Capitulo 87
Medos e segredos
Realmente "não há nada encoberto que não seja descoberto" mais cedo ou mais tarde a verdade se apresenta despida e sorridente. As vezes é mais fácil viver uma mentira, pois a verdade traz consequências, e tais consequências podem desestruturar muitas vidas.
Porem, a mentira escraviza o corpo e a mente de quem à pratica, causando um medo constante. E ao surgir a verdade, cai por terra todo o argumento usado para manter a mascara da mentira. E a verdade prevalece.
Pensão.
Ayana passa a noite toda sentada a beirada da cama chorando e orando.
Catarina se sentindo culpada, também passa a noite toda andando de um lado para o outro se martirizando. O dia mal amanhece e elas já se encontrão sobre seus pés preparadas para voltarem à praça central em busca do menino, dessa vez elas até se esqueceram de Leôncio. Dona Zumira preocupada com o desaparecimento do menino, também não conseguiu dormir, por esse motivo, levantou-se pela madrugada e foi para a cozinha preparar o desjejum para suas hospedes desconsoladas.
Quando elas chegam a cozinha, dona Zumira pergunta:
- Já se levantaram, meninas?
- Sim, dona Zumira. Vamos para até à praça procurarmos por Gabrielzinho. Tenho fé e esperança que encontraremos meu filhinho amado.
- Minha querida amiga, tenho certeza que lá haverá alguém procurando a mãe desesperada do menininho perdido. Talvez os guardas já o tenham encontrado e tudo se resolverá.
Diz Catarina pegando um pedaço de bolo e uma xicara de café.
- Tomara, tomara.
Diz Ayana.
- Coma menina, Ayana, coma para se fortalecer.
Fala a negra Zumira, limpando suas mãos que estão sujas de farinha de trigo.
- Menina Catarina, me desculpe de perguntar, mas passei a noite toda meditando na minha cachola. Você não era a mãe do menino? Como que agora pego a menina Ayana dizendo ser a mãe? Via o menino chamar ela de mãe, ai pensei que ela era a mãe de leite e que o garotinho gostava demais dela. E agora percebi que as duas estavam me enganando.
Quem é a verdadeira mãe?
As duas ficam em silencio, pois perceberam que sua mentira foi descoberta.
A negra gorda, puxa um banquinho e senta-se perto delas e diz:
- Já muita negra mãe de mulatinho, já vi branca mãe de mulatinho também; é Ayana não é tao negra, ta mais pra mulata mas, o menino é branco de olhos claros!
E porque as duas mentiram pra essa nega aqui?
Podem me falar a verdade! Tô esperando.
Como sempre, dona Zumira não suporta não ficar sabendo de tudas as tretas que acontecem em sua pensão, e essa em particular, aguçou a curiosidade da negra.
- Gabrielzinho é meu filho. Diz Ayana.
- Eu disse que ele é meu filho por causa do rebuliço que a cor dele causa cada vez que a pobre Ayana diz que é sua mãe...
- ... e como toda mulher escrava... ai nasceu meu menino branquinho.
- Pobre menina, podia ter me dito a verdade, eu ia entender.
E assim, o segredo de Ayana e Catarina começa a ser desvendado.
Quilombo
Enfim é chegado o dia tão sonhado para os negros do quilombo, para àqueles não declinaram para o lado obscuro da vida. Para àqueles que enfrentaram os espinhos da escravidão e os espinhos da liberdade; para esses, nasceu o sol da esperança. A baronesa Octaviana concedeu um maravilhoso presente quando deu a cada família um quinhão de terra para que pudessem plantar e colher com dignidade. O capataz da fazenda chegou de manhã bem cedo para os conduzir até suas tão sonhadas terras.
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Espinhos da Liberdade
Historical FictionApós a abolição da escravidão, muitos escravos libertos se viram sem rumo, sem perspectiva. Saíram sem nada, a não ser, suas vidas errantes pelos caminhos desconhecidos do destino. A liberdade tão sonhada, transformou-se em espinhos. Uma nova, velha...