Sempre em frente

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Sempre em frente

Capitulo 64

Todos precisam de um objetivo para que a vida faça sentido, um foco, um alvo

Sem o qual, a caminhada se torna uma perambulação incerta e sem direção.

A humanidade tem a necessidade de se agarrar a um desejo, a um designo a ser perseguido a famosa luz ao final do túnel.

Ás vezes, seguindo em frente, às vezes retrocedendo, porém, jamais esquecendo o projeto a ser cumprido. Alcançar os objetivos, sejam eles quais forem.

Leôncio caminha pensativo pelas estradas cobertas pela lama que a chuva torrencial e passageira que acaba de cessar, deixando seu rastro úmido e frio.

_ O que farei sem meu amigo Miro? Preciso ser forte... minha amada Ayana, vou encontra-la mesmo que seja no fim da vida, ou no fim do mundo! Aquele maldito Samuel não vai conseguir tirar você de mim, não vai!

E continua caminhando até chegar a uma pousada no final da tarde.

A fome e o cansaço são companheiros do negro

Fazenda Esmeralda...

O cavalo caminha trotando ligeiro.

Já se pode ver a porteira tão conhecida por Ayana, ela teme que seja reconhecida por Castilho que a viu a poucos dias na vila... vira as rédeas do animal e trota beirando a cerca de arame farpado, logo atrás da casa grande a uma porteira pequena que sempre está destrancada, lugar onde os antigos escravos usavam para irem para a lida. Ela olha e não vê ninguém, nem um rosto conhecido ou desconhecido os arredores da casa grande está silencioso. A negra amarra o cavalo embaixo de uma arvore e caminha lentamente para a porta da cozinha, olha para o interior que está vazio, adentra e segue para a sala. Da porta que liga os dois cômodos vê dona Beatriz assentada na poltrona com um bastidor em suas mãos, ao seu lado está a filha mais velha tentando copiar o mesmo bordado feito delicadamente por sua mãe.

- Sinhá Beatriz! Diz Ayana com os olhos cheios de lagrimas por rever sua amiga.

Beatriz se assusta e se levanta de supetão, olha para a porta e vê a negra com os olhos vertendo lagrimas.

- Ayana, Ayana! Que saudades de você! Mas como? Pensei que estavas longe daqui.

Me dê cá um abraço minha amiga.

As duas mulheres sorriem e choram ao mesmo tempo e a garota que amava sua mãe preta, pois Ayana havia amamentado Safira durante sua primeira infância.

- Mãe preta você voltou?! E correu para o abraço coletivo. Ao ouvirem os gritos de alegria as outras duas meninas desceram as escadas correndo.

- Mãe preta, mãe preta! E os sorrisos e a festa durou por longos instantes.

Após a alegria Beatriz convida Ayana para se assentar.

- Conte-me o que está havendo com você? Soube que você colocou seu filho na roda dos enjeitados e que havia ido para a capital...

- Não, jamais deixaria meu filho! Nunca isso me passou pela cabeça.

- Castilho a viu na vila e o doidinho disse que viu você colocar seu filho na roda.

- Realmente fui levar uma criança até lá, todavia não era o Gabriel.

- Gabriel é o nome de seu filho?

- Sim, disse a você que ele se chamaria Gabriel...

- Recordo-me disso. Se chamaria Gabriel se fosse filho...

Meninas, vão para o quarto brincar e me deixem com Ayana. Temos assuntos de adulto para tratarmos.

- Sim, mamãe!

E as garotas sobem para seus quartos.

- Ele não é filho do Leôncio?

- Infelizmente, não.

O garoto nasceu branco feito o pai e é a cara dele, não há como negar, por favor, nunca conte nada para o senhor Samuel, temo pela vida de meu filho.

- Ele não terá a coragem de matar seu único filho homem, além do mais, eu penso que não mais poderei ter filhos.

- Não diga tal coisa, você é uma mulher jovem terá vários filhos...

- Sinto asco por Samuel! Peco a Deus todos os dias que ele não me toque nunca mais, nunca mais! Ele está cada dia mais louco eu estava gravida e ele matou nosso filho...

- Meu Deus! Pobre amiga Beatriz, ele continua sendo o mesmo assassino de sempre.

Mas, eu vim aqui pois sabia que ele não estava.

Sei que ele foi procurar Leôncio. Preciso que me diga se sabes para onde ele foi, se ele sabe o paradeiro do Leôncio?

- Samuel não sabe de nada, apenas vive pelo desejo de pôr fim a vida do pobre Leôncio, isso virou uma obsessão sem fim. Peço a Deus que ele morra durante essa procura e nos dê a liberdade, somente com sua morte eu, você e o Leôncio estaremos livres daquele monstro.

- Deus te ouça e nos dê liberdade...

Capital...

A luta continua acirrada em todo território brasileiro

Às ruas das cidades estão abarrotadas de negros, famílias inteiras de ex-escravos vivem à mercê da fome e do descaso em situação precária muito abaixo da linha da miséria.

No campo a vida não é diferente, senhores se aproveitam da fome e da insegurança para manterem os negros reféns de sua condição de inferioridade. Os negros muitas vezes são mantidos trabalhando em regime de escravidão disfarçada, pois seus senhores os cativam de outras maneiras que levam ao mesmo resultado, apenas mudando de nome.

Não são poucos aqueles que lutam contra esse tipo de cativeiro, contra as condições adversas que muitos negros são submetidos em certas fazendas.

A baronesa Octaviana, o doutor Jose Jerônimo juntamente com as medicas suas sobrinhas e seus noivos vêm lutando contra todo tipo de escravidão disfarçada de liberdade, distribuem seu tempo entre o trabalho e a ajuda humanitária para tal causa.

Os negros, os pobres e os estrangeiros são assistidos por todos eles e por vários outros profissionais que dedicam-se e ajudar sem pedir nada em troca.

A tarde vem decaindo quando adentra o escritório de advocacia "Isonomia" um casal de negros.

- Boa tarde, sou o doutor Rodolfo. Sente-se aqui, por favor. Diga-me em que podemos lhes ajudar?

- Não temos para quem pedir ajuda, ai, um amigo mandou agente vir pedir ajuda para os doutores.

- Me diga, o que está acontecendo?

- minha nega e eu éramos escravos de eito na fazenda Renascença até que chegou a liberdade, o nhonhô Murilo Gonçalves não deixou nos saímos e buscar nosso caminho...

Ele continuou nos prendendo na senzala e nos açoitando, vivíamos sobre ameaça de morte e castigo. Dizia ele que tínhamos que pagar todas as despesas que demos durante nossas vidas, mais quanto mais trabalhávamos, mais as despesas cresciam. Por fim, ele pegou nossos filhos dizendo que adotou eles e que nós poderíamos sair se eles ficassem.

Ele os mantem presos na fazenda e não deixa nos ver eles.

- Diga-me senhor Laerte, como vocês saíram da fazenda?

- uma tarde de domingo, a guarda passou lá procurando uns negros que roubaram uma fazenda vizinha, eu aproveitei e falei pro capitão que nós queríamos sair de lá, que nos era escravos, ai ele nos trouxe para a capital...

O maldito tinha a guarda do nossos filhos e eles ficaram lá.

- Por favor, quero meus meninos de volta. Disse a negra com os olhos cheios de lagrimas e com o peito carregado de soluços.

E assim, os advogados pegam mais uma causa em favor de dois negros sem esperança.

Maria Boaventura.

Espinhos da LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora