Minha família se mudou da França para os Estados Unidos há mais ou menos dois anos.
Não era algo desejado por nós,mas acabou se tornando um meio de sobrevivência.
Minha mãe e minhas irmãs não se adaptaram e infelizmente se mudaram para Londres há um ano.Decidi ficar, levando em conta meu sonho e minha faculdade.
No momento estou cursando design na universidade de Parsons School of Design, e trabalho na parte da manhã em uma lanchonete, pagando assim a mensalidade e o aluguel de um apartamento em Inwood - Manhattan.A fumaça do cigarro desprendeu-se de meus lábios,se mesclando com a brisa fria do ar, chocando-se contra minha pele gélida,a arrepiando com um toque suave e inebriante de calmaria.
Minhas botas continham resquícios de lama a medida em que eu pisava sobre as poças.
As ruas estavam cobertas por uma imensidão de água e neblina.Os relampagos iluminam com pálido lampejo as árvores que cercam as ruas pouco iluminadas pelos postes de luz.Chovia durante toda a semana.Chuva serena que enlameia e aflige como uma angustia e um estado melancólico.
Eram quase duas da manhã e por algum motivo caminhar pelo bairro deserto e silencioso, produzia um certo sentimento de conforto em mim.
Uma garoa fina caía sobre meu corpo trêmulo, umedecendo meu moletom e desintegrando meu cigarro que se apagava aos poucos.
Apressei meus passos em direção ao mercadinho 24 horas sentindo as gotículas de água se tornarem mais fortes.Joguei meu cigarro na lixeira próxima a calçada e entrei no estabelecimento que se encontrava vazio.Acenei para o Bob,o rapaz do caixa que não deu a mínima para minha presença.
Dream do Imagine Dragons ressoava pelos alto falantes do mercadinho. Único som capaz de dar fim a aquele silêncio perturbador.
Ajeitei o capuz do meu moletom que se encontrava um tanto úmido e caminhei devagar pela sessão de bebidas.Suspirei sofrêgo, percorrendo meus olhos por toda a prateleira.Só precisava de algo para me manter acordado nos próximos dias.
Havia muito trabalho a ser feito e eu não poderia vacilar.Ao esticar meu braço em busca de uma garrafa de whisky barata,senti algo tocar meu ombro direito.
— Com licença. — um voz rouca soou atrás de mim, enviando calafrios pelo meu corpo devido susto e por um impulso,girei nos calcanhares e acertei em cheio algo sólido com meu punho — Ai! — a figura alta deu um passo para trás,sem retirar sua mão do canto da boca que sangrava um pouco — Por que me bateu? — seus olhos esverdeados, grandes e redondos encontraram os meus – ele respirou fundo e franziu as sobrancelhas,a espera de uma resposta.
— Você me assustou,imbecil. — retruquei, sentindo o ardor em meus dedos devido ao soco — Tout est de ta faute. (A culpa é toda sua.)
Fiquei analisando-o enquanto ele parecia processar minhas palavras.
Ele era ridiculamente bonito.Eu chutaria 1,80 de altura.Ombros largos, cintura fina — ele era o modelo de como fazer um terno cair bem.Mantinha seus cabelos castanhos de lado,fazendo com que uma parte caísse em sua testa.Alguns cachos úmidos deslizavam por sua nuca, grudando em sua pele pálida.
Seus lábios eram gordinhos, pareciam ser tão macios que eu sabia que muitos o desejavam por aí. Seus olhos verdes olhavam para mim, e ele endireitou os ombros, retirando a mão do pequeno corte no canto de sua boca.
Uma imperfeição tremenda que involuntariamente só o tornava quase perfeito.
— Me desculpe se te assustei,mas... — o homem negou com a cabeça revirando suas belas orbes esverdeadas — Quer saber, esquece. — o rapaz passou por mim, seguindo pelo corredor até a sessão de torradas.Ele carregava com si uma pequena cesta de compras com apenas alguns vegetais e iogurtes.
O segui com o olhar, observando a maneira nervosa como ele afastava os fios rebeldes que caíam sobre sua testa.
As sobrancelhas formavam um vinco em concentração a medida em que lia as embalagens de pães e torradas.Desviei meu olhar, fixando meus olhos na garrafa de whisky mais uma vez.
A peguei antes que mudasse de idéia e segui pelo corredor,em direção ao caixa.O rapaz ainda estava alí, passando suas compras enquanto Bob mastigava seu chiclete de forma irritante e fazia tudo com o entusiasmo de sempre.
Ao me aproximar,peguei um maço de cigarro e coloquei sobre o caixa junto com a garrafa de whisky.Ambos me olharam com uma expressão desgostosa.Enfiei as mãos no bolso do moletom e desviei o olhar.
— São 23 libras, Tomlinson. — Bob murmurou, atraindo minha atenção.
O homem de olhos verdes terminava de empacotar suas compras, lançando alguns olhares discretos em minha direção.
Em seguida ele pegou suas sacolas e se afastou, caminhando até a saída.Deixei algumas libras sobre o caixa e aguardei pelo meu troco.Agradeci a Bob e peguei minhas compras, descartando as sacolas.
No tempo em que me dirigia para fora do mercadinho,abri a garrafa de whisky e dei um gole na bebida amarga, respirando fundo em seguida.Os chuviscos estavam mais forte e os trovões pareciam ainda mais altos do que eu me lembrava.
Avistei o rapaz alto de segundos atrás acomodando suas compras no porta malas de um Toyota RAV4 preto.— Riquinho. — murmurei baixinho e revirei meus olhos ao me aproximar – ele fechou o porta malas e se virou em minha direção com uma expressão desconfiada — Me desculpe pelo soco,eu realmente... — não pude deixar de notar algo que refletiu em seu dedo pela luz fraca do poste – uma aliança — Me assustei.
Suas bochechas ficaram rosadas, seus olhos brilhavam,escuros e com raiva, mas ele não disse nada.Pelos menos nada daquilo que supostamente estaria pensando.
— Tudo bem. — deu de ombros, desviando o olhar – seus cachos agora estavam desfeitos pela chuva – ele suspirou, retirando a franja molhada da testa — Bom,eu...Eu vou indo.
— Ok.
Mantivemos contato visual por alguns segundos até ele lamber os lábios e desviar o olhar.
Afastou-se, caminhando até o outro lado,pronto para entrar no veículo.Seus lábios se abriram levemente de que modo que desse a entender que diria mais alguma coisa, porém o rapaz apenas acenou e entrou no carro.
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Damn Fate ✧ l.s
RomanceDizem que a primeira impressão é a que fica. E talvez isso soe uma tremenda idiotice para Louis, levando em conta todas as malditas coisas que acontecem com ele. Dar um soco na boca de um desconhecido não parece a melhor forma de se iniciar um diálo...