Camélias brancas

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Capitulo 24

O mês de fevereiro é o último mês do verão, o outono teima em introduzir algumas de suas características no seu vizinho que está de partida. As noites estão amenas, relâmpagos e trovoadas marcam esse mês em especial. Vê-se nas ruas da capital grandes aglomerações. Cartazes e gritos de palavras de ordem, a população em geral pede que os escravos sejam libertos. Conservadores lutam para que a mão de obra continue sendo escravizada sem direito à liberdade.

Princesa Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriel Rafael Gonzaga de Bragança e Bourbon. Uma mulher extraordinária! Primeira mulher a assumir a chefia de Estado no continente americano. Abolicionista resoluta, lutou com todas as forças cabíveis pela aprovação da "Lei do ventre livre" custeava; com recursos próprios a alforria de dezenas de escravos, também financiava o quilombo do Leblon. O qual cultivava camélias brancas, que eram o símbolo da extinção da escravidão. Homens e mulheres usavam a flor branca em suas lapelas e em seus bolsos, simbolizando seu apoio incondicional a liberdade dos negros escravizados.

Vivendo sua terceira regência, princesa Isabel trava uma batalha renhida contra o parlamento.

O conservadorismo lutava para que suplicio da escravidão continuasse no Brasil império.

Essa queda de braço entre a regente e o ministério, culminou com demissão do barão de Cotegipe. Com isso, João Alfredo Correa de Oliveira, assume o cargo de primeiro ministro ganhando forças contra a resistência dos possuidores de escravos, que exigiam veemente o ressarcimento pelos danos causados.

Está tudo sacramentado, faltando somente a assinatura da princesa na parte inferior da carta áurea...

A tão sonhada liberdade para milhares de negros escravizados no Brasil está às portas...

O fim de três séculos de vidas marcadas por todo tipo de monstruosidades sem limites, se findará após essa doce assinatura.

Os espinhos, brotarão em flores e a paz e a igualdade entre raças reinará pelo futuro a seguir...

Fazenda Esmeralda:

Na escuridão fétida daquele buraco cavado nos fundos do pátio da casa grande, Leôncio medita se vale a pena viver essa vida de martírios para se vingar do senhor Samuel...

Suas mãos cansadas estão por cima de sua cabeça, o estomago está aos embrulhões e as ânsias se repetem a cada minuto.

Ele pensa: _sim, vale a pena! Eu irei arrancar-lhe as tripas e o enforcar com elas. Deus a de me ajudar. Não morrerei, eu juro! Não, não posso morrer...

Leôncio levanta os braços e os coloca na parede de barro, suas algemas de ferro são extremamente pesadas, seus braços não as suportam mais. Já fazem quase dois dias completos que ele está sobre seus pês, seu corpo tremulo não suporta seu próprio peso.

É o segundo dia que Leôncio foi jogado no fosso. Senhor Samuel ronda o lugar, ele está como um gato a esperar que o rato saia de sua toca para dar o bote.

Senta-se em um banquinho a certa distância, de quando em vez, joga uma pedra ou um pedaço de galho por cima do tampo, para ouvir alguma reação ou movimento do escravo...

Senhor Samuel está aflito por não ouvir nenhum barulho, anda de um lado para o outro, não mais suportando o silêncio ensurdecedor... Abre o tampo de madeira, quer ver com seus olhos se o negro sucumbiu ao seu suplício.

Ao entrar a claridade, o escravo olha para cima apertando os olhos que estão acostumados com a sombria escuridão...

- Vejam só, o negro ainda vive! Isso sim, é força de vontade.

Ele encara Leôncio com um olhar maligno, pega um vasilhame que está perto da borda do fosso, o negro tigre havia recolhido o produto dos penicos, porém não o jogado, sabendo que o negro estava lá dentro.
O cruel fazendeiro, despeja-o todo de uma só vez sobre o negro; o corpo fraco reage come enormes ânsias e vômitos. Após uma estridente e alta gargalhada...
fecha o tampo...
25/10/2021

Maria Boaventura

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