemarMal sabia ela que a primeira convocação para a Seleção Feminina de Vôlei traria muito mais mudanças além de sua carreira profissional.