Sonhos e pesadelosCapítulo 49
A escuridão da noite traz sonhos e pesadelos.
Para alguns; sonhos que libertam, sonhos que se sonha acordado e que podem se tornar realidade.
Para outros; terríveis pesadelos que atormentam o sono e que trazem o desejo de serem esquecidos.
Os dois negros na mata, sonham em chegar à Capital e viver suas liberdades plenamente.
O destino os tem pregado peças e mesmo tendo se passado algum tempo, não conseguiram experimentar nem vivenciar a tal liberdade.
O senhor Samuel sonha em vingar-se de Leôncio, isso o tem escravizado e tornado seus dias infelizes e suas noites atormentadas...
Fazenda Esmeralda...
Dona Beatriz deitou-se bem cedo como de costume, ela não consegue perdoar seu marido, a loucura cometida contra ela e suas filhas não lhe saem da memória.
Quando adormece, sonha com o sangue jorrando de seu corpo e a gestação interrompida pela brutalidade de seu marido.
Ele ignora sua esposa e suas filhas, o que para dona Beatriz é propicio, pois o temor de que se repita o mesmo que aconteceu com sua sogra é perturbador.
Samuel está sentado no alpendre até altas horas da noite...
Levanta- da cadeira de balanço e se recolhe aos aposentos. As velas do candelabro estão acesas, ele se detém frente a cama e observa sua mulher, que finge estar dormindo.
Com os olhos fechados dona Beatriz percebe que está sendo observada, seu coração dispara de medo.
Samuel fica parado por mais alguns instantes, tira as botas e deita-se quieto do seu lado da cama e adormece...
Sua mulher respira aliviada por não ter sido tocada por ele, não ter sido tocada de nenhuma forma, pois no coração de dona Beatriz existem dois sentimentos latentes; medo e nojo!
Sitio...
Ayana deixa o quarto de Catarina somente após a menina ter adormecido.
Pega o menino e o leva para seu quarto, senta-se sobre a cama e olha seu filho dormindo no cantinho, a inocência do rostinho de Gabriel faz lagrimas verterem do rosto da negra.
Ela olha o recém-nascido em seus braços, tira o seio e coloca em sua boca, o menino suga com força o que faz Ayana sorrir olhando para seu rostinho.
- Isso mesmo, mama bastante e encha sua barriguinha. O mundo não será bom para você, você deveria ter puxado a cor de sua mãe, essa cor que nasceste meu pequenino, vai ferir sua alma e seu corpo...
Uma mistura de sentimentos toca o coração daquela mulher, o seu filho nasceu branco e será aceito pela sociedade racista, porém, por ser filho de uma negra, mais puxada para cor mulata, a vida não será flores para o seu pequeno Gabriel.
Todavia, o mulatinho que está sugando seu seio com uma grande força, não achará guarida seja lá para onde o mandarem...
O menino adormece, aguardando seu destino ao romper da aurora.
Samuel afasta os galhos entrelaçados por cipós que estão a sua frente, a mata está fechada e a escuridão se intensifica pela nebrina grossa e espeça que toma conta do ambiente.
O urutau canta seu canto agoureiro próximo ao local.
O som do coaxar dos sapos e a lama pegajosa que lhe cobre as pernas até a altura dos joelhos; dizem-lhe que ele está meio a um brejo ou uma lagoa.A água está cada vez mais liquida e chega lhe à cintura, seu coração começa a disparar, ele recorda que não sabe nadar e isso lhe causa pavor.
Algo passa por entre suas pernas, algo segura sua cintura.
Ele para ofegante...
As águas chegam à altura de seu peito, ele começa a gritar pedindo por socorro!
As águas chegam-lhe ao queixo ele sente mãos segurando suas pernas e o puxando para o fundo.
Os gritos são cada vez mais desesperados,
Ele se debate, ouve alguém mergulhando...
E com as águas na altura de sua boca, Leôncio
Aparece em sua frente, solta uma horripilante gargalhada...
Mergulha e o puxa para o fundo da lagoa, onde ele se debate e ...
Samuel da um grande sobressalto de sua cama, senta-se, respira fundo, pois seu coração está a saltar pela garganta.
Vai até o criado e toma água, desce as escadas e ouve o galo da madrugada cantar.
Senta-se na cadeira do seu pai e fuma seu cachimbo olhando a claridade surgir no horizonte.
- Leoncio! Seu desgraçado!
Até em meus sonhos você tenta me superar.
Vou te matar, nem que seja a ultima coisa que eu faça, eu te mato! Eu juro!
Independente de cor ou raça, o homem tem seus limites e suas frustações.
Samuel desde jovem, traz em seu coração um ódio por Leôncio.
O negro, apesar de ser escravo cativo, sempre superou o seu senhor.
Samuel nunca aprendeu a nadar, enquanto Leôncio sempre foi um peixe na água, Samuel trazia em seu coração um amor escondido pela mulata Ayana, um amor impossível, senhor e escrava.
O pai de Samuel permitiu que ela se casasse com Leôncio, apesar de Samuel a possuir, ela sentia asco por ele, isso o matava de raiva...
O homem Samuel sempre foi superado pelo homem Leôncio.
Maria Boaventura
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Espinhos da Liberdade
Historical FictionApós a abolição da escravidão, muitos escravos libertos se viram sem rumo, sem perspectiva. Saíram sem nada, a não ser, suas vidas errantes pelos caminhos desconhecidos do destino. A liberdade tão sonhada, transformou-se em espinhos. Uma nova, velha...