Empatia
Capitulo 77
Capital...
São oito horas da manhã e a capital do Império está em polvorosa, o centro da cidade mais parece um formigueiro de formigas cortadeiras, por todos os lados que se olhe há mulheres negras com tabuleiros de doces e salgados sobre suas cabeças, outras, com trouxas de roupas para serem lavadas em locais distantes dali. Homens negros oferecem os mais variados tipos de trabalho, alguns concertam sapatos, outros, serviços de carpintaria, carregadores, vendedores de qualquer coisa...
O comercio está com suas grandes portas abertas clamando por clientes, nas ruas centrais do grande Rio de Janeiro há uma mistura de sofisticação e miséria, enquanto nas calçadas, pedintes imploram por alguns vinténs, por todo o comercio, cavalheiros e madames desfilam suas roupas caras e carruagens de luxo pelas ruas movimentadas. A burguesia não faz caso do sofrimento do populacho, pois a classe abastada não sofreu avarias com a libertação dos escravos, pelo contrario, contrataram serviçais que trabalham com mais disposição que os escravos, tendo em vista que não são obrigados a fazerem o trabalho por medo ou imposição. Enquanto os escravos saíram sem nem um níquel se quer, a não ser suas liberdades; os trabalhadores assalariados recebem um salario miserável, todavia, lhes é melhor que o nada que recebiam os escravos.
As doutoras, Aurélia e Leticia vivem engajadas na luta pela saúde e o bem estar dos negros e pobres, além de atenderem os enfermos em seu consultório, senhoras da sociedade em seus domicílios, ainda estão participando de atendimentos solidários na Santa Casa de Misericórdia "Hospital renomado do Rio de Janeiro" duas vezes por semana elas atendem mulheres com enfermidades intimas, muitas delas com doenças sexualmente transmissíveis, mulheres negras , pobres e prostitutas que não tem dinheiro para pagar uma consulta medica e por isso, muitas vezes, tem seu estado e condições agravados.
O dia amanhece garoando... o chuvisqueiro fino juntamente com o dia nublado faz Aurelia sentir o desejo de tirar o dia de folga, mas se não fosse atender ao publico desfavorecido, muitas mulheres agravariam seus casos de enfermidade.
- Confesso que gostaria de ficar em casa embaixo dos cobertores e descansar.
- Aurélia, faço a mesma confissão. A cama me chama, porem, as minhas pacientes também me chamam.
- As minhas também!
- Então, nada de descanso!
- Imagino que nosso descanso, virá com a morte.
- Com a nossa?
- Sim!
- Aurélia, minha querida prima. Vamos fugir para à fazenda de nossos pais e esquecermos esse negocio de medicina.
- É deveras uma excelente ideia, se não fosse a família toda jogando em nossa cara: _ não falei! Não disse, essa coisa de medicina para mulheres... não disse!
As duas doutoras sorriem e Leticia diz:
- Pensando bem, vamos atender nossos pacientes, eles são uns verdadeiros anjos perante o julgamento de nossas famílias, pior que esse julgamento, só o julgamento final!
- Não suportaria, estou exausta! Mas fizemos um juramento de salvarmos vidas, então...
- Salvamos todas, menos a nossa própria.
- Deveras, prima.
E sorriem delas mesmas, pois não há como fugir da responsabilidade e do juramento Hipócrates.
Elas tomam o café da manhã e vão para o hospital.
No trem.
O trem está chegando à estação da capital, doutor José Jerônimo grita de sua cabine, chamando o bilheteiro:

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Espinhos da Liberdade
Historical FictionApós a abolição da escravidão, muitos escravos libertos se viram sem rumo, sem perspectiva. Saíram sem nada, a não ser, suas vidas errantes pelos caminhos desconhecidos do destino. A liberdade tão sonhada, transformou-se em espinhos. Uma nova, velha...