Obsessão

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Obsessão

Capitulo 99

Dizem que o pasto do vizinho sempre é mais verde...

Para um negro escravo, nunca houve um pasto verde para olhar ou desejar.

O único pasto era o pasto do seu dono; inalcançável, inimaginável.

A única cor vista pelo negro, era o vermelho de seu próprio sangue aspergido pelo chão.

Nem mesmo em seus pensamentos mais íntimos, sonhava em possuir o que pertencia ao seu senhor.

E devanear que o senhor desejasse algo que o escravo possuía era no mínimo demência.

Obsessão de Samuel

Samuel não desejava o corpo de Ayana, pois isso, ele já o tinha.

O que ele queria era usurpar o amor que refletia nos olhos dela quando olhava para seu amado Leôncio. Samuel aspirava possuir lhe à alma, à essência. O corpo não lhe satisfazia; era lhe demasiado pouco. Dona Beatriz, linda e recatada, não merecia o seu amor...ele nunca a amou, nem por um instante.

Ayana era a musa de seus sonhos; mesmo invadindo e possuindo o seu corpo, não encontrava satisfação _ Sua alma, esse objeto abstrato, era o que movia a infinita obsessão de Samuel. O amor, a alma, a essência a paixão, que não lhes eram correspondido, isso ele almejava.

Quando a tarde chegava em sua fazenda ele se assentava no alpendre e balançava em sua cadeira de balanço, observava Leôncio que coberto de suor e esgotado, trabalhava até chegar à estafa.

Samuel sorria dando baforadas em seu grande cachimbo; sorria por ter possuído Ayana enquanto seu escravo dava seu sangue no eito; sorria e se contorcia de ódio ao recordar que a escrava não esboçava sentimento algum por ele, os olhos da mulata permaneciam inertes olhando para o teto...

Os brios de Samuel eram corroídos pelo descaso de Ayana.

Em seu coração planejou por varias vezes açoitar aquela ingrata; rasgar sua carne e chegar ao seu espirito.

Quando notou que a barriga da mulata crescia, imaginou que o rebento fosse seu e que se ela gerasse lhe um filho talvez o amaria...

E naquele fatídico dia, tirou lhe de uma só vez os filhos negros para que o filho que estava sendo gerado fosse lhe o único.

_ Se eu lhe der um filho ela a de me amar!

Pensava Samuel em sua demência.

Santa Casa de Misericórdia

- É a mais pura verdade, vamos encontra-la brevemente.

Diz a baronesa com um sorriso nos lábios

- Meu caro amigo, sei que estais fraco e que precisas de descanso, porem, se puderes me responder qual o motivo de tanto ódio que o Senhor Samuel tem por você?

Porque motivo ele dispõe se em tomar tanto tempo para vê-lo morto?

Diz doutor José Jeronimo.

Leôncio olha para Jose e Octaviana respira fundo e diz:

- Primeiro fui escravo de seu pai, após, do senhor Samuel...sempre fui fiel e trabalhador...

Ele tinha tudo; pele branca, dinheiro... uma linda família.

Leôncio respira profundamente.

Jose Jeronimo se aproxima, bate de vagarinho em seu ombro e diz:

- Não se esforce, tenha bom animo, as coisas ao de melhorar para você meu amigo.

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