Acalento para a alma

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 Acalento para a alma

Capitulo 67

A cada nascer do sol, quando os olhos se abrem para um novo amanhecer

O ser humano contrito, evoca ao criador por mais uma oportunidade de aprender e ensinar o que aprendeu no dia anterior. A chuva serôdia traz acalento para a alma e refrigera os pensamentos de angustia e sentimentos de solidão. Não que solidão seja um sinônimo de estar só, apenas um sinônimo de estar sozinho em si próprio.

Fazenda Esmeralda...

A chuva cai de mansinho e escorre pela janela de vidro da casa grande.

Olhares chorosos e angustiados se misturam a recordações de momentos bons...

Momentos que são suprimidos pelas lembranças de sofrimentos e agruras, infringidos pelo senhor da vida das duas mulheres que lavam à alma com lagrimas.

A criada de Beatriz traz leite com bolo para as duas amigas que conversam a horas, há uma mistura de alegria e tristeza na prosa que não cessou desde que Ayana adentrou à casa.

- Sinhá Beatriz...

- Não me chame de Sinhá, você é uma mulher livre! A única cativa aqui, sou eu, eu não obterei nunca a liberdade, pois sou escrava de convenções inquebráveis. Realmente o destino para uma Sinhá casada com um mostro enlouquecido, tende a ser bem pior que a escravidão.

- Está bem, Beatriz. Não a tratarei mais por Sinhá.

E segurando a mão da mulher branca e bondosa que está com a alma desnuda em sua frente, percebe que a escravidão não se faz presente somente na vida de uma mulher negra, a escravidão é latente para todas, sem exceções. Basta ter um senhor cruel por dono de suas vidas.

- Como faras para encontrar o Leôncio? Tens dinheiro para viajar?

- Não sei o que farei, não tenho dinheiro e direção certa, apenas sei que preciso dele para viver. Amo aquele homem bom, chega de sofrimentos, chega de dor, não tenho outra direção ou rumo a tomar. Tenho que acha-lo custe o que custar!

- Vou ajuda-la! Não tenho muito dinheiro, todavia...

Venhas comigo!

As duas se levantam e caminham para o quarto de Beatriz.

Ayana vai subindo as escadas e recordando dos anos que passou servindo à Beatriz, dos momentos que passou naquele segundo andar, das meninas pequenas correndo pelo corredor a chamando de mãe preta...

De repente se detém frente ao quarto do casal e recorda-se do senhor Samuel a possuindo, a abrigando a dizer que o amava e que sentia asco por Leôncio. Na mente doentia de Samuel, quando obrigava a negra dizer que o amava, aquilo se tornava realidade, com isso, o amor da negra era somente seu e o negro Leôncio perdia a guerra para o seu senhor e dono.

Beatriz percebe que sua amiga se deteve frente a porta do quarto e por alguns instantes se manteve com o olhar parado e vazio. Olha para o rosto dela e coloca a mão sobre seu ombro e diz com sua voz meiga:

- Sei que passastes momentos terríveis nesse quarto, você sendo humilhado do lado de dentro e eu, eu sendo humilhada do lado de fora, nos duas perdemos a dignidade para Samuel. Eu suportando o descaso e o desamor, você, sendo obrigada a ceder por medo e submissão. Nos duas perdemos a dignidade.

- Tenho tanto medo de ter perdido Leôncio também. Não sei como ele reagirá quando ver Gabriel, ver que o menino não é seu filho...

Não sei se haverá perdão para mim.

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