Resiliência

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Resiliência

Capitulo 105

Passou-se quase um ano do dia em que a princesa Isabel concedeu a liberdade a todos os escravos do império, todavia as grandes cidades continuam com suas ruas, praças e seus arredores repletos de homens, mulheres e crianças, pobres almas que buscam seu lugar ao sol...
As flores colhidas nos jardins da liberdade estão murchas e espinhosas para população negra que busca trabalho para que possa sobreviver dignamente.
Nos arredores das cidades, vilas repletas de casebres como formigueiros se formam empilhadas sem nenhum tipo de controle ou ajuda dos mandatários imperialistas.
A insatisfação é notória, com isso está se originando um grande conflito no império brasileiro.
A igreja, fazendeiros e militares querem acabar com o imperialismo, buscam a descentralização do poder.
Ouve-se rumores sobre a queda do império e a ascensão da República.
Tal assunto vem inflamando a sociedade, por conseguinte, a situação dos ex-escravos é irrelevante frente à mudança no sistema governamental.
Restando para os filhos da escravidão apenas a resiliência.

Noite anterior

Pensão

Ayana chega ao quarto e coloca seu filho no chão.
Observa-o brincado com um cavalinho de madeira que foi-lhe presenteado pela baronesa Octaviana. O menino brinca e sua mãe chora em silêncio...
Catarina entra no quarto e vê lágrimas nos olhos de sua amiga.

_ Você sabia que eu te admiro e te invejo?
Que eu gostaria de amar aquela criança que tentei tirar a vida...
Queria a ter amado com a metade do amor que você ama o Gabrielzinho. Deveria ter me perdoado e amado aquele menino.
_ Você é apenas uma menina, não se culpe tanto, não se maltrate assim. Você terá outros filhos e vai amá-los muito.
_ Não sei se posso, Ayana.
_ Podes, e vai! Fala carinhosamente Ayana.
_ Passei tanto tempo odiando-o ainda no meu ventre que... agora vejo o amor que você tem por essa criança que é fruto da mesma violência e, acho que é muito pior para você, pois, o homem que te violentou, ainda matou seus filhos...
Eu peço a Deus que um dia possa ter esse amor que você tem aí dentro do seu coração.
_ Sei que você conseguirá.
Você é amável e forte. Agora eu, não sei se poderei viver sabendo que o amor da minha vida não me perdoará jamais.
Conheço o Leôncio, ele não vai suportar saber que não fui sincera.
Fala Ayana com soluços na voz.

_Vai sim! Ele tem que saber que você se calou para protege-lo daquele maldito!
Ele vai compreender.
_ Espero que sim.

Delegacia

Samuel olha pasmado para Damasceno.
_ O que você está me dizendo?!
Volta aqui! Agora! Volta aqui, seu advogadinho desgraçado! Volta, já!
Grita Samuel segurando e balançando ferozmente as grades da cela.
Damasceno sorri e maneia a cabeça.
_ Samuel de Albuquerque! Como não liguei o nome à pessoa?!

Dava para ouvir os gritos e chingamentos do senhor Samuel
da sala do delegado.
Damasceno vem caminhando pelo corredor e o delegado o aborda.
_ O que houve, doutor advogado?
Pergunta o delegado curioso.
_ Houve um engano quanto ao meu cliente.
Não posso ser o advogado de defesa, na verdade, eu e minha firma faremos parte da acusação do meliante.
_ Ora, não me diga que o senhor é sócio do negro cheio de empáfia que acha que é o melhor advogado do reino?!
Comenta sarcasticamente o delegado.
_ O delegado deve estar falando do doutor José Jeronimo?
_ Sim, me refiro a ele mesmo.
Ele é o negro mais arrogante que conheci, não imagino como o doutor pode se associar a esse tipo de gentalha!
_ Senhor delegado, se fosse o senhor mediria suas palavras, doutor José Jeronimo é íntegro e inteligente e um dos melhores advogados da Capital, quiçá do Brasil inteiro.
_ Vejo que és um costumaz defensor
de negros. E sei que com tais pessoas é deveras impossível questionar.
_ Sou mesmo! E como advogado, sei bem quando estou frente a um escravocrata e defensor de ricos e burgueses. Quem sabe, também defensor de fazendeiros assassinos?!
_ Olhe aqui, advogadinho de porta de cadeia! Estais em minha delegacia e exijo respeito!
E somente para o doutorzinho saber, por mim o fazendeirinho já estaria livre, se não fosse cheio de empáfia, tanto quanto o seu amigo negro advogado.
Digo mais, o negro que vocês tanto defendem era escravo do fazendeiro no passado... até hoje homens de bem sofrem por terem perdido suas propriedades e mãos de obra. Então, atos de vingança sempre haverão, até que esse governo resolva colocar tudo nos devidos lugares novamente...
_ Realmente, não posso acreditar que o senhor pondera o retorno da escravidão!
_ Convenhamos, tudo virou um caos depois da liberdade dos negros, isso não deu certo.
Pessoas economicamente e racialmente superiores, estão sofrendo pela vontade de poucos...
_ Pessoas racialmente superiores, feitas o senhor, suponho?
Pessoas assim, me enojam!
_ Falas isto, por ser defensor de negros e por se condoer por eles.
Saiba que Pessoas feito seu sócio, com a suposta inteligência dele, são raras...
E é melhor pararmos com essa discussão enquanto ela não nos leve para lugares inretornaveis.
_ Também penso o mesmo. Atenha-se em manter o criminoso dentro das grandes, nos cumbiremos de leva-lo em juízo, e se for possível até à forca.
Passar bem, senhor delegado!
_ Digo o mesmo, senhor advogado!

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⏰ Última atualização: Jun 07, 2024 ⏰

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