Duro feito diamanteCapitulo 71
O destino é um amigo traiçoeiro que gosta de brincar com a vida do ser humano.
Como o manipulador de fantoches, controla seus bonecos como bem entende e suas marionetes dançam sob seu controle dominador.
Porém, o destino se esquece que os humanos aprendem com a vida, e a cada volta que o mundo dá, são moldados como ferro no fogo, tornando-os cada vez mais fortes e sólidos:
_ E o ferro se torna o duro diamante.
Capital...
A chuva cai torrentosa na capital do império.
O trem de ferro chega desacelerando e apitando na estação. Todos os ocupantes do vagão de segunda classe "Negros e pessoas menos favorecidas" descem empurrando uns aos outros.
Ayana e Catarina, descem meio a uma imensidão de pessoas que ali já estavam e também chegam sem parar. Aos olhos de Ayana, tudo era surpreendente, nunca vira tantas pessoas em um só lugar, suas roupas e as de Gabrielzinho estavam amarradas em uma trouxa, as de Catarina, estavam em uma pequena mala que dona Alma arrumara para a viagem.
- O que faremos agora, Ayana?
- Senhorita Catarina, não imagino o que fazer em um lugar tão grande como esse!
- Penso que temos que arrumar um lugar para nos instalar, uma pensão, um cortiço, foi isso que papai disse que teríamos que fazer.
- Concordo, mas como faremos?
- Perguntamos!
Ayana senta-se na trouxa de roupas segurando seu filho no colo. Enquanto isso, Catarina se apressa em ir até o guichê para perguntar a um senhor com aparência simpática:
- Boas tardes, senhor! Posso lhe fazer uma pergunta?
- Boas tardes, senhorita. Se souber a resposta, com prazer te responderei.
- Chegamos do interior agorinha a pouco, e queríamos saber de um lugar para ficarmos, um lugar não muito caro e que fosse familiar.
- Você e quem?
Catarina olha para Ayana e relembra o perrengue que passaram no trem.
A vida molda o ser humano conforme as necessidades que se é vivida no momento, Catarina, de jovem frágil e atormentada pelas atrocidades que lhe ocorreu durante seu passado próximo, após ver a discriminação com que Ayana foi tratada durante a viagem, toma às rédeas da situação e assume o papel de mãe e de senhora da situação.
Ela respira fundo e diz com altivez:
- Eu e a baba do meu filho! Não conhecemos a cidade e não gostaria de ser passada para trás, estamos vivendo tempos difíceis!
- Verdade, senhora. Apesar de ser tão nova a senhora tem razão, nesses tempos de loucura deve-se ter cuidado. Espere um pouco, vou arrumar um cocheiro conhecido para levar a senhora e seu filho para um lugar barato e familiar.
- Agradeço ao senhor.
O senhor deixa o guichê e caminha até um trole que está aguardando algum freguês, dirige-se a um negro conhecido seu, que sempre trabalhou ali na estação como escravo de ganho para um comerciante que tem vários coches e troles de aluguel. Agora ele trabalha assalariado o que para muitos negros é um sonho distante.
Na estação da capital é proibido que negros; com exceções daqueles que estão ali para viajarem, permanecerem na plataforma, ou em qualquer recinto debaixo das estruturas.
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Espinhos da Liberdade
Ficción históricaApós a abolição da escravidão, muitos escravos libertos se viram sem rumo, sem perspectiva. Saíram sem nada, a não ser, suas vidas errantes pelos caminhos desconhecidos do destino. A liberdade tão sonhada, transformou-se em espinhos. Uma nova, velha...