Dor na almaCapítulo 21
O dia amanhece.
Para a escrava Ayana, não há beleza nessa manhã...
Ela caminha até o rio, lentamente entra em suas águas.
Seu olhar no infinito, seu rosto não espressa dor ou alegria, ela está em um estado contemplativo, a meditar em tudo que acontece em sua vida.
Seu amado filho, nasce claro como o homem que a forçou em sua própria cama, tento a esposa a bater na porta.
Agora é violada por horas a fio, por um negro, por alguém de sua raça, alguém que deveria a proteger, pois conhece o martírio da raça negra.
Lágrimas descem de seus olhos, sem choro, sem pranto.Ela se banha, esfregando todo seu corpo com sabão, até quase arrancar a pele, Chora e se esfrega, tentando limpar-se de uma sujeira que jamais sairá, uma sujeira que penetra a alma e o espírito.
Após banhar-se, vai para a cozinha e coa o café para todos.
Seus olhos não saem de seu filho que dorme em um caixote em um cantinho da cozinha, dome o sono da inocência e pureza.
Ela está em silêncio, seus pensamentos são para a noite que virá, aquele negro estará novamente em seu quarto para satisfazer seus desejos carnais...Ao chegar a hora do almoço, as duas jovens senhoritas vão até o eito levar a comida para os negros.
Oracio é um escravo responsável e muito grato ao senhor Damião, ele havia o salvado de um destino cruel no passado.
Seu dono anterior o queria matar por ter comido uma galinha, senhor Damião o comprou para livra-lo da morte certa no pelourinho, suas costas já estavam cheias de bichos e a febre havia tomado seu corpo.Ele é sempre agradecido ao seu senhor pelo livramento. Vive sempre cuidando das filhas de seu nhonhô.
- Aqui está o almoço, Oracio!
- Agradecido sinhazinha, agora as meninas vão pra casa.
- Está bem, já vamos.As duas jovens saem pela trilha que leva à casa.
Quando estão na metade do caminho, elas se assustam com um negro que está encostado em uma grande catana de uma árvore nativa.
- Boas tardes, senhorinhas!
- Mané! O que fazes aqui?
Papai não o havia vendido?!O negro com muita astúcia foi falando e se aproximando...
- Sim, ele me vendeu para um senhor de engenho, mas eu não apreciei o trabalho, não!
- Não podes ficar aqui, tens que ir embora da nossa terra!Fala a jovem Catarina com autoridade.
Ele sorri e se aproxima da senhorita Selma e da um bote certeiro; ela grita!
Ele a segura por trás de seu corpo e lambe-lhe o pescoço, ela chora.
- Solte minha irmã, seu maldito!
- Se você correr sinhazinha, eu mato sua linda irmãzinha.
- Por favor, solte-me!Ela chora e implora para a irmã a ajudar.
- Não pense em fugir, me de essa corda que está no chão!
Catarina reluta, pensa em buscar ajuda, porém teme as ameaças do negro.
Ela pega a corda e entrega a ele.
O negro, sempre com aquele sorriso sarcástico no rosto,
faz um nó na corda, quanto mais puxa mais ele aperta.
A sinhazinha Catarina não corre por medo do Mané matar sua irmã caçula.
Após amarrar Selma na árvore, ele olha para Catarina com um olhar de fera faminta.
- Agora venha cá, se gritar ou correr, vou cortar e picar sua irmã igual se pica uma galinha
morta.Catarina se aproxima aos prantos, ele a pega pelo braço e puxa para junto de si.
- Calma, calma.
Não vai doer, muito!
- Tira suas mãos de mim; seu negro nojento!
Ele a esbofeteia, Selma chora...
Ele a derruba no chão e rasga seu vestido e sua roupa de baixo, olha com um olhar monstruoso para Selma e a manda se calar, ela obedece por medo.
Ele possui a menina Catarina com extrema brutalidade, ela chora e grita.
Quando ele acaba, ela está toda ensanguentada.
Ele olha com um olhar de nojo e diz:
- É sinhazinha, você tem muito que aprender, prefiro as negras mais experientes.
Pega a sinhazinha do chão e a amarra com um pedaço de corda.Já se faz tarde e as meninas ainda não voltaram?!
Ayana tem um súbito pensamento ruim...
Seu filho dorme no quartinho, ela amarra a porta e vai para os lados do caminho da roça, seu coração começa a saltar em seu peito, seus pensamentos são horríveis, ela se recorda das palavras lascivas que sairam da boca do negro: _A melhor até agora!Ela teme!
Pega uma foice afiada na tulha e segue em silêncio a trilha que leva ao eito.- Agora é a vez da mais apetitosa, vou me esbaldar!
Ele caminha para o lado da menina Selma, com as calças seme-arriadas da para ver suas partes íntimas latentes. ele olha para a menina e ri alto...
- Ela só tem doze anos!
Deixe ela em paz, seu mostro!As duas choram...
Mané não tem escrúpulos, seu desejo tem que ser satisfeito.
Ele diz para si mesmo que é uma vingança por sua venda,
Porém esse desejo maníaco pelas filhas do seu senhor, havia nascido em seu coração a tempos atrás.- Cala essa boca Catarina!
Ou vou matar sua irmãzinha e depois mato você!Selma grita, ele a derruba no chão e abre suas pernas.
Seu desejo e tão animalesco que ele não percebe quando uma lâmina curva entra em suas costas até quase atravessar seu peito.A lâmina é retirada, ele vira-se para a frente e sorri com sangue jorrando em seus lábios.
- Ayana, pare com isso princesa, não faça isso comigo!A menina Selma corre para junto de sua irmã e a abraça.
A negra vê aquele demônio ficar de joelhos e o corpo verte sangue...A foice sobe e desce com tanta força, uma força que vem do âmago de uma mulher humilhada, ferida e indignada...
A cabeça do negro cai ao chão e o sangue esguicha metros à frente.
Seu corpo permanece de joelho e ereto por alguns instantes; depois cai ao chão como se fosse um mulambo.Ayana treme, a foice ainda está em suas mãos, ela olha o corpo, a cabeça com os olhos extremamente arregalados.
Solta a foice e caminha para a árvore que Catarina está amarrada.Desamarra Catarina e as três mulheres voltam abraçadas e aos prantos para casa.
Ayana enche a tina com água morna e banha a jovem.Na Capital...
Senhor Damião e esposa encontram o comprador do Mané.
- Seu escravo ficou uma semana e fugiu!
- Fugiu! Como?
- Ele dizia que precisa de negras.
Aquele maníaco queria ser reprodutor!
Não tenho negras, parece que ele foi procurar.
Já coloquei capitães do mato atrás do rastro dele.
- Marido, temos que ir embora agora!
Acho que aquele negro dos infernos foi atrás da Ayana.
- Deveras, vamos agora mesmo.Maria Boaventura.
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Espinhos da Liberdade
Ficción históricaApós a abolição da escravidão, muitos escravos libertos se viram sem rumo, sem perspectiva. Saíram sem nada, a não ser, suas vidas errantes pelos caminhos desconhecidos do destino. A liberdade tão sonhada, transformou-se em espinhos. Uma nova, velha...